O enigma Gilberto Freyre vira livro da Cepe Editora
A obra trata de assuntos e aspectos da trajetória do sociólogo, como suas posições políticas e o envolvimento na gestão cultural
A historiadora Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke é enfática quanto a Gilberto Freyre. Para ela, o sociólogo pernambucano (1900-1987) continua vivo. E justifica: muitas de suas ideias, ligadas a questões como ecologia, racismo, multiculturalismo, patrimônio cultural e homossexualidade, não perderam relevência com o tempo e seguem “provocando controvérsias apaixonadas, admiração e até fúria”. O argumento está no ensaio que a pesquisadora assina em O enigma Gilberto Freyre - Ensaios de imersão, livro a ser lançado pela Cepe Editora neste sábado (17), às 16h, no Museu do Estado de Pernambuco (MEPE), nas Graças, bairro da Zona Norte do Recife.
Com nove ensaios de diferentes autores, o livro, de 240 páginas, é uma forma de mergulhar um pouco mais na complexidade da obra de Freyre. De acordo com os organizadores da obra, Josias de Paula Jr. e Roberto Azoubel, os ensaios “tratam de assuntos e aspectos vários do pensamento freyreano, com graduações também distintas de concordância ou discordância em relação ao autor de Casa-grande & senzala”. Entre os assuntos e aspectos abordados, os textos enveredam pelos caminhos do sociólogo na política, na gestão cultural, na relação com editores.
Os estudos mostram que as contribuições de Freyre ocorreram em várias áreas. Além do campo das ideias, por exemplo, apoiou a política de preservação da herança cultural do país e de, forma indireta, articulou durante a Era Vargas um novo sentido de luso-brasilidade, que veio a ser chamado de luso-tropicalismo e permitiu ao governo de Getúlio Vargas “encontrar valor na herança cultural lusa”.
Maria Lúcia, pesquisadora associada do Centre of Latin American Studies da University of Cambridge, assina a mão direita e a mão esquerda de Gilberto Freyre, no qual analisa o lado político do sociólogo, inicialmente de ideias mais próximas à esquerda e até acusado de ser comunista e que, com o passar do tempo, se aproxima da direita. A pesquisadora relembra que o pernambucano chegou a defender o regime civil-militar instaurado em 1964 no Brasil. Mas, em 1981, declara que “1964 foi uma grande revolução fracassada”, comparável ao “totalitarismo soviético” e “sucumbido às pressões dos tecnocratas econômicos.”
Das contribuições freyreanas, a teoria sobre a miscigenação de raças e culturas como definidora da identidade brasileira aparece em mais de um dos nove ensaios do livro. Alfredo Cesar Melo, professor de teoria literária na Unicamp (SP), afirma que, ao descrever “a antiga civilização do açúcar”, o sociólogo fala na existência de problemas sociais, políticos e ecológicos, mas ressalta que é da contradição do senhorio e da escravidão, que nasce “uma cultura vibrante e exemplar”.
Serviço
Lançamento do livro O enigma Gilberto Freyre: Ensaios de imersão
Quando: sábado (17), às 16 horas
Onde: Museu do Estado de Pernambuco (MEPE). Avenida Rui Barbosa, 960, Graças, no Recife
Entrada franca