Messi, a esperada coroação do camisa 10 da Argentina chega ao fim
A Copa, que escapou por pouco há oito anos na final do Mundial do Brasil-2014, finalmente chegou às suas mãos para alívio não só dele, mas de um exército de milhões
"Mas não ganhou uma Copa do Mundo"... a frase para evitar colocar Lionel Messi no mesmo nível de Pelé e Diego Maradona deixou de valer neste domingo no Catar, onde 'La Pulga' se tornou uma lenda ainda maior ao conquistar o troféu que lhe faltava para sua galeria lotada de taças.
A Copa do Mundo, que escapou por pouco há oito anos na final do Mundial do Brasil-2014, finalmente chegou às suas mãos para alívio não só dele, mas de um exército de milhões que torceu como nunca para ver de volta ao topo do futebol mundial aquele que consideram o melhor jogador da história.
Nessa que será "com certeza" sua quinta e última participação em Copas do Mundo, um rapaz tímido por natureza, que até abre mãos dos holofotes da fama, virou o centro das atenções do terceiro título argentino (após os conquistados em 1978 e 1986), e no freio ao domínio europeu, cujas seleções venceram entre 2006 e 2018.
Um paradoxo e tanto contra o continente que o acolheu desde criança e que tentou seduzi-lo, em nome da Espanha, aonde chegou com 13 anos, para se tornar o maior destaque do seu futebol.Essa distância física no início de sua carreira o distanciou de muitos de seus compatriotas, marcados pela memória de Diego.
Mas basta ouvir seu sotaque e vê-lo bebendo chimarrão para esclarecer qualquer dúvida sobre sua lealdade à Argentina, país onde seu clube Newell's Old Boys e outros não pagaram seu tratamento hormonal para levá-lo a ter os atuais 1,70 metros de altura.
- "Mais líder do que nunca" -
Aos 35 anos, foi "mais líder do que nunca" da Albiceleste, nas palavras do ex-capitão argentino Javier Zanetti, numa altura em que a sua tenaz explosão, um dos seus pontos fortes no auge da juventude, deu lugar a um camisa 10 mais cerebral e digno maestro de orquestra.
"Messi sempre deu grandes coisas aos torcedores argentinos desde que começou a jogar. Ele é nosso capitão, nosso líder, nossa referência. Ele merece tudo o que está vivendo", disse 'El Pupi' em Doha.
No Catar, encarou o técnico da Holanda, Louis Van Gaal, e alguns jogadores da 'Oranje' que, segundo ele, desrespeitaram a Argentina nas quartas de final. Sua influência chegou a tal ponto que seus companheiros não entram em campo para o aquecimento sem que ele esteja à frente do elenco.
As constantes comparações, principalmente em sua terra natal, com Maradona começaram a diminuir quando ele venceu o Brasil na final da Copa América de 2021, em pleno Maracanã. Aquele triunfo, que comemorou levando as mãos ao rosto, escondendo um choro contido após as derrotas nas finais dos torneios americanos de 2007, 2015 e 2016 e da Copa do Mundo de 2014, o consagrou como capitão após anos deixando para outros a função de líder da equipe.
E as canções com seu nome e as tatuagens com seu rosto entraram na paisagem argentina, até então monopolizada por 'El Pibe de Oro'. "Estou gostando muito e felizmente posso ajudar o grupo a fazer as coisas funcionarem", disse o jogador da cidade de Rosario após vencer a Croácia nas semifinais.
- O prêmio que faltava -
A vitória no templo do futebol no Rio de Janeiro, o primeiro título da seleção argentina principal em 28 anos, contagiou sua equipe com o brilhantismo que acompanhou sua vitoriosa carreira, condecorada com sete Bolas de Ouro e impulsionada pela escola de formação do Barcelona, a renomada La Masía.
No Barça foi meia-atacante de uma equipe cujo futebol conquistou o planeta: o 'Dream team' de Pep Guardiola, onde demolia adversários ao lado de Xavi, Andrés Iniesta, Carles Puyol e Sergio Busquets.
Como 'culé', ganhou quatro Ligas dos Campeões, dez Ligas de Espanha, três Mundiais de Clubes... até que em 2021 se divorciou do clube da sua vida para se juntar ao Paris Saint-Germain.
Com os parisienses, teve uma primeira temporada mediana, com dificuldade de adaptação, embora ainda tenha conquistado o campeonato francês.
No prelúdio da Copa do Mundo, mostrou que seu talento segue intacto. Messi contou com a companhia, como sempre, de sua esposa Antonela Roccuzzo e de seus filhos Thiago, Mateo e Ciro para chegar ao ápice em seu grande torneio.
E ele atendeu a todos, assim como a toda a Argentina e aos milhões ao redor do mundo, inclusive até torcedores do arquirrival Brasil, que sonhavam com a coroação do camisa 10.
"Passamos por momentos difíceis, momentos muito bons", disse ele antes da final contra a França. "Hoje é a vez de viver algo espetacular."