Sérgio Cabral ficará em apartamento com vista privilegiada para o mar
Novo endereço do ex-governador é dez vezes maior do que a cela em que ele estava até o início desta segunda
O ex-governador Sérgio Cabral deixa nesta segunda-feira (19) o Batalhão Especial Prisional (BEP), da Polícia Militar, em Niterói, depois de seis anos na cadeia. Ele troca uma cela de cerca de oito metros quadrados por um apartamento em Copacabana de 80 metros quadrados, ou seja, 10 vezes maior, e com vista privilegiada para a praia. Além disso, a segurança no entorno está garantida, não só pela segurança pública reforçada de um bairro turístico, mas como também pelas proximidades de um forte do Exército. Ainda que o novo endereço de Cabral seja bem mais mais confortável do que a o anterior, não se compara ao luxuoso apartamento na Rua Aristides Espinola, na quadríssima do Leblon, onde foi preso, em 2016.
Embora o endereço antigo não tenha vista para o mar, o imóvel era muito cobiçado por investigados da Lava-Jato. Com apenas cinco andares, sendo um apartamento por pavimento, cada unidade do edifício Venâncio V tem 400 metros quadrados e o condomínio beira os dois dígitos. Foi lá também que a ex-esposa de Cabral Adriana Ancelmo cumpriu parte da prisão domiciliar, antes de se mudar para a Lagoa.
Enquanto aguarda a expedição do alvará de soltura pela 13ª Vara Federal da Seção Judiciária do Paraná, o ex-governador ocupa a ala dos oficiais da Polícia Militar. Trata-se de um corredor com três celas de cada lado, com uma pequena copa coletiva. Cada uma tem banheiro com pia, chuveiro e vaso sanitário. Desde que soube, na última sexta-feira, que a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria, por três a dois, e revogou sua prisão, Cabral já arrumou seus pertences para deixar a unidade. Como o julgamento no plenário virtual terminou às 23h59, o ofício só segue hoje para a Justiça de Curitiba, que expedirirá o alvará de soltura do preso.
Além da prisão domiciliar com o monitoramento de tornozeleira, desembargadores federais do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) ainda proibiram o réu de ter contato com investigados e testemunhas dos processos, ou seja, ex-secretários como Hudson Braga (Obras), Wilson Carlos (Governo), Sérgio Côrtes (Saúde) não podem visitá-lo no novo apartamento. Nem sequer por telefone ou videochamada por computador.
— Ele não pode se comunicar com qualquer investigado ou testemunha de qualquer processo. Essa será a primeira orientação que darei para ele — explicou o advogado Daniel Bialski, que defende Cabral. — Na prisão domiciliar, ele tem direito de usar a internet, mas nos processos que estão em andamento, até por recomendação da defesa, ele não vai ter contato com ninguém, apenas com seus familiares. Até porque o que o governador mais quer é voltar para a sua família e superar esse excesso cometido contra ele — comentou Bialski.
Ao contrário dos demais réus da Lava-Jato, Cabral será o último a deixar o presídio. Ele se encontrava preso desde 17 de novembro de 2016. Sua ex-mulher Adriana Ancelmo saiu em março de 2017, por ter se beneficiado de uma lei que autoriza mulheres presas, preventivamente, com filhos de até 12 anos, a ficarem em prisão domiciliar. Na época, a ex-primeira dama tinha filhos de 11 e 14 anos. Apesar do envolvimento de Ancelmo, o advogado de Cabral informou que ela é a única que poderá visitá-lo entre os investigados, uma vez que ambos têm filhos em comum.
O ex-governador responde a 24 ações penais, sendo 23 deles só no âmbito da extinta Lava-Jato, criada para investigar um superesquema de corrupção dentro do governo do estado do Rio, com pagamento de propinas por parte de empresários de vários setores. Com penas que, somadas, resultam em 436 anos e nove meses de condenação, Cabral vem recorrendo em todos os processos e, aos poucos, derrubou cada mandando de prisão contra ele.