Greve de tripulantes atrasa mais de 150 voos em Rio e São Paulo nesta segunda-feira (19)
Justiça determinou que 90% do efetivo mantivesse suas funções
Pilotos e comissários entraram em greve nesta segunda-feira (19), com a paralisação de atividades de parte da categoria em aeroportos de oito cidades brasileiras. Até o início da noite, foram registrados mais de 150 voos atrasados e 35 cancelados por causa da interrupção. O aeroporto de Congonhas foi o que mais impactado, com 82 voos fora do horário e 19 suspensos.
Considerando todas as partidas e chegadas, pelo menos 13 aeroportos foram afetados, entre eles, o de Recife, Fortaleza e Porto Alegre.
No Rio, o aeroporto que fica próximo ao Centro da cidade, o Santos Dumont, teve 21 atrasos e 13 cancelamos, segundo a Infraero. Na capital federal, 24 decolagens e 16 pousos não cumpriram os horários.
A paralisação ocorreu em aeródromos de São Paulo, Guarulhos, Campinas, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Brasília e Fortaleza, das 6h às 8h. Por decisão cautelar (provisória) do Tribunal Superior do Trabalho (TST), proferida na última sexta-feira, 90% dos trabalhadores tiveram que manter suas funções no período de greve. A multa diária em caso de descumprimento foi fixada em R$ 200 mil.
A greve teve efeitos pequenos no início desta segunda-feira. Em Congonhas, por volta das 7h, havia quatro voos com atrasos: os 4032 e 4106, da Azul, com destino ao aeroporto de Santos Dumont e Belo Horizonte, respectivamente; além dos voos 1444 e o 1300, da Gol, com destino a Brasília e à capital mineira.
Antes disso, atrasaram voos também para Vitória e Recife. Não havia filas nem tumulto nas áreas de check-in. No saguão do aeroporto, um grupo de tripulantes fez um pequeno protesto a favor das reivindicações da categoria.
No Santos Dumont, até 8h, havia dois voos cancelados, o 4645, da Azul, com destino a Guarulhos, e o 2054, da Gol, para Confins. Já os voos em atraso eram três: o 2024, da Gol, para Campinas; o 4031, da Azul, e o 1011, da Gol, ambos para São Paulo.
Reposição salarial
O Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), que representa a categoria em greve, reivindica a reposição salarial pela inflação, medida pelo INPC, mais 5% de aumento real.
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O TST media as negociações da campanha salarial da categoria, cuja data-base é dezembro. As conversas, segundo o Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (SNE), tiveram início em outubro. De lá para cá, foram apresentadas três propostas das empresas, todas recusadas pela categoria. A mais recente delas foi votada no último domingo e prometia reposição inflacionária e mais 0,5% de aumento real. O texto foi rejeitado por 76,43% da categoria.
Atualmente, o piso salarial de um comissário de voo é de R$ 2.277,43. Já o de um piloto de avião comercial é de R$ 9.400.
Além do reajuste salarial, o SNA pede que sejam respeitados os dias de folga dos tripulantes.
— A maneira pela qual a greve foi organizada respeita a decisão do TST. A operação está mantida e todos os tripulantes estão em serviço neste momento. A categoria passou por perdas nos últimos dois anos em meio à pandemia enquanto as empresas aéreas já têm números superiores aos de 2019, com querosene subsidiado pelos governos, e aumentaram o preço das passagens — diz Henrique Hacklaender, presidente do sindicato.
Ele diz que, embora a reivindicação de aumento salarial esteja em 5%, a categoria “espera algum tipo de composição (negociação)” com as linhas aéreas. Para ele, o respeito às folgas, por outro lado, é imprescindível.
— Os tripulantes muitas vezes não têm o horário das suas folgas definido e, quando têm, essas folgas são alteradas com frequência. Ninguém quer ver o tripulante operando cansado e mal remunerado. Na última proposta, as empresas incluíram uma cláusula sobre venda de folgas, na contramão do que queremos — afirma ele.
Na sexta-feira, as empresas aéreas entraram com processo de dissídio para tentar barrar a greve de pilotos e comissários, que coincidiu com a alta temporada de viagens de fim de ano.
Tempo de descanso
Hoje, a rotina de um piloto é composta por 12 horas seguidas de trabalho. O restante do tempo, que deveria ser dedicado ao descanso, engloba o deslocamento dos funcionários até os hotéis e, depois, a volta para o aeroporto.
Segundo Leonardo Souza, diretor de Assuntos Previdenciários do Sindicato, após o Regulamento Brasileiro da Aviação Civil (RBAC-117), as tripulações passaram a ser “otimizadas ao extremo”, gerando estafa entre os trabalhadores.
— O mínimo que temos que ter são 12 horas de repouso entre uma jornada e outra. Agora, elas já contam o deslocamento do aeroporto para o hotel e depois a volta. Tem localidades que as empresas estão colocando a gente para sair 1h30 antes da decolagem. Então, efetivamente, o tempo de hotel entre check-in e check-out não tem nem dez horas — afirmou.
Atrasos em Guarulhos e no Galeão
A GRU Airport, concessionária que administra o Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, informou que, devido à paralisação dos aeronautas na manhã desta segunda-feira, dez voos atrasaram. Não houve cancelamentos.
No Galeão, foram três voos atrasados até pouco antes das 8h, com destino a Recife, Fortaleza e Porto Seguro, todos da Gol.
Impactos pontuais
Em nota encaminhada à equipe de reportagem, a Latam informou que a paralisação gerou "apenas alguns impactos pontuais em alguns voos" ao longo das primeiras horas desta segunda-feira.
"Os passageiros com voos afetados pela greve desta segunda-feira poderão remarcar gratuitamente os seus voos ou, em caso de desistência, solicitar o reembolso dos seus bilhetes. Em paralelo, passageiros afetados por atrasos receberão todas as assistências materiais previstas pela legislação em vigor", informou a companhia aérea.
A Azul não comentou sobre a paralisação. A Gol ainda não retornou os pedidos da reportagem.