"Somos seres humanos!": a luta dos venezuelanos na fronteira com os EUA
Crise na nação caribenha governada por Nicolás Maduro levou milhões de venezuelanos a deixar o país
Devastados e frustrados, centenas de venezuelanos na fronteira mexicana lamentaram a decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos na segunda-feira (19) de manter as restrições migratórias no sul do país.
"É uma grande tristeza saber que não podemos passar", afirmou Edward Acevedo, de 41 anos, em frente ao muro que separa Ciudad Juárez, no México, de El Paso, nos Estados Unidos.
"Passamos pela floresta, com fome e frio. [Há] muitas calamidades", acrescentou o homem que dorme com dezenas de compatriotas em um abrigo improvisado na casa de um pastor em Juárez.
"Somos seres humanos! Somos de carne e osso! Como explicar isso a juízes e governadores?", denunciou Juan Delgado, de 38 anos, vestindo apenas um suéter que mal o protege do frio impiedoso de quase 0ºC.
A crise na nação caribenha governada por Nicolás Maduro levou milhões de venezuelanos a deixar o país. Nos últimos meses, milhares de pessoas enfrentaram a floresta de Darien e atravessaram vários países da América Central em condições precárias para bater às portas dos Estados Unidos em busca de asilo.
Com o aumento do fluxo, Washington lançou um programa humanitário em outubro com 24 mil vagas oferecidas a venezuelanos que se inscreveram em seu próprio país. Paralelamente, e em uma tentativa de cortar a cadeia migratória, os Estados Unidos impediram seu acesso através da sua fronteira sul, com o respaldo do Título 42, medida sanitária em vigor desde 2020 no quadro da pandemia de Covid-19.
Milhares, no meio do caminho, não desistiram. Voltar, muitos repetem, não é uma opção.
"Somos os esquecidos"
As condições em que os venezuelanos vivem no México servem de referência para o nível de desespero. Eles se aquecem nas fogueiras dos lixões, lavam-se onde e como podem, e muitos dormem nas ruas.
Com filas de migrantes de outras nacionalidades que se estendem por horas nos portões dos Estados Unidos e às margens das águas frias do Rio Grande, os venezuelanos vendem cobertores, luvas e pedaços de pizza.
Atravessam o rio com crianças nos ombros e acendem fogueiras em troca de gorjetas que somam mais de um mês de trabalho por dia em seu país.
Mas, depois que a noite aperta, a maioria se recolhe. "As pessoas dos cartéis nos param", conta um venezuelano, que diz ter perdido o rastro de alguns de seus companheiros do abrigo. "Alguns nunca mais voltam".
"Quando não são os cartéis, é a migração, esses são piores", disse o mesmo homem, que não quis se identificar por medo de represálias.
"Nós denunciamos e nada, nós somos os esquecidos, ninguém nos quer. Atrapalhamos aonde vamos", lamentou.
Esse desespero, dizem alguns, é o que os motiva a invadir ilegalmente pequenas brechas ao longo da cerca de 9 metros de altura dos Estados Unidos.
"Eles não vão nos deixar entrar e não posso esperar mais", disse um venezuelano que atravessou um pequeno buraco, no qual seu corpo mal cabia.