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De olho em 2024, Paes leva para o PSD deputado aliado de Castro

Max Lemos, eleito pelo PROS à Câmara, foi secretário estadual de Obras; prefeito do Rio busca ampliar força na Baixada e interior do estado

Eduardo Paes (MDB) foi eleito prefeito do Rio de Janeiro - Divulgação / Assessoria de Eduardo Paes

Em uma articulação do prefeito do Rio, Eduardo Paes, o PSD encaminhou a filiação do deputado estadual Max Lemos (PROS), que assumirá uma cadeira de deputado federal em 2023. Lemos foi secretário estadual de Obras na gestão do governador Cláudio Castro (PL), e seu grupo político deve desembarcar do governo nos próximos dias. Com a mudança, o PSD passará de 42 para 43 deputados federais, ultrapassando o MDB e se tornando a quinta maior bancada da Câmara. Já em 2024, Paes deverá ser candidato à reeleição à prefeitura do Rio, provavelmente enfrentando um adversário apoiado por Cláudio Castro.

O convite a Lemos para se filiar ao PSD foi feito pelo presidente nacional da legenda, Gilberto Kassab. Na Câmara, o parlamentar integrará a base aliada do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O PSD negocia atualmente ficar com dois ministérios na próxima gestão. Durante a campanha eleitoral deste ano, Lemos, aliado de Castro, já não seguiu as diretrizes do grupo do governador, que apoiou a reeleição de Jair Bolsonaro. O deputado também não pediu votos para o presidente.

"Todos sabem que sou um político de centro e, em respeito ao governador, não pedi votos para o presidente Lula durante a campanha. Mas também não fiz campanha pela reeleição de Bolsonaro" diz Lemos, ao confirmar a filiação ao PSD. - Farei parte de um projeto do partido tanto nacionalmente quanto para o Estado do Rio. Anteriormente, ajudei o MDB a crescer na Baixada Fluminense e no interior do estado. Farei o mesmo pelo PSD.

Denunciado no caso Ceperj
Aliado próximo de Castro e alvo, junto ao governador e a integrantes do primeiro escalão do governo, de uma denúncia do Ministério Público (MP) Eleitoral por utilização indevida de verbas do Ceperj para fins eleitorais, Max Lemos ocupou um cargo-chave na atual gestão. A secretaria de Obras abrigou um dos chamarizes do governo Castro, o Pacto RJ, que prevê investimentos de R$ 17 bilhões até 2024 em projetos de grande porte que incluem mobilidade urbana e construção de moradias, em diversas regiões do estado. Max e seu grupo deixarão o governo, e a pasta será entregue com "porteira fechada", sem a permanência de indicados.

A mudança de partido e o desembarque do governo ocorrem em meio a dificuldades de Castro para contemplar siglas aliadas em seu secretariado, e também envolvem movimentações de Paes de olho nas eleições de 2024 e 2026. Paes, que tem buscado assegurar o apoio do presidente eleito Lula (PT) para a sua reeleição, endossou um movimento do PSD para emplacar o deputado federal Pedro Paulo, seu aliado, como ministro do Turismo.

Ao deixar a secretaria de Obras no início deste ano para concorrer a deputado federal, Lemos indicou o sucessor na pasta, Rogério Brandi. Para o próximo mandato, no entanto, Castro tem sinalizado que vai fundir a pasta de Obras a outras secretarias, e o nome tido como mais provável para assumir o posto é o do atual secretário de Cidades, Uruan Cintra, nome indicado pelo próprio governador.

No caso de Lemos, a troca de legenda fora da janela partidária é permitida porque o PROS, que não atingiu a cláusula de barreira, anunciou uma fusão com o Solidariedade. Em situações como essa, a legislação permite que deputados mudem de legenda sem risco de perda de mandato por infidelidade.

Com a filiação de Lemos, que tem reduto eleitoral em Queimados, na Baixada Fluminense, e foi o deputado federal mais votado em parte dos municípios do interior do estado, Paes deve começar a desenhar um arco de candidaturas às prefeituras da Baixada e da Região Metropolitana, construindo uma base política para uma possível disputa pelo governo em 2026. O prefeito do Rio também estreitou diálogo na campanha com outro cacique da Baixada, o prefeito de Belford Roxo, Waguinho (União), que declarou apoio a Lula no segundo turno, em aliança articulada por Paes e pelo atual presidente da Assembleia Legislativa (Alerj), o petista André Ceciliano.

Cargos no Governo Castro
O PSD de Paes, apesar de compor a base de Lula no Congresso e de ser possível adversário do grupo de Castro nas próximas eleições, não vem se posicionando como oposição ao atual governo estadual. Um dos nomes cotados para assumir uma secretaria no próximo mandato é o deputado federal Hugo Leal, aliado de Castro, que permaneceu no PSD após Paes assumir a sigla no Rio em 2021. Leal era presidente regional.

A montagem do secretariado de Castro vem gerando atritos entre partidos que apoiaram sua reeleição. O PL, partido do governador, avançou pelo comando das pastas de Agricultura, Educação e Ciência e Tecnologia -- esta última, no entanto, também é pleiteada pelo União Brasil, que ameaça lançar o deputado estadual Márcio Canella à presidência da Alerj contra o candidato preferido de Castro, Rodrigo Bacellar (PL). Já a pasta da Agricultura foi oferecida ao deputado estadual Jair Bittencourt em um acordo para não enfrentar Bacellar, do mesmo partido, ao comando da Alerj.

Interlocutores de Castro dizem que o governador pode destinar ao União Brasil a pasta de Esportes, cujos titulares no atual governo passaram sempre pelo crivo do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). A relação entre Castro e a família Bolsonaro se desgastou depois da eleição, embora aliados afirmem que o governador contemplaria a base bolsonarista abrindo a pasta da Ciência e Tecnologia para um indicado do deputado estadual Dr. Serginho (PL), que ocupou o posto até o início do ano.

O PP, comandado no Rio pelo deputado federal Dr. Luizinho, deve ficar com as secretarias de Saúde -- o próprio Luizinho é cotado ao cargo -- e de Turismo. Luizinho é tido como possível candidato apoiado por Castro para concorrer à prefeitura do Rio contra Paes em 2024, e deve ter a pasta de Saúde como vitrine para se cacifar à disputa. Outro nome que pode ser lançado na capital é o vice-governador Thiago Pampolha (União), já confirmado por Castro na secretaria estadual de Meio Ambiente. Este posto é encarado como "indicação pessoal" de Castro, e não do partido, que abrigou Pampolha antes das eleições de 2022 a pedido do próprio governador.