Tragédia no Recife

PM atira em mulher grávida, invade batalhão e dispara contra colegas militares no Pina

A Polícia Militar afirmou que apura a ocorrência

19º Batalhão da Polícia Militar de Pernambuco, no Pina - Arthur Mota/Folha de Pernambuco

A cinco dias do Natal e dez do Ano Novo, os pernambucanos acompanham, em choque, as implicações de um crime brutal que tem como ponto de partida, mais uma vez, o ódio de gênero cristalizado na endêmica violência contra as mulheres. Uma tragédia que começou no machismo tão comum dentro dos lares e que se estendeu para o ambiente interno da corporação criada para proteger as pessoas.

Na manhã dessa terça-feira (20), o soldado da Polícia Militar (PM) Guilherme Barros, de 27 anos, foi à casa da sogra no bairro do Malaquias, no Cabo de Santo Agostinho, para matar a tiros a esposa, Claudia Gleice da Silva, 33, enquanto ela dormia. A mulher, que estava grávida de três meses, foi morta antes que pudesse chegar à delegacia no mesmo dia, como tinha planejado, para denunciá-lo por violência.

Como se isso não bastasse, o assassino pegou um carro de aplicativo e se dirigiu até o trabalho, a sede do 19º Batalhão da Polícia Militar (BPM), no bairro do Pina. Lá, ele atirou em quatro colegas antes de morrer, provavelmente, por suicídio. Um deles, o tenente Wagner Souza, morreu na hora.

A major Aline Maria, o cabo Paulo Rebelo e o sargento Maurino Uchoa ficaram feridos, sendo os dois primeiros levados ao Hospital Português, no Paissandu. Aline, que teve um dos pulmões perfurados, foi submetida a uma cirurgia e transferida para a UTI, mas morreu por volta das 20h. Até o fim da noite dessa terça, Rebelo seguia internado na unidade e Uchoa recebeu alta na tarde de ontem.
 


Caso a esclarecer
Os detalhes do crime não foram completamente elucidados. Em nota divulgada na tarde de ontem, a PM limitou-se a dizer que Guilherme, “após atirar na esposa”, atentou contra a vida dos outros policiais e, “logo após, provavelmente, se matou”. 

A corporação afirmou ainda que “de imediato, foi feito o socorro das vítimas e [foram] acionados todos os meios para o atendimento da ocorrência”, citando a Diretoria de Assistência Social, para apoiar os familiares; a Diretoria de Polícia Judiciária Militar, visto que se trata de crime militar; o Instituto de Criminalística; e equipes de saúde, para acompanhar os policiais feridos. Por fim, o texto informa que os fatos ocorridos na sede do Batalhão serão investigados por meio de inquérito na própria Polícia Militar. Já a morte de Claudia Gleice será averiguada pela Polícia Civil.

Por meio de nota, a Secretaria de Defesa Social (SDS) afirmou que atua “de forma integrada” para “dar o suporte aos feridos” e que age na investigação e coleta de elementos para ajudar a “elucidar as circunstâncias e a motivação dessa tragédia”.

IMAGENS FORTES:



Corpos no IML
À tarde, os corpos de Claudia, de Guilherme e do tenente Souza foram encaminhados ao Instituto de Medicina Legal (IML) do Recife, no bairro de Santo Amaro. Pai de Wagner, o sargento da PM Renato Barreto não quis dar entrevista, mas comentou que não sabia muitos detalhes do caso e lembrou que o filho havia acabado de se formar como tenente, em cerimônia realizada na segunda-feira. “O que a gente sabe é que o policial surtou, matou a mulher e atirou nos outros. Ele (Wagner) foi o primeiro a pegar e faleceu na hora”, disse. O enterro de Claudia está marcado para as 16h, no cemitério do Cabo de Santo Agostinho.

Soldado enviou áudio
Enquanto seguia em um carro de aplicativo até o 19º Batalhão da Polícia Militar, Guilherme Barros teria se comunicado com a mãe por meio de mensagem de áudio. Nela, o soldado pede desculpas e diz ter cometido o crime por conta da separação do casal. O arquivo foi divulgado pela TV Guararapes. “Mainha, me perdoa, mainha... Eu matei ela, eu não consegui. Ela ficou com muita frescura, se separou de mim. Eu não aguentei, mainha, eu matei ela. Me desculpa por tudo, por tudo, mas vou me matar. Não agora, lá na frente”, disse.