LUTO

Nélida Piñon será enterrada ao lado do cachorro Gravetinho

Cinzas do pinscher, morto em 2017 aos 11 anos, ainda estão guardadas no escritório da autora e deverão acompanhá-la em seu jazigo no mausoléu da ABL

Foto de: Fernando Frazão/ Agência Brasil

O processo de translado ao Brasil do corpo da escritora brasileira Nélida Piñon, morta no sábado, 17, aos 85 anos em Lisboa, ainda não tem uma data definida. Mas duas coisas são certas: ela será enterrada no mausoléu da Academia Brasileira de Letras, que fica no cemitério São João Batista, Rio de Janeiro. E ficará em companhia do seu amado cachorro Gravetinho, morto aos 11 anos em 2017.

As cinzas do pinscher, que ela tratava como um filho, estão guardadas no escritório de Nélida e devem ser enterradas ao lado do corpo da escritora e o da mãe dela, Olivia Carmen Cuiñas Piñon.

Em Lisboa, onde estava há três meses, Nélida teve um problema de vesícula. Ao ser examinada, descobriu que estava com entupimento dos vasos biliares e precisou fazer uma operação. Segundo amigos, a escritora estava se recuperando bem da cirurgia, mas este sábado, ainda no hospital, sofreu complicações e não resistiu.

Sem filhos, a escritora deixa duas cachorras, a pinscher Suzy, de 13 anos, e a chihuahua Pilara, de 3. Quem ficará com a guarda das duas é Karla Vasconcelos, assistente e responsável de Nélida. A escritora deixou para as cachorras os quatro apartamentos que possuía em um prédio na Lagoa. Os apartamentos não poderão ser vendidos enquanto Suzy e Pilara estiverem vivas.

"Elas sempre foram as donas de fato do lugar", conta Karla. "Elas definiam até o cardápio da casa. Nós comíamos o que elas queriam comer."

Por outro lado, Suzy e Pilara não devem seguir Nélida no São João Batista. Karla já definiu que as cachorras serão enterradas com ela.

Carioca, Nélida Piñon foi a primeira mulher a se tornar presidente da ABL, entre 1996 e 1997. Ela deu seus primeiro passos na Academia em 27 de julho de 1989, quando foi eleita para a cadeira que tem por patrono Pardal Mallet, e da qual foi a quinta ocupante. Ela tomou posse em 3 de maio de 1990, recebida por Lêdo Ivo. Sua obra, que contempla conto, romance, crônica, memória e ensaio, foi traduzida em mais de 30 idiomas.

Em 2019, Nélida dedicou seu livro "Uma furtiva lágrima" ao cão Gravetinho. Sua morte, em 2017, deixou a escritora em uma depressão profunda. Nélida tinha o projeto de escrever um livro dedicado ao pinscher, intitulado “Gravetinho, o Imperador". Em entrevista ao GLOBO, em 2017, ela lembrou o amado animal, que em breve repousará ao seu lado:

"Gravetinho era contemplativo",disse. "Olhava o céu, o firmamento, ficava olhando muito tempo, ele tinha uma sensibilidade especial."