Televisão

Os melhores e piores da teledramaturgia brasileira em 2022

Lista traz os destaques das novelas, séries, elencos e equipes de produção da televisão

Remake da novela Pantanal - Divulgação

A teledramaturgia se revitalizou em 2022. Após um longo período tendo de respeitar protocolos de saúde rigorosos e os altos e baixos das infecções da pandemia, a vacina proporcionou um certo relaxamento e mais liberdade nos estúdios de tevê.

Longas cenas de beijos e aglomerações voltaram a valorizar as histórias e as novelas, carros-chefes da programação, voltaram ao antigo esquema de gravação, com uma frente segura de capítulos e a característica de serem uma obra aberta que pode variar de acordo com a resposta do público.

A lista anual de “Melhores e Piores de TV Press”, feita por editores dos jornais assinantes e pela equipe que produz o conteúdo de “TV Press”, reflete bem esse momento da tevê. Entre alguns erros e muitos acertos, a televisão em 2022 fez valer sua busca por novas e velhas histórias, mas sempre de olho no futuro.

Melhor Novela
“PANTANAL”, DA GLOBO

A Globo tem boas e péssimas experiências com remakes. Por conta do risco que esse tipo de produção envolve, os títulos ficavam restritos aos horários das seis e das sete. A pompa em torno do nome de “Pantanal”, entretanto, quebrou esse paradigma. A aposta da direção de teledramaturgia foi focada em tirar a faixa das 21h da letargia após a repercussão mediana das tramas anteriores. A Globo sentiu que teria de criar uma conexão não apenas com os saudosos que assistiram à versão original da obra de Benedito Ruy Barbosa – exibida em 1990 pela Manchete –, mas também tornar o produto instigante para uma nova geração de telespectadores. A empresa investiu alto na publicidade de todos os detalhes referentes ao remake e a promessa de ser uma superprodução se confirmou.

Apesar de fazer reverência ao trabalho do avô em muitos aspectos, o autor Bruno Luperi fez uma novela aos olhos e dinâmicas do agora. Com grandes atuações de Marcos Palmeira, Murilo Benício, Dira Paes, Jesuíta Barbosa, Alanis Guillen, Isabel Teixeira e Irandhir Santos, entre outros, “Pantanal” foi o sucesso que a Globo esperava e precisava, terminou renovando o fôlego dos remakes e recuperando o prestígio perdido da faixa mais nobre da emissora.

Remake da novela Pantanal. Foto: Divulgação

Pior Novela
“CARA E CORAGEM”, DA GLOBO

O retorno de Claudia Souto ao mesmíssimo horário das sete com a chancela de ter escrito “Pega-Pega”, de 2017, o último grande êxito da faixa, fez de “Cara e Coragem” um confuso segundo ato. Com muita ação, pouca repercussão e sem uma trama realmente envolvente, os capítulos foram recheados de perseguições e piruetas, o que deixou no ar a leve impressão de que a sequência de firulas serviu para esconder a pobreza do texto.

O elenco bem que tentou disfarçar a falta de assunto e dinâmica de seus personagens, mas pesou o fato de os núcleos andarem em círculos. Mesmo fascinante, o universo dos dublês já é, por si só, coadjuvante. Aliado a isso, o enredo sobre sósias também se apresentou confuso e pouco sedutor. Estes fatores dificultaram o envolvimento do público com a história. Mesmo com uma receita quase certeira, aglutinando ação, comédia, bom elenco e a direção inspirada de Natália Grimberg, “Cara e Coragem” esbarrou na completa falta de interesse do telespectador e se tornou uma novela à espera do próprio fim.

Novela Cara e Coragem. Foto: Divulgação

Melhor Série
“RENSGA HITS!”, DO GLOBOPLAY

Muito popularizada no Centro-Oeste do Brasil, em especial no estado de Goiás, a expressão rensga significa o mesmo que adjetivos como incrível e importante. E foi exatamente esse o status que a série “Rensga Hits!” foi ganhando de mansinho no Globoplay. Criação dividida entre a plataforma de streaming e a produtora Glaz Entretenimento, a série se inspirou na indústria da música sertaneja, com foco no trabalho das mulheres e acabou reverberando pelo Brasil um microcosmo profundo e envolvente de um universo em franca expansão.

Com oito episódios e dramaturgia consistente, a série conseguiu ultrapassar a própria bolha, funcionando até para quem torce o nariz para o estilo musical. Para os fãs do gênero, a produção ainda entregou canções feitas pelos principais compositores do sertanejo, mostradas em cenas bem idealizadas e executadas. Por fim, vale destacar o forte elenco feminino formado por Alice Wegmann, Deborah Secco, Fabiana Karla e Lorena Comparato. Com tantos trunfos, além de se destacar em 2022, a série já tem uma nova temporada garantida para o ano que vem.

Série Rensga Hits!. Foto: Divulgação

Melhor Atriz
PALOMA DUARTE, A HELOÍSA DE “ALÉM DA ILUSÃO”, DA GLOBO

Na tevê desde que se entende por gente, Paloma Duarte já mostrou diversas vezes que seu talento independe de suas conexões familiares. Depois de chamar a atenção do público e da crítica em produções dos anos 1990 como “Renascer” e “Terra Nostra”, em meados dos anos 2000, Paloma foi seduzida por um lucrativo contrato com a Record. Na nova emissora, ela até viveu tipos à altura de seu talento em tramas como “Cidadão Brasileiro” e “Vidas em Jogo”, mas foi sumindo do grande público assim como a teledramaturgia de nicho da Record.

Após investir em produções da tevê paga, a atriz voltou à Globo como protagonista adulta da temporada 2019 da extinta “Malhação”, o que representou uma espécie de ensaio para o passo seguinte: a Heloísa de “Além da Ilusão”. Com uma personagem forte e cheia de possibilidades em mãos, Paloma brilhou a ponto de ofuscar os protagonistas em uma novela marcada por bons desempenhos. Definitivamente, o ano de 2022 fez o Brasil lembrar da grande atriz que Paloma é.

Paloma Duarte como Heloísa, em Além da Ilusão. Foto: Divulgação

Melhor Ator
MURILO BENÍCIO, O TENÓRIO DE “PANTANAL”, DA GLOBO

A última década foi de inúmeros êxitos para Murilo Benício. Sempre muito criterioso com a carreira, ele conseguiu equilibrar mocinhos e vilões de forma inteligente, de acordo com suas aspirações artísticas e na tranquilidade de quem já não precisa provar mais nada. Quando parecia não ter mais vontade de provocar o público, Murilo surge na pele de Tenório, o principal antagonista de “Pantanal”.

Com visual cru e totalmente entregue em cena, o ator fez valer sua escalação para viver o fazendeiro machista e sem escrúpulos, que se enxergava como um homem de bem e aterrorizou diversos capítulos do folhetim. Em uma atuação potente e visceral, Murilo mostrou as diversas camadas que podem conter dentro de um vilão bem escrito e disposto a fazer movimentar a ação de uma trama um tanto bucólica. Sem exageros e seus usuais tiques, o ator exibiu não apenas fôlego, mas também disponibilidade de iniciante, em uma performance que se firma como o grande destaque masculino do ano.

Murilo Benício como Tenório, em Pantanal. Foto: Divulgação

Melhor Autor(a)
BRUNO LUPERI, DE “PANTANAL”, DA GLOBO

Por conta do alto investimento, o outrora inexperiente Bruno Luperi dificilmente seria a primeira escolha da Globo como autor titular do remake de “Pantanal”. No entanto, por força da negociação dos direitos autorais com o novelista Benedito Ruy Barbosa, o nome de Bruno, seu neto, era fundamental ao desenvolvimento do projeto.

Com liberdade, mas altas doses de reverência à obra original, Bruno conseguiu atualizar uma trama carregada de valores e impressões datadas de forma criativa e com toques de ousadia dignos de quem tem a confiança do autor original. Profundo conhecedor da obra do avô, o autor introduziu suas ideias sem tanto didatismo ou desfiguração do texto, revelando à Globo que é totalmente viável e lucrativo produzir uma trama rural em pleno 2022. Queridinho do momento e com contrato renovado com a emissora, Bruno saiu do lugar de aposta para se tornar um dos nomes de destaque do hoje enxuto banco de talentos da Globo.

Autor Bruno Lupieri. Foto: Divulgação

Melhor Diretor
JAYME MONJARDIM, DE “PASSAPORTE PARA LIBERDADE”, DA GLOBO

Jayme Monjardim se tornou uma referência em produções de época. Nos últimos tempos, entre um trabalho contemporâneo e outro, é neste tipo de projeto que o diretor concentra suas ambições artísticas, casos de títulos como “O Tempo e o Vento”, “Terra Nostra” e “Tempo de Amar”. Em “Passaporte para Liberdade”, Monjardim não apenas mostrou sua usual assinatura, carregada de closes e contrastes de luz, como exibiu toda sua maturidade como realizador. O projeto marcou uma espécie de resgate do prestígio de Monjardim na Globo, de onde andava meio sumido e sem projetos futuros.

De olho no mercado internacional por conta da temática do holocausto, foi a primeira minissérie produzida totalmente em Inglês e feita em parceria com a Sony Pictures. Jayme, inclusive, já havia passeado pelo tema na irregular “Aquarela do Brasil”, minissérie de 2000, e no sucesso “Olga”, longa de 2004, o que acabou entregando uma visão ainda mais segura ao projeto, tanto na condução do elenco quanto na idealização de cenas mais grandiosas. Aliando experiência e arrojo, Monjardim mostra que ainda tem muito o que mostrar ao público.

Diretor Jayme Monjardim. Foto: Divulgação