áREA ECONÔMICA

Nomeação de Alckmin para Ministério da Indústria e Comércio é elogiada pela iniciativa privada

Entidades empresariais também consideram ser positiva a recriação da pasta

Geraldo Alckmin - Valter Campanato / Agência Brasil

A ida do vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) para o Ministério de Indústria e Comércio foi bem recebido pelas entidades empresariais ligadas ao setor produtivo antes mesmo da nomeação, quando seu nome começou a ser ventilado logo após a recusa por parte do atual presidente da Fiesp, Josué Gomes, em assumir o posto.

A decisão pelo nome de Alckmin ocorre após recusas por parte de importantes nomes do mercado, como o presidente da Fiesp, Josué Gomes, filho do ex-vice-presidente de Lula em gestões anteriores, José Alencar, e Pedro Wongtschowski, do Grupo Ultra, que foram convidados por Lula para comandar a pasta da Indústria, mas não aceitaram.

Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, a escolha de Alckmin como ministro dá peso à pasta.

— Creio que o nome foi uma boa escolha, pois Alckmin sempre foi um homem gentil e de bom diálogo com o setor produtivo. Teremos ainda o fato do ministro ser o vice-presidente da República, o que dá um peso maior em sua colocações. É importante não termos um MDIC fraco — disse Humberto Barbato, presidente da Abinee.

Ele, no entanto, não quis comentar as nomeações de Márcio França (PSB) para o Ministério de Portos e Aeroportos nem a de Luiz Marinho (PT) para o Ministério do Trabalho.

O Brasil passa por um franco processo de desindustrialização há mais de uma década e o setor pede, historicamente, reformas que ampliem a produtividade brasileira de modo a permitir uma eventual reindustrialização.

Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), que reúne 50 grandes grupos empresariais do país, afirma que a escolha do vice-presidente Geraldo Alckmin para comandar a pasta deve favorecer a discussão de estratégias para a reindustrialização.

— É uma boa escolha e sinaliza que a revitalização industrial e o desenvolvimento produtivo reassume uma posição de destaque do governo federal, em alto nível hierárquico. Esta é uma precondição importante para uma estratégia de sucesso — diz ele.

Para a Confederação Nacional das Indústrias (CNI), a recriação do Ministério da Indústria e Comércio e a nomeação de Alckmin para comandá-la “sinalizam para uma condução firme e engajada da pasta pelo fortalecimento do setor produtivo industrial”.

A entidade diz em nota que o novo ministério precisa implementar “uma política industrial moderna, de longo prazo, atenta à transição do Brasil para uma economia de baixo carbono e em sintonia com o que está sendo feito pelas principais economias do mundo”.

O presidente da CNI, Robson Andrade, afirmou em nota que Alckmin “conhece as prioridades da agenda de desenvolvimento do país e da indústria e o que precisa ser feito para reverter o processo precoce de desindustrialização do país. O ministério estará em muito boas mãos. O futuro ministro é um político hábil, com a experiência de ter governado o estado mais industrializado do país e conhecimento do que é necessário para o desenvolvimento e o fortalecimento da indústria”, diz o documento.

A CNI projeta que seja possível aumentar a participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) de 22% para 25% entre três e quatro anos, a depender da política industrial adotada pelo governo.

O presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), José Roberto Tadros, também afirmou em nota que são positivas a recriação do ministério e a nomeação de Geraldo Alckmin.

“Alckim, além de ser um político íntegro, honesto e decente, tem ótima interlocução com os setores produtivos, em especial com os empresários do setor do comércio de bens, serviços e turismo, que representa 75% do PIB”, diz Tadros no documento.

Tadros afirma que o futuro ministro “terá que dispor da autonomia, do poder e dos recursos necessários para fazer frente às necessidades setoriais que deverão incluir prováveis desonerações de impostos, incentivos, acesso a crédito, entre outros”.

No setor portuário, a nomeação do ex-governador Márcio França (PSB) para uma pasta que vai cuidar de portos e aeroportos foi mais controversa. Por um lado, empresários do setor portuário veem a com ressalvas o fato de a área voltar a ser comandada por políticos, em especial em um momento em que a Lei das Estatais passa por uma flexibilização que, na prática, voltaria a permitir o loteamento político de áreas técnicas. Por outro, ressaltam que França conhece o setor e que pode, se quiser, manter um nível alto de governança nas companhias docas que administram os portos.

O futuro ministro foi prefeito de São Vicente (SP), município vizinho ao do Porto de Santos, o maior da América Latina. Cacique do PSB, França chegou a ter influência na Secretaria de Portos durante os dois mandatos de Lula no governo.

Para o presidente da Associação dos Terminais Portuários (ABTP), Jesualdo Silva, o setor recebeu com entusiasmo a escolha de Márcio França. Segundo Silva, França é uma pessoa de diálogo e empenhada em buscar soluções.

— Sempre que tivemos alguma interação ele teve empenho equivalente e buscou soluções. É muito importante ter pessoas que tenham visão abrangente da relação dos portos com as cidades e este é o caso de Márcio França — afirmou SIlva.

Para o presidente da ABTP, que representa 235 instalações portuárias no país, a principal tarefa de França terá de ser feita em parceria com o Ministério dos Transportes, uma vez que o gargalo do setor tem sido os acessos terrestres. Ou seja, garantir rodovias e ferrovias estejam em boas condições para que as cargas cheguem aos portos com mais rapidez e a custos mais baixos.

— Costumamos dizer que o principal problema dos portos é da porta para fora e é necessária articulação para que os gargalos sejam resolvidos — diz ele.