"Baile do Menino Deus" retorna ao Marco Zero depois de dois anos
De volta ao formato presencial, espetáculo realiza temporada desta sexta-feira (23) até o domingo (25)
Depois de dois anos de experiências com o audiovisual, o “Baile do Menino Deus” pode retornar ao Marco Zero, no Bairro do Recife. O reencontro do tradicional espetáculo de rua - que costuma atrair mais de 70 mil pessoas por temporada - com o público ocorre desta sexta-feira (23) até o domingo (25), sempre às 20h.
Por conta da pandemia de Covid-19, a montagem precisou se reinventar completamente nas últimas edições. Em 2020, foi transportado para dentro de um teatro e a gravação desse momento ganhou transmissão online e na televisão. No ano seguinte, o espetáculo foi transformado em um telefilme, com direito a cenas filmadas em pontos turísticos do Recife.
“Por mais que os filmes tenham sido produtos da mais alta qualidade, nada se compara ao formato que inauguramos há 19 anos no Marco Zero. Toda a equipe envolvida está muito feliz com esse retorno. Serão apresentações muito vibrantes e emocionantes”, afirma Ronaldo Correia de Brito, criador e diretor geral do espetáculo.
Orquestra à mostra
Na sua volta, o “Baile do Menino Deus” poderá ser visto no seu formato popularmente conhecido, só que com algumas modificações. Permanece o texto original, escrito por Ronaldo e Assis Lima, assim como a música de Antônio Madureira, mas com acréscimos nas falas dos personagens, arranjos e composições novas.
Outra mudança na montagem foi a retirada da orquestra do fosso. Os músicos foram levados para cima do palco, participando das cenas juntos aos coros, solistas, bailarinos e atores. O palco ganhou duas passarelas que atravessam a plateia, permitindo a passagem dos artistas pelo meio do público. “Nossa intenção é que o espetáculo pareça cada vez mais popular e próximo das pessoas”, comenta Ronaldo.
As crianças do coro infantil agora também atuam ao lado dos Mateus, que seguem sendo interpretados pelos atores Arilson Lopes e Sóstenes Vidal. Entre os solistas, estão Lucas dos Prazeres, Adiel Luna, Maurício Tizumba, Silvério Pessoa, Isadora Melo e Carlos Filho. A cantora e compositora Bela Maria, além de cantar, assume o papel de Maria desta vez. Já José será vivido pelo ator Márcio Fecher.
Encenação muda, mas mantém essência
Cibele Forjaz, premiada diretora de teatro paulista, foi convidada a colaborar com a encenação. “A presença dela foi um importante gerador de transformação, na medida em que ela questionou certos usos e propôs novos caminhos para o nosso trabalho”, explica Ronaldo.
A encenadora conta que, após receber o convite da produtora Carla Valença, buscou conhecer o “Baile” através das filmagens das cinco últimas edições. “Algumas coisas me cativaram nessa peça. Uma delas foi a junção de teatro, música e dança. Outra coisa foi a relação entre o popular e o erudito, algo muito presente na formação cultural brasileira, especialmente a nordestina”, aponta a diretora.
Segundo Cibele, seu papel durante a preparação do espetáculo foi de provocadora. “A ideia não foi trazer uma visão estrangeira. Me preocupei muito em não mexer com a harmonia que já existia, mas sim fortalecer essa relação de criação coletiva, fazendo perguntas e sugestões para cada um dos diretores de área”, explica.
Baile dialoga com realidade
Inspirado na história do nascimento de Jesus, o “Baile do Menino Deus” leva para o palco tradições natalinas que resistiram às influências estrangeiras, como reisado, lapinha, pastoril e cavalo marinho. Somado a isso, o espetáculo busca sempre estar conectado ao cotidiano das pessoas e ao momento presente.
“O ‘Baile’ sempre dialogou com a realidade. Nós temos total consciência de que estamos saindo de um momento de grande obscurantismo e perseguição à cultura, além do luto de quase 700 mil pessoas pela Covid-19. Isso faz com que o nosso retorno seja ainda mais significativo. Nós estamos celebrando a vitória da vida sobre a morte e a perspectiva de um futuro melhor”, comenta Ronaldo.