Tribunal de Mianmar anunciará sentença final de Aung San Suu Kyi na sexta-feira (30)
Opositora birmanesa, de 77 anos e vencedora do Nobel da Paz em 1991, está presa desde o golpe militar que derrubou seu governo em fevereiro de 2021
Um tribunal de Mianmar anunciará na sexta-feira (30) a sentença das cinco acusações restantes no julgamento da líder civil Aung San Suu Kyi, anunciou uma fonte judicial à AFP.
A opositora birmanesa, de 77 anos e vencedora do Nobel da Paz em 1991, está presa desde o golpe militar que derrubou seu governo em fevereiro de 2021.
Suu Kyi já foi declarada culpada de 14 crimes, que incluem corrupção, fraude eleitoral, violação de segredos de Estado e desrespeito às restrições durante a pandemia de Covid-19.
As condenações pronunciadas até o momento alcançam 26 anos de prisão.
Os advogados da opositora e da junta militar apresentaram nesta segunda-feira (26) as alegações finais para as cinco acusações pendentes do seu julgamento, que acontece a portas fechadas.
As acusações estão relacionadas com o aluguel de um helicóptero por um ministro de seu governo.
"Na próxima sexta-feira (30 de dezembro), a sentença será pronunciada", afirmou uma fonte judicial, que pediu anonimato.
O veredicto encerrará um processo considerado um julgamento político e uma farsa pelas associações de defesa dos direitos humanos.
A condenação de Aung San Suu Kyi pode ser ampliada em mais 75 anos de prisão.
Perseguição judicial
Aung San Suu Kyi, que é filha de um herói da independência birmanesa, foi detida no dia do golpe de Estado, em 1º de fevereiro de 2021, e condenada apenas três dias depois pela acusação de importação ilegal de walkie-talkies.
Muitas pessoas denunciam uma perseguição judicial por motivos políticos, com o objetivo de afastar da vida pública a vencedora das eleições legislativas de 2015 e 2020.
O Conselho de Segurança da ONU aprovou na quarta-feira da semana passada uma resolução que pede o fim da violência em Mianmar e a libertação imediata de todos os presos políticos, como Aung San Suu Kyi.
Esta foi a primeira vez em décadas que o organismo das Nações Unidas se pronunciou sobre a situação em Mianmar.
Desde o início do julgamento, em junho de 2021, Aung San Suu Kyi foi vista apenas uma vez, depois que fotos dela em uma sala vazia de tribunal foram publicadas pela imprensa estatal.
Sean Turnell, um de seus assessores, afirmou ao jornal Financial Times que ela está "bem" e "convencida de que voltará".
Eleições em 2023
O consultor Richard Horsey considera "pouco provável" que a junta militar volte a acusar Aung San Suu Kyi de novos crimes.
Os militares pretendem acalmar a situação no país, com as atenções voltadas para a celebração do 75º aniversário da independência de Mianmar e as eleições, ambas em 2023.
Após a votação, o regime militar "poderia entrar em contato com Suu Kyi e tentar utilizar as negociações para buscar a divisão da oposição", disse Horsey, do International Crisis Group.
O analista Soe Myint Aung considera que "há uma possibilidade de indulto e libertação inesperada" de Aung San Suu Kyi após o julgamento.
"O regime militar certamente acredita que Suu Kyi pode ter um papel para apaziguar as tensões sociais e a resistência armada", conclui.