POSSE DE LULA

Todos os presidentes eleitos antes de Lula já tinham os ministérios definidos a seis dias da posse

Collor, FHC, Dilma e o próprio petista em 2002 terminaram de escolher as suas equipes em prazos menores do que o atual

Lula, presidente eleito do Brasil - Marcelo Camargo/Agência Brasil

A seis dias da posse, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda tem 16 vagas a preencher no seu ministério, um fato inédito em governos eleitos pela primeira vez desde a redemocratização. Entraves como a alocação dos aliados PSD, MDB e União Brasil fazem com que, pela primeira vez, a composição da Esplanada não esteja resolvida faltando uma semana para a virada do ano.

Em 2002, quando foi eleito pela primeira vez, Lula também demorou a escolher a sua equipe e começou a anunciar os nomes após um mês e meio da vitória contra o tucano, José Serra, nas urnas. No entanto, no dia 23 de dezembro, todos os ministros já haviam sido apresentados pelo petista.

O novo governo contará com 14 pastas a mais que o do atual presidente, Jair Bolsonaro (PL). Em 2018, o chefe do Executivo finalizou sua equipe de 22 ministros (posteriormente, viraram 23) no dia 10 de dezembro, 21 dias antes da posse.

Dos 22 nomes que começaram o governo com ele, apenas Paulo Guedes, na Economia, Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, e Wagner Rosário, da Controladoria-Geral da União, permaneceram por todo o mandato.

 

Na opinião do cientista político da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Paulo Baía, a demora de Lula reflete a dificuldade nas eleições deste ano, vencida apenas pela proposta de construir uma frente ampla, iniciada desde o momento em que escolhe Geraldo Alckmin (PSB) como vice-presidente.

— A vitória só foi possível pela articulação entre diferentes partidos e a composição ministerial prec2isa abarcar nomes de todas essas siglas, o que gera uma dificuldade. Outro aspecto é a herança do governo Bolsonaro que centralizou os Ministérios e modificou o organograma — afirma Baía, que também lembra que, em 2018, Bolsonaro não tinha preocupação com a composição política por ter tido uma perfomance eleitoral focada em sua imagem pessoal em detrimento de alianças.

Antes de Bolsonaro, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) montou uma equipe com 37 ministros, que foi completamente divulgada no dia 22 de dezembro. Entre os ocupantes da Esplanada de Rousseff, cinco nomes retornarão ao governo de Lula.

O ex-ministro da Ciência e Tecnologia Aloizio Mercadante foi indicado à Presidência do BNDES, enquanto Alexandre Padilha, antigo da Saúde, chefiará as Relações Institucionais. Mauro Vieira retorna ao Ministério das Relações Exteriores, Miriam Belchior será a próxima secretária-executiva da Casa Civil e Fernando Haddad ocupará a Fazenda.

Na mesma data de Dilma, Fernando Henrique Cardoso também finalizou sua equipe. No dia 22 de dezembro de 1994, o tucano completou as 20 nomeações e fez anúncios inesperados como a criação do Ministério Extraordinário dos Esportes, que foi ocupado por Pelé até 1998, quando o jogador deixou o governo e a pasta foi extinta. Também no apagar das luzes, o economista Luiz Carlos Bresser Pereira foi deslocado do Ministério das Relações Exteriores para a Secretaria de Administração Federal e Reforma do Estado.

Fernando Collor de Melo também foi mais rápido que Lula. Em 1992, o primeiro presidente eleito após a redemocratização assumiu a Presidência em um domingo, 15 de março. Ele finalizou suas indicações na segunda-feira anterior, um dia antes de Lula que deve finalizar o quadro nesta terça-feira. A oito dias da posse, no dia 6, faltavam apenas três ministros — Relações Exteriores, Agricultura e Saúde. No total, eram apenas 12 pastas.