Ucrânia

Novos bombardeios russos causam cortes de luz na 'maioria' dos territórios ucranianos

Ataques russos também levaram à morte de três pessoas e deixaram deis feridos

Ataques russos deixaram três mortos e provocaram novos cortes de eletricidade em pleno inverno na Ucrânia - Dimitar Dilkoff / AFP

A Ucrânia denunciou, nesta quinta-feira (29), novos ataques em larga escala da Rússia contra infraestruturas de energia, que deixaram três mortos e provocaram novos cortes de eletricidade em pleno inverno na "maioria" dos territórios ucranianos.

"Há cortes de luz nesta noite na maioria das regiões ucranianas", admitiu o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, em seu pronunciamento diário nas redes sociais.

"Devido a danos significativos na rede, é difícil para nós restaurar a eletricidade nas regiões de Kharkov, Kiev, Odessa, Mikolaiv, Kherson e Lviv", lamentou o presidente da companhia de energia elétrica Ukrenergo, Volodimir Kudritsky, em declarações à televisão ucraniana.

Os ataques russos deixaram "três mortos e seis feridos, entre eles uma criança", indicou o ministro do Interior ucraniano, Denis Monastirski.

Belarus, um país aliado da Rússia, afirmou que um míssil ucraniano caiu em seu território nesta quinta-feira.

As autoridades bielorrussas divulgaram imagens que apresentaram como fragmentos desse míssil em um campo no sudoeste do país e convocaram o embaixador ucraniano para exigir uma investigação.

A Ucrânia argumentou que poderia se tratar de uma "provocação deliberada" da Rússia para "envolver Belarus na guerra".

O exército russo "deu a seus mísseis de cruzeiro uma trajetória para que sua interceptação ocorresse no espaço aéreo da Belarus", disse o Ministério da Defesa ucraniano.

Por sua vez, o exército ucraniano afirmou que derrubou 54 de 69 mísseis disparados pelas tropas russas.

No entanto, os mísseis que atingiram seus alvos causaram novos danos à rede elétrica, já bastante deteriorada por quase três meses de bombardeios.

Novos cortes de eletricidade foram registrados em todo o país, onde milhões de civis enfrentam há semanas sérios problemas de racionamento de eletricidade, água e aquecimento.

"O inimigo não alcançou seu objetivo: o sistema funciona" e parte da corrente elétrica "já foi restabelecida", declarou Kudritski, da Ukrenergo.

As forças aéreas ucranianas também relataram a destruição de 11 drones explosivos Shahed, todos de fabricação iraniana.

"O inimigo está atacando a Ucrânia de várias frentes, com mísseis disparados de aviões e navios", anunciou a Força Aérea nas redes sociais.

Na região leste de Kharkov, "um homem de 50 anos" morreu e outra pessoa foi hospitalizada como resultado de um bombardeio russo, segundo o governador Oleg Synegubov.

O ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, denunciou os ataques "bárbaros e sem sentido" contra "cidades ucranianas pacíficas pouco antes do Ano Novo".

O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, denunciou ataques que "destroem indiscriminadamente infraestruturas e instalações médicas e atacam e matam civis deliberadamente".

"Aguentar"
Após uma série de reveses militares nos últimos meses, o Kremlin mudou de tática e em outubro passou a atacar com frequência os transformadores e as centrais de energia elétrica da Ucrânia, com mísseis e drones.

Quase 90% de Lviv, a principal cidade do oeste da Ucrânia, ficou sem eletricidade após os ataques.

"Temos que aguentar. Isso é a guerra, temos que sobreviver e vencer", disse à AFP Iryna Ivaneyko, motorista de um bonde parado devido a uma queda de energia.

Em Kiev, 40% dos residentes estavam sem energia elétrica como consequência dos ataques contra as infraestruturas nos arredores da cidade.

De acordo com uma fonte militar, a defesa antiaérea conseguiu derrubar 16 mísseis russos que foram lançados contra a capital.

Mas destroços caíram sobre casas e um parque, ferindo três pessoas, incluindo uma menina de 14 anos, de acordo com as autoridades municipais.

No distrito de Bortnychi, meia dúzia de casas foram danificadas, segundo um jornalista da AFP.

Tetiana Denysenko, de 62 anos, correu para a vizinhança quando lhe contaram que a casa onde moram sua filha e neta havia sofrido graves danos.

"Levaram minha filha mais velha em uma ambulância. Estão a operando", disse a mulher. "Mas graças a Deus as crianças estão vivas! Graças a Deus minha neta só tem um ferimento na perna", acrescentou.

Em Odessa, importante porto do sudoeste da Ucrânia, 21 mísseis russos foram derrubados pela defesa ucraniana, segundo o governador Maksym Martchenko. Mas outros atingiram os alvos e a cidade enfrenta cortes de energia.

Sem perspectivas de paz
Por sua vez, o presidente russo, Vladimir Putin, participou nesta quinta-feira de uma cerimônia de apresentação de navios de guerra, incluindo um submarino com capacidade de transportar mísseis nucleares. Ele prometeu produzir mais armamentos e elogiou as capacidades de sua frota.

Putin apresenta a invasão da Ucrânia, que começou há 10 meses e já provocou grandes perdas, como uma necessidade para a segurança nacional. Ele afirma que o Ocidente está usando o país como uma ponte para ameaçar a Rússia.

Diante dos reveses militares, a Rússia mobilizou 300 mil reservistas, civis, para estabilizar as frentes de batalha.

Moscou reivindica a anexação de quatro regiões do sul e leste da Ucrânia, que o exército russo ocupa de maneira parcial.

Os combates prosseguem, com batalhas particularmente violentas em Bakhmut, uma cidade do leste da Ucrânia que a Rússia tenta conquistar há vários meses, e Kreminna, que as forças ucranianas tentam retomar.

As perspectivas de negociações são praticamente inexistentes.