Celulite: as indesejadas ondulações podem ter um surpreendente efeito benéfico; saiba qual
Gordura subcutânea protege contra distúrbios relacionados à inflamação, incluindo doenças cardíacas e neurodegenerativas
A indesejada celulite, que afeta cerca de 90% das mulheres, pode proteger contra demência e acidente vascular cerebral (AVC). De acordo com um estudo publicado recentemente na revista científica Diabetes, a gordura subcutânea reduz o risco de distúrbios relacionados à inflamação, incluindo doenças cardíacas.
Pesquisadores da Universidade Augusta na Georgia, nos Estados Unidos, observaram o efeito de da quantidade e localização do tecido adiposo em camundongos machos e fêmeas, na inflamação cerebral. Como em humanos, camundongos fêmeas obesos tendem a ter mais gordura subcutânea e menos gordura visceral - aquela localizada em torno dos órgãos e que está associada a diversos problemas de saúde - do que camundongos machos.
Eles também analisaram os níveis de hormônios sexuais, em especial, os estrógenos, em diversas situações e o nível de inflamação cerebral no hipocampo e no hipotálamo. A celulite é mediada por hormônios, particularmente os estrógenos. Por isso, afeta substancialmente mais mulheres do que homens. Por outro lado, o hormônio feminino também atua como um antiinflamatório natural.
Durante a menopausa, as mulheres produzem menos estrogênio e começam a armazenar gordura visceral em vez da subcutânea. Depois de passar por essa transição, o risco de doenças crônicas relacionadas à inflamação aumenta. Com base nessas observações, os pesquisadores partiram da hipótese que os padrões distintos de acúmulo de gordura podem ser uma razão fundamental para a proteção contra a inflamação que as fêmeas desfrutam antes da menopausa.
No início do experimento, roedores machos tinham mais gordura visceral e as fêmeas, mais gordura subcutânea. Os machos também acumularam mais inflamação cerebral do que as fêmeas.
Eles então compararam o impacto de uma dieta rica em gordura, que é conhecida por aumentar a inflamação em todo o corpo, em camundongos de ambos os sexos, com o de uma cirurgia, semelhante à lipoaspiração, para remover a gordura subcutânea de fêmeas. Também foi analisado o nível de inflamação cerebral, em diferentes intervalos de tempo, à medida que os animais ganhavam peso.
Os resultados mostraram que a perda de gordura subcutânea aumentou a inflamação cerebral e o acúmulo de gordura visceral nas fêmeas, mesmo sem alteração nos níveis de estrogênio e outros hormônios sexuais. Para comparação, foi somente após a menopausa que as mulheres que não tiveram a gordura subcutânea removida, mas comiam uma dieta rica em gordura, apresentaram níveis de inflamação cerebral semelhantes aos dos homens.
Além disso, quando a gordura subcutânea foi removida de camundongos em uma dieta com baixo teor de gordura em tenra idade, eles desenvolveram um pouco mais de gordura visceral e um pouco mais de inflamação na gordura. No entanto, não houve alteração no nível de inflamação cerebral.
De acordo com os pesquisadores, a descoberta sugere que a proteção natural das mulheres contra doenças inflamatórias vai além do estrogênio. Uma hipótese que poderia ajudar a explicar isso são as diferenças cromossômicas entre a fêmeas (XX) e machos (XY).
“Precisamos ir além do tipo de ideia simplista de que toda diferença sexual envolve diferenças hormonais e exposição a hormônios. Precisamos realmente pensar mais profundamente sobre os mecanismos subjacentes às diferenças sexuais, para que possamos tratá-los e reconhecer o papel que o sexo desempenha em diferentes resultados clínicos", disse Alexis M. Stranahan, neuroscientista no departamento de Neurociência e Medicina Regenerativa na Escola de Medicina da Georgia, na Universidade Augusta.
Outra recomendação de Stranahan, com base nesse estudo é: não faça lipoaspiração e depois coma uma dieta rica em gordura. Ela também alerta que o índice de massa corporal (IMC), medida que avalia o risco de doenças com base apenas no peso e na altura de um indivíduo, sem considerar a composição corporal, provavelmente não é uma ferramenta muito significativa. Segundo ela, um indicador fácil e mais preciso do risco metabólico e potencialmente da saúde do cérebro seria a relação cintura-quadril.
"Não podemos apenas dizer que a pessoa tem obesidade. Temos que começar a falar sobre onde está a gordura. Esse é o elemento crítico aqui", disse Stranahan