Bolívia

Justiça determina quatro meses de prisão preventiva para governador opositor na Bolívia

Político da oposição é acusado de "terrorismo" em caso relacionado à saída do ex-presidente Evo Morales do cargo em 2019

Governador da região de Santa Cruz, Luis Fernando Camacho - Mariana Suarez Bolivian Ministry of GovernmentAFP

Um juiz boliviano determinou, nesta sexta-feira (30), a prisão preventiva por quatro meses do governador da região de Santa Cruz, Luis Fernando Camacho. O político da oposição é acusado de "terrorismo", em um caso relacionado à saída do ex-presidente Evo Morales do cargo em 2019.

O juiz criminal Sergio Pacheco disse que "determina a aplicação de prisão preventiva para o acusado Luis Fernando Camacho Vaca, prisão preventiva que deve ser cumprida por um período de quatro meses no presídio de Chonchocoro", prisão de segurança máxima em La Paz.

O procurador Omar Mejillones havia pedido seis meses alegando risco de fuga. A audiência começou na quinta-feira e durou até a madrugada desta sexta.

Durante a audiência, realizada através de uma plataforma na Internet, Camacho, advogado e empresário de 43 anos, declarou: “Nunca vou me render”.

Ele pediu aos bolivianos que evitem que "o masismo imponha uma ditadura como na Venezuela e em Cuba", em alusão ao partido governista Movimento ao Socialismo, MAS, de esquerda. La Paz, Caracas e Havana são aliados políticos.

Poucas horas depois da decisão judicial, o governador foi transferido sob um forte dispositivo de segurança de uma delegacia para a prisão de Chonchocoro, no oeste de La Paz, segundo imagens do canal de televisão Unitel.

Preso na quarta-feira e levado de Santa Cruz (leste) para La Paz, ele foi peça importante para impulsionar a renúncia de Morales à Presidência no final de 2019, enquanto o partido governista e o Ministério Público garantem que ele e outros opositores promoveram um "golpe de Estado".

Os opositores acusaram Morales, que estava no poder desde 2006, de suposta fraude nas eleições presidenciais de 2019.

Camacho também lidera o partido Acreditamos (Creemos), a terceira força política no Parlamento, atrás do partido governista MAS e do centrista Comunidade Cidadã, do ex-presidente Carlos Mesa (2002-2003).

Guterres, preocupado
Florencia Soto Niño-Martínez, porta-voz adjunta do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse em um comunicado que ele "está preocupado com os recentes acontecimentos na Bolívia".

Ela acrescentou que Guterres “pede calma e apela a todos os atores políticos e sociais para que exerçam a máxima moderação” e “garantam o devido processo e a transparência nos processos judiciais”.

A influente Conferência Episcopal da Bolívia disse, também em nota, que a detenção “viola as leis [e] os direitos humanos” e que, além disso, “trouxe à memória coletiva os tempos difíceis de ditaduras militares que se acreditava terem sido derrotadas para sempre".

A Igreja Católica, que também foi peça-chave na pacificação da Bolívia após a transição do governo de Morales para o de Jeanine Áñez, no final de 2019, destacou que o golpe “nunca existiu”.

Também observou que houve "evidente fraude eleitoral nas eleições de 20 de outubro de 2019 por parte do partido do governo" de Morales.

O ministro da Justiça, Iván Lima, defendeu o processo contra o governador de direita e garantiu que todos os trâmites processuais foram cumpridos.

Ele acusou o político de obstruir as investigações e disse que, por isso, "o Ministério Público não teve outra opção senão expedir o mandado de prisão".

Protestos em Santa Cruz
Santa Cruz, capital econômica da Bolívia, com quase 2 milhões de habitantes, começou cedo uma "greve" de 24 horas em protesto contra a prisão do governador.

Desde a madrugada, houve bloqueios de ruas e avenidas.

A imprensa local reportou que opositores ao governo do presidente de esquerda Luis Arce atacaram e queimaram alguns escritórios da estatal Impuestos Nacionales (SIN),entidade encarregada da gestão do sistema tributário.

Os protestos começaram em Santa Cruz na quarta-feira.

Apoiadores do político preso ocuparam dois aeroportos para impedir, sem sucesso, sua transferência para La Paz e depois incendiaram gabinetes do Ministério Público e do governo, além da casa de um ministro.