Lula defende união e frente ampla contra desigualdade em discurso
Emocionado após receber faixa, presidente enfatizou combate à fome e afirmou que é "hora de olhar para frente", em aceno a eleitores de Bolsonaro
Em discurso no parlatório do Planalto após receber a faixa presidencial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a pedir união, em um aceno a eleitores que votaram no ex-presidente Jair Bolsonaro nas eleições do ano passado. No pronunciamento direcionado a apoiadores que acompanham a cerimônia de posse em Brasília, neste domingo, Lula disse que vai governar para 215 milhões de brasileiros e ressaltou a necessidade de reatar laços.
"Quero me dirigir também aos que optaram por outros candidatos: vou governar para 215 milhões de brasileiros e não apenas para quem votou em mim. Olhando para nosso luminoso futuro comum e não para o retrovisor de um passado de divisão e intolerância. A ninguém interessa um país eternamente em pé de guerra. É hora de reatarmos laços com amigos e familiares, rompido por discurso de ódio e disseminação de tantas mentiras", disse.
Ao longo do discurso, Lula abordou em diversos momentos os desafios da desigualdade e a necessidade de combatê-la, em um momento em que a extrema pobreza volta a crescer. O presidente se emocionou ao falar sobre o tema e chegou a interromper o discurso em lágrimas. Lula defendeu que é "urgente e necessária a formação de uma frente ampla contra a desigualdade".
"A desigualdade apequena este nosso país de dimensões continentais ao dividi-lo em partes que não se reconhecem. De um lado, uma parcela que tudo tem, de outro uma multidão a quem tudo falta, e uma classe média que vem empobrecendo ano a ano graças às injustiças do governo", afirmou o presidente. "Se queremos construir hoje nosso futuro, viver em um país plenamente desenvolvido para todos e todas, não pode haver lugar para tanta desigualdade".
Como havia feito ao discursar na Câmara, Lula criticou a "odiosa pressão imposta às mulheres, submetidas diariamente a violência nas ruas e dentro de suas próprias casas". O petista também destacou a desigualdade no tratamento em relação a homens no mercado de trabalho e disse que o objetivo do Ministério das Mulheres é a mudança deste quadro.
"É inadmissível que (as mulheres) continuem a receber salários inferiores aos dos homens quando no exercício de uma mesma função. Elas precisam conquistar cada vez mais espaço nas instâncias decisórias desse país. Devem ser o que quiserem ser, estar onde quiserem estar, por isso estamos trazendo de volta o Ministério das Mulheres. Foi para combater a desigualdade e suas sequelas que vencemos a eleição, e esta será a grande marca do nosso governo", disse Lula.
Referência ao período preso
Lula iniciou seu discurso no parlatório, diante de dezenas de milhares de apoiadores, fazendo referência ao período em que esteve preso na superintendência da Polícia Federal em Curitiba, entre 2018 e 2019. O presidente repetiu uma saudação feita por apoiadores que ficavam acampados no entorno da PF, no movimento denominado "vigília Lula Livre", e agradeceu a seus eleitores antes de referir-se ao conjunto mais amplo da população.
"Minha gratidão a vocês que enfrentaram a violência política, que tiveram coragem de vestir nossa camisa e agitar a bandeira do Brasil enquanto uma minoria violenta e antidemocrática tentava se apropriar do verde e amarelo que pertence a todo o povo brasileiro", afirmou Lula. "A disputa eleitoral acabou. Não existem dois Brasis. Somos um único povo e, como brasileiros e brasileiras, compartilhamos uma mesma atitude: nós não desistimos nunca", destacou.
O presidente eleito também criticou o governo de Jair Bolsonaro, ao citar a piora de indicadores sociais e econômicos, mas defendeu que é "hora de olhar para frente". Nesse momento, apoiadores do petista repetiram a frase "sem anistia". Lula respondeu em seguida, ao voltar a discursar, que "não é hora para ressentimentos estéreis":
"Nesses últimos anos, vivemos sem dúvida um dos piores períodos de nossa História, uma era de sombras, incertezas e muito sofrimento. Mas esse pesadelo chegou ao fim pelo voto soberano na eleição mais importante desde a redemocratização do país. Essa extraordinária vitória da democracia nos obriga a olhar para frente e esquecer nossas diferenças, muito menores daquilo que nos une para sempre: o amor pelo Brasil e a fé inquebrantável em nosso povo. Agora é hora de voltar a cuidar do Brasil e do povo, gerar empregos, reajustas o salário mínimo acima da inflação, criar ainda mais vagas nas universidades", disse o presidente.