Simbolismos

Gestos simbólicos marcam posse do presidente Lula

Cerimônia que empossou presidente deixa mensagens do que se esperar da atual gestão do Governo Federal

Lula assinou termo de posse com caneta que ganhou de apoiador, em 1989, no Piauí - Leopoldo Silva/Agência Senado

Da quebra de protocolos ao discurso repleto de recados diretos e metafóricos, passando por gestos pautados por um simbolismo atemporal, a cerimônia de posse do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), neste domingo (1º), deixou algumas mensagens do que se esperar da atual gestão do Governo Federal nos próximos quatro anos. Em entrevista à Folha de Pernambuco, o cientista político Hely Ferreira analisou o evento em Brasília e destacou os principais desafios do chefe do Executivo em seu terceiro mandato na história.

"Governo plural"

Sem a presença do ex-presidente da República, Jair Bolsonaro, que se negou a participar da entrega da faixa a Lula e deixou o Brasil às vésperas da cerimônia, o antigo protocolo foi quebrado. A solução encontrada pelo atual mandatário foi a de chamar oito representantes do povo brasileiro (e a cadela Resistência) para subir a rampa do Planalto e realizar o gesto.

"Foi um marco histórico. Ao chamar pessoas de diferentes raças e gêneros, tendo uma criança, uma mulher, um negro, um índio, um metalúrgico e um deficiente, Lula acenou para um governo mais plural, pensando em todos", frisou o cientista, chamando atenção também para detalhes na escolha das vestimentas.

"Houve uma inversão, pensada também por uma estratégia de marketing. Lula tem uma história política ligada ao Partido dos Trabalhadores, que é vermelho, mas quem estava com a gravata vermelha foi Geraldo Alckmin, o vice, ex-PSDB. Lula estava de azul. Isso mostra que o atual presidente está se reinventando politicamente, em um processo de ressurreição eleitoral. Ele sabe que não conseguiria vencer a eleição sem montar uma chapa menos vermelha", ressaltou. Além disso, o mandatário assinou o termo de posse com uma caneta que ganhou de um apoiador, em 1989, no Piauí.

"Em 2002, eu ganhei as eleições e, quando cheguei aqui, tinha esquecido essa caneta e usei a do senador Ramez Tebet. Em 2006, assinei com a caneta aqui do Senado. Agora, eu encontrei essa caneta. É uma homenagem ao povo do Piauí". Em um trecho do discurso, Lula saudou os eleitores com um "boa tarde, povo brasileiro", parafraseando um recado que ouvia de sua militância, em vigília, em Curitiba/PR, durante o período em que ficou preso. 

"Democracia sempre"

Na sessão solene do Congresso Nacional, Lula pregou a importância do processo democrático. "Sob os ventos da redemocratização, dizíamos 'ditadura nunca mais'. Hoje, depois do terrível desafio que superamos, devemos dizer 'democracia para sempre'. Nossa mensagem ao Brasil é de esperança e reconstrução", disse o presidente.

"O slogan do Governo, de 'União e Reconstrução', mostra que Lula sabe que precisará de habilidade para conduzir o País. Ele não pode errar. A cobrança será presente, principalmente de um lado que também quer vingança com a gestão passada. Basta ver o pedido de 'sem anistia' que seus apoiadores gritaram. Ele terá que ter habilidade sobre essas questões. A posse de Lula não significará o fim da polarização. A ala mais próxima a Bolsonaro continuará protestando. Cabe a Lula construir um diálogo para lutar contra isso", apontou Ferreira.