Brasília

Carlos Fávaro toma posse na Agricultura e cita fome e reconstrução da imagem exterior como desafios

Fávaro também disse que trabalhará para reconstruir a imagem do país junto à comunidade internacional

Carlos Henrique Fávaro - divulgação

O senador Carlos Fávaro (PSD-MT) tomou posse como novo ministro da Agricultura e Pecuária e destacou que seus maiores desafios serão o combate à fome e reconstruir pontes com a comunidade internacional. O novo ministro começou seu discurso dizendo que parafrasearia o presidente Lula: explicou que se costuma dar boa tarde depois do almoço e questionou "como se pode falar assim no Brasil, em que muitas pessoas passam fome?". Para ele, esse será um dos desafios de sua gestão frente ao Ministério da Agricultura:

"Quantos brasileiros não puderam almoçar hoje? E esse é o grande desafio que nós temos que enfrentar neste governo, é o primeiro dos desafios, e a agricultura, a produção de alimentos têm papel fundamental", disse.

Fávaro também disse que trabalhará para reconstruir a imagem do país junto à comunidade internacional.

"O Brasil se tornou pária mundial com o desrespeito ao desmatamento, ao meio ambiente, à condição de produzir com sustentabilidade. Esse é o maior desafio: reconstruir pontes com a comunidade internacional, não só porque eles querem, mas porque é necessário", declarou.

Ele disse, ainda, que firmaria como primeiro compromisso continuar o fortalecimento da Embrapa, estatal de pesquisa agropecuária que é responsável por inúmeras inovações e melhorias na produção brasileira.

Produtor rural, ele assume a pasta com o apoio de dois dos maiores produtores agrícolas do país, os grupos Maggi e Bom Futuro, ambos do Mato Grosso, em um setor que está dividido entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Geller comemora a nomeação de Fávaro
Inicialmente cotado para ser ministro da agricultura, o deputado Neri Geller (PP-RS), também aliado de Lula, comemorou a escolha de Carlos Fávaro para o cargo. Ele também ressaltou a presença de vários integrantes da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) na cerimônia:

"Fico muito grato quando vejo a maioria das lideranças da nossa FPA presentes. Nós vamos iniciar muito bem representando e dando suporte político nesse início de governo", afirmou.

Geller desejou sucesso ao novo ministro, disse que é preciso manter os juros para os produtores rurais em patamares baixos e avançar na logística e em outros instrumentos de comercialização, para promover a produção do agronegócio brasileiro. Ele também ressaltou a importância da adoção de políticas de garantia de preço mínimo, para resguardar os produtores rurais.

"Você, liderando esse time, começou muito bem. Com respaldo do setor e respaldo da classe política", pontuou.

A transmissão do cargo de Ministro da Agricultura para o senador Carlos Fávaro foi feita pelo ex-secretário executivo da pasta, Marcio Eli. O último ministro, Marcos Montes, não participou da cerimônia.

Apelo à democracia
A cerimônia de posse de Carlos Fávaro como ministro da Agricultura foi acompanhada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, os senadores por Mato Grosso Jayme Campos (União) e Wellington Fagundes (PL), o deputado Neri Geller (PP-RS) e o futuro ministro de Minas e Energia, o também senador Alexandre Silveira (PSD-MG).

O ministro do STF Gilmar Mendes fez um discurso em defesa da democracia durante a posse de Carlos Fávaro. Citando o exemplo do estado do Mato Grosso, que ficou bastante dividido por causa do contexto político, Mendes disse que é preciso respeitar as discordâncias:

"É fundamental e é necessário que nós respeitemos os dissensos e asseguremos a liberdade de expressão. Masa a liberdade de expressão não pode colocar em xeque a democracia", destacou.

Ele foi muito aplaudido após a fala, e completou. "A eleição se encerra e cabe a quem ganhou governar. E quem governa precisa de paz, e não de conflituosidade. Quem perdeu, por margem maior ou menor, recebe uma designação, também constitucional, para fazer oposição. Portanto, lamber as feridas, eventualmente chorar, e se preparar para novas eleições. É isso que se dá na democracia".

Mendes também falou sobre a riqueza do agronegócio e disse que é preciso encontrar equilíbrio entre responsabilidade fiscal e social. "Não podemos ser um país que se jacta, e de fato é, o maior produtor de grãos do mundo e ter pessoas passando fome. Não é razoável e não é digno. Temos de estar atentos e acada um de nós tem de tomar para si essa tarefa".

Nova estrutura
Com a divisão da Agricultura em outras pastas – foram recriados os ministérios do Desenvolvimento Agrário e Pesca – a pasta que será comandada por Fávaro terá uma área de atuação mais enxuta.

Ele disse que trabalhará de perto com Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário. Fávaro contou que quando foi convidado por Lula para assumir a Agricultura disse que também gostaria de ficar com a nova pasta. Ele relatou que o presidente Lula pôs as mãos na cabeça e disse “não me crie problemas”.

Sob sua gestão estarão ações de políticas agrícolas (incluindo comercialização e seguro rural), as ações de pesquisa no setor e a assistência técnica e de extensão rural. Em interlocução com outras pastas, tratará de florestas plantadas com o Ministério do Meio Ambiente e de irrigação e infraestrutura hídrica para produção agropecuária com as pastas da Integração e Desenvolvimento Regional.

A Agricultura ainda manteve sob seu guarda-chuva a Embrapa, estatal de pesquisa agropecuária. Outras estruturas importantes, como o Incra e a Conab, foram transferidos para o Ministério do Desenvolvimento Agrário.

Transição
Na equipe de transição, Fávaro foi coordenador do grupo temático da agricultura. Ele assume a pasta com o desafio de melhorar a imagem do setor no exterior.

Ligação com Lula
Fávaro foi um dos poucos nomes do setor a não só declarar apoio a Lula como a trabalhar pela vitória do petista em um segmento inclinado ao bolsonarismo. Seu nome sempre apareceu entre os cotados para ocupar uma vaga na Esplanada e era uma das indicações claras de seu partido, o PSD.

O que ameaçou a sua posição era o fato de sua suplente no Senado, a empresária Margareth Gettert Buzetti, ter posições bolsonaristas. Aliados do senador, então, trabalharam para moldar o discurso da suplente e tirá-la do PP: ela acabou filiando-se ao PSD.

O novo ministro começou sua atuação política ocupando cargos na Associação Brasileira dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja-MT), durante a crise do setor em 2006. Assim ele conheceu Lula, que na ocasião lançou um plano bilionário de renegociação de dívida de produtores rurais. Fávaro voltou a se aproximar de Lula em março de 2021, oferecendo aproximação com o agronegócio.