Cultura

Marco Lucchesi presidirá a Biblioteca Nacional: "A agenda política tem lugar para o sonho"

Poeta tem intensa relação com a instituição e recusou medalha no ano passado para não 'referendar Bolsonaro'

Marco Lucchesi presidirá a Biblioteca Nacional - Divulgação

Anunciado nesta segunda-feira, 2, como novo presidente da Fundação Biblioteca Nacional, o romancista, poeta, ensaísta e tradutor Marco Lucchesi chega ao Brasil nesta quarta-feira para se reunir com a ministra da cultura, Margareth Menezes.

Desde 2021, quando deixou a presidência da Academia Brasileira de Letras, o carioca de 59 anos havia tirado um ano sabático na região da Toscana, Itália. O convite do novo governo para assumir a BN se mostrou irrecusável, já que o acadêmico possui uma relação antiga com a instituição.

Ele foi editor da "Poesia Sempre", revista da Bn criada pelo então presidente Affonso Romano de Sant'Anna em 1991, responsável pela publicação fac-similares de textos que se encontravam fora de alcance do público. Também foi curador de diversas exposições, como "Leonardo 500 anos", que celebrou o aniversário do artista Leonardo Da Vinci em 2019.

"Foi um convite à queima-roupa", disse Lucchesi por telefone, da Alemanha, de onde deve embarcar para o Brasil. "Tenho uma relação intensa com a Biblioteca Nacional desde a minha juventude. Ainda é cedo para comentar sobre projetos, mas sei que contarei com o apoio da ministra para todos os desafios necessários. O que vai me guiar é aquele quadro do Pieter Bruegel, que está lembrado em Walter Benjamin, buscando luz entre ruínas. É o que todos nós estamos fazendo cada qual em seu modo, como missão de cidadania e perspectiva republicana".

Como presidente da ABL, Lucchesi ficou conhecido por intensificar projetos sociais na Casa de Machado de Assis. Desde 2001, ele mantém visitas regulares a presídios, após receber a carta de um detento pedindo livros porque “a literatura é a irmã gêmea da liberdade”. Nos últimos anos, liderou projetos de doações de livros para prisões, terras quilombolas, comunidades e aldeias e povos ribeirinhos da Amazônia.

"Vou continuar sempre com meus projetos, agora em uma perspectiva institucional", disse Lucchesi, que é autor de cerca de 50 livros, entre poesia, ensaio e romance e domina mais de 20 idiomas. "Creio que esse é um momento em que o Brasil volta a sorrir. Todos nós compreendemos que a agenda política tem lugar para o sonho. Não é mais possível uma política em que não haja uma perspectiva de concreção da utopia".

No ano passado, Lucchesi foi uma das personalidades que recusaram a medalha da Ordem do Mérito do Livro, concedida pela Biblioteca Nacional para personalidades que contribuem com a literatura. Foi um protesto a entrega da mesma láurea ao deputado federal bolsonarista Daniel Silveira (PTB-RJ), que não tinha histórico de contribuição ao setor e havia sido condenado por atos anti-democráticos.

"Se eu aceitasse a medalha seria referendar Bolsonaro, que disse preferir um clube ou estande de tiro a uma biblioteca", justificou o intelectual em seu perfil no Twitter na época.

A atuação de Lucchesi na ABL dá uma ideia das visões do novo presidente da Bn sobre cultura. “As academias têm que interpretar o mundo, mas também mudar o mundo”, afirmou o imortal em seu discurso de posse, em 2011.

-"ssumir a Biblioteca Nacional é um desafio gigantesco e vou mergulhar muito fundo", diz Lucchesi.