Colômbia

Guerrilha do ELN nega acordo bilateral de cessar-fogo com governo colombiano

Mais de meio século de guerra civil deixou 9 milhões de vítimas

Colômbia - Pixabay

A guerrilha do ELN, em negociações de paz com o governo da Colômbia, negou, nesta terça-feira (3), fazer parte do acordo de cessar-fogo com os principais grupos armados anunciado pelo presidente Gustavo Petro na véspera do Ano Novo.

A Delegação de Diálogo do ELN não discutiu nenhuma proposta de cessar-fogo bilateral com o governo de Gustavo Petro, portanto ainda não há acordo sobre o assunto, afirmou a última guerrilha reconhecida no país em nota, contestando a versão do governo.

O presidente esquerdista anunciou, na noite de 31 de dezembro, um acordo de cessar-fogo bilateral até 30 de junho com o Exército de Libertação Nacional (ELN), dois grupos dissidentes das Farc, a maior quadrilha de narcotráfico conhecida como Clã do Golfo e as milícias de Sierra Nevada, de origem paramilitar.

Para cada organização, o governo expediu decretos, que ainda mantém em sigilo, nos quais estabelece as condições da trégua que, segundo cálculos independentes, abrange cerca de 15 mil combatentes.

O anúncio de Petro foi comemorado por organismos internacionais, como as Nações Unidas e a Organização dos Estados Americanos (OEA), que manifestaram a disposição de fazer o acompanhamento do cessar-fogo.

"Decreto unilateral"
Em sua sexta tentativa de negociar a paz com o governo, o ELN terminou a primeira etapa de diálogos em Caracas, em 12 de dezembro, sem acordar um cessar-fogo bilateral, segundo a guerrilha.

"Em várias ocasiões indicamos que o ELN só cumpre o que é discutido e acordado na Mesa de Diálogo da qual participamos. Um decreto unilateral do governo não pode ser aceito como um acordo", acrescentou a organização rebelde, que mantém conversas com delegados do governo desde novembro.

O processo vai continuar no México em data ainda a definir.

"Uma vez que tivermos concluído o que está previsto, estamos dispostos a discutir a proposta de Cessar-fogo Bilateral", assegurou a guerrilha, que havia concedido uma trégua unilateral natalina entre 24 de dezembro e 2 de janeiro.

Após a comunicação do ELN, o chefe da delegação de paz do governo, Otty Patiño, admitiu que os decretos anunciados por Petro não tinham sido assinados.

"O decreto ainda não tem vigência, não tem números, consta como uma proposta [...] Falou-se, sim, [em Caracas], mas neste momento não se chegou a nada conclusivo", declarou à emissora W Radio.

O presidente convocou uma reunião de emergência com o ministro do Interior e o da Defesa, informou a Presidência à imprensa.

Estimativas oficiais calculam que o ELN está presente em 22 dos 32 departamentos (estados) da Colômbia, onde disputa a receita do narcotráfico e do garimpo ilegal.

Segundo o centro de estudos independentes Indepaz, a guerrilha teria cerca de 3.500 combatentes.

"Desconcertante"
Na insurgência desde 1964, o ELN só pactuou uma vez o cessar-fogo bilateral, enquanto celebrava um processo de paz com o governo de Juan Manuel Santos (2010-2018), em 2017. A trégua inédita foi rompida depois de 100 dias devido a ataques com explosivos dos rebeldes a oleodutos estatais.

Especialistas afirmam que sua estrutura federada com diferentes frentes e comandos dificulta as negociações de paz.

"É muito desconcertante porque o que eu tinha entendido é que isto não era uma oferta unilateral, em que o Estado está deixando de perseguir a criminalidade a troco de nada", afirmou a senadora Paloma Valencia, do Centro Democrático (oposição).

Com sua política de "paz total", Petro pretende conter a espiral de violência que se seguiu ao acordo histórico assinado com o grosso da guerrilha das Farc, em 2016.

O primeiro presidente de esquerda da Colômbia, que em sua juventude pertenceu à desmobilizada guerrilha M-19, defende a saída negociada para o conflito com insurgentes, traficantes, paramilitares e gangues.

Mais de meio século de guerra civil deixou 9 milhões de vítimas, ma maioria deslocados.

O narcotráfico, combustível da violência, bate recordes históricos no país, que é o maior produtor de cocaína do mundo.