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Dieta antes da corrida ao lado do Rolls-Royce: fotógrafo do presidente conta bastidores da posse

Ricardo Stuckert trabalha há 20 anos com petista e vai ocupar cargo no governo

Ricardo Stuckert correndo (do lado esquerdo) ao lado do Rolls-Royce presidencial - Ricardo Stuckert/divulgação/AFP

O telefone de Ricardo Stuckert, fotógrafo oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tocou às 8h40 do domingo passado (1º), dia da posse. Do outro lado da Linha estava o chefe:

— Ô, Stuckinha, "tô" vendo uma imagem aqui que está de arrepiar, as pessoas descendo para a Esplanada. Está lotado. Vai lá.

O presidente falava da janela do hotel onde está hospedado, na área central de Brasília. O fotógrafo estava a caminho do Palácio do Planalto para posicionar as câmeras que registrariam o petistarecebendo a faixa horas mais tarde. Ao chamado, deu meia-volta, subiu na Torre de TV, localizada em frente ao hotel, ligou o drone e retratou o público em romaria à Esplanada dos Ministérios.

Trabalhando com Lula há duas décadas, Stuckert foi o único brasileiro que subiu a rampa do Planalto três vezes ao lado do presidente. No domingo, quando o petista entrou no Rolls-Royce, às 14h30, o fotógrafo roubou a cena ao correr um quilômetro e meio entre a Catedral de Brasília e o Congresso. Naquele momento, ele carregava duas câmeras e, do celular, guiava um drone. Além disso, gravava pequenos vídeos para as redes sociais de Lula.

A corrida de Stuckert virou memes e alçou o nome a dele à lista dos dez assuntos mais comentados do Twitter no domingo. O roteiro inicial previa que o fotógrafo acompanharia Lula de dentro de um ônibus que iria na frente do Rolls-Royce. Dali, faria as imagens de cima para baixo. No momento em que o veículo que levava Lula, a primeira-dama, Rosângela Silva, a Janja, o vice, Geraldo Alckmin, e sua esposa, Lu Alckmin, começou a andar, o ônibus partiu e deixou Stuckert para trás.

— Me perguntei: "Será que eu vou conseguir correr até o Congresso? Vou chegar lá todo suado". Quando me deu conta já estava chegando lá — ele ao Globo.

O fotógrafo conta que uma dieta, com direito a jejum intermitente, iniciada duas semanas antes da posse, foi determinante para garantir o preparo físico necessário para que ele conseguisse acompanhar o carro do presidente, que percorreu a Esplanada a 9 quilômetros por hora.

— Se eu tivesse que correr mais 10km, eu não ia sentir. Não é adrenalina. Sabe quando você está engajado numa história? — lembra.

Stuckert passou maus bocados durante a correria. De acordo com ele, o momento mais tenso ocorreu quando, sem perceber, enganchou o sapato em uma sacola plástica, derrapou e quase caiu.

Ao fim da maratona, a recompensa foi retratar a história de um ângulo privilegiado, pela terceira vez em 20 anos.

— A subida do presidente na rampa, com representantes da sociedade, foi um momento muito forte. Passa um filme. Foi a terceira vez que eu vivi isso, embora parecesse a primeira. E essa foi especial por tudo o que aconteceu na política brasileira e tudo que aconteceu com o presidente.

Foto: Joseph Eid/AFP

A posse de Lula marcou também o fim do prazo de uma promessa feita por Stuckert quando Lula foi preso. Na ocasião, ele decidiu que só vestiria roupas pretas nos eventos de trabalho até que o petista deixasse o cárcere. Ao ver Lula deixando a superintendência da Polícia Federal no Paraná em 2019, ele prorrogou compromisso até que o presidente vencesse a eleição e voltasse ao Planalto novamente. Nos últimos três dias, Stuckert voltou a usar roupas claras.

No novo governo, Stuckert assumirá a Secretaria de Audiovisual, que ficará dentro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), comandada por Paulo Pimenta (PT). Além das fotos, Stuckert vai cuidar das transmissões ao vivo e da produção de vídeos para TikTok, Instagram, Facebook, Twitter e site que envolvam a presidência.

Paralelamente, ele prepara um filme para contar a história das pessoas que viajaram longas distâncias para acompanhar a na posse de Lula em Brasília.

— As pessoas cumpriram maratonas, vindo de ônibus, de carro, de avião. São histórias que devem ser contadas, e a gente está correndo para registrar.