Preconceito

Casal acusa segurança de parque no Recife de homofobia

"Um simples ato de carinho virou um aperreio em nossa vida. Uma situação que nós não vamos esquecer", desabafa rapaz expulso do Parque Treze de Maio por trocar beijos com namorado

Parque 13 de Maio, no Recife - PCR/Divulgação

O Parque Treze de Maio, na área central do Recife, é conhecido por sua vasta área verde, seus torneios de xadrez e também por ser ponto de encontro de casais de todas as idades. Porém, o que era para ser uma tarde romântica, acabou virando uma dor de cabeça para Caio Gomes, de 25 anos, e seu namorado, que não quer ter o nome revelado.

Os jovens foram abordados e expulsos do local por um segurança que os proibiu de trocar beijos no parque. Os rapazes, alunos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), estavam apenas abraçados quando o funcionário do parque, vestido com a farda da Prefeitura do Recife, os ameaçou. 

“Estamos sentados num banquinho do parque, abraçados. Aí, de repente, chegou um guarda dizendo que a gente não podia ficar ali porque, naquele local, era proibido beijos entre dois homens”, contou Caio à Folha de Pernambuco

O caso aconteceu na terça-feira (3), por volta das 15h30. Em vídeo divulgado nas redes sociais, é possível ver o segurança tentando justificar a ação homofóbica, afirmando que não tem nada contra gays ou lésbicas, mas que teria sido intimado a afastar o casal.

Questionado quem teria feito a intimação, o segurança desconversa e diz que, se eles forem averiguar, ficariam presos na guarita de segurança, esperando a polícia chegar.

 



“Ele falou que teve uma pessoa que chamou ele e fez uma denúncia. Perguntamos se fosse um casal hétero que estivesse ali, se beijando, se ele agiria da mesma forma e ele respondeu que não, que se fosse um homem e uma mulher era normal, mas dois homens não poderia”, relembrou Caio. 

O estudante conta que ele e o namorado ainda insistiram que permaneceriam no local, que é público. O segurança se exaltou e, em seguida, outra pessoa apareceu, se dizendo policial federal (mas sem mostrar nenhum tipo de identificação oficial), afirmando que o casal estava errado e deveria deixar o parque. 

"Por conta do tom agressivo do guarda e porque meu namorado tinha que trabalhar, acabamos saindo do parque. Cheguei em casa, abri um boletim de ocorrência online e coloquei nas redes para saber o que poderia ser feito", conta Caio. 

Uma marca que fica 
Após o ocorrido no Parque Treze de Maio, o medo de se expor publicamente cresceu, assim como a sensação de impunidade. “Eu quero que a justiça seja feita, que o responsável seja punido. O que ele cometeu ali foi um crime muito grave. Quero que ele seja responsabilizado. A gente ficou com bastante medo na hora, fomos embora sem trocar carinho nem nada. Depois veio a revolta”, desabafou Caio.

“Estamos tranquilos, mas chegamos a essa decisão de diminuir os afetos em público, como forma de nos preservar. Foi uma agressão verbal, mas poderia ser uma agressão física [...] Eu quero que pessoas parem e pensem que somos pessoas normais, como qualquer outra, estamos vivendo nossas vidas como qualquer outro. Um simples ato de carinho virou um aperreio em nossa vida. Uma situação que nós não vamos esquecer”, lamenta Caio. 

Após divulgarem o acontecido nas redes sociais, o estudante diz esperar que o poder público tome providências para capacitar seus prestadores a fazerem um trabalho que respeite todas e todos os cidadãos, independente de gênero e condição sexual.

“Queria que eles contratassem mais pessoas LGBT para que a gente não precisasse mais passar por isso. Quando a gente foi expulso, [vi que] tinha um casal hétero da mesma forma, se beijando, e que continuou ali. Eu fiquei bastante triste”, disse.

O que a prefeitura diz
Em nota, a Prefeitura do Recife repudiou a atitude do segurança e disse que vai investigar o ocorrido.

Segundo o jovem casal, a PCR também convidou ambos a terem um encontro com a gestora da secretaria de Desenvolvimento Social, Direitos Humanos, Juventude e Políticas Sobre Drogas, Ana Rita Suassuna, para uma conversa. Confira a nota na íntegra:

A Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb), onde o funcionário é lotado, abriu processo administrativo para apurar o caso e tomar as medidas cabíveis. Além disso, as vítimas podem formalizar a denúncia na Ouvidoria Geral do Município do Recife, pelo telefone 0800 281 0040, pelo e-mail: ouvidoria@recife.pe.gov.br ou presencialmente na sede da Prefeitura do Recife, no Cais do Apolo (segunda a sexta das 8h às 17h).

A Prefeitura do Recife repudia com veemência toda e qualquer forma de discriminação com base na orientação sexual. As atitudes do servidor relatadas na denúncia foram frontalmente contrárias às determinações da gestão municipal, que defende e coloca em prática o enfrentamento à discriminação vivenciada pela população LGBTI+.

LGBTfobia é crime no Recife 
No Recife, desde 2018, há uma plataforma online de denúncias contra a LGBTfobia, com base em duas leis municipais. A legislação municipal proíbe manifestações preconceituosas ou discriminatórias em razão da orientação sexual, ou identidade de gênero.

Estabelecimentos públicos ou particulares, empresas ou organizações sociais que desrespeitarem as legislações podem ser punidos.