Começa em Belarus julgamento do Nobel da Paz Ales Bialiatski
Bialiatski foi preso após protestar contra o regime em 2020, quando o presidente Alexander Lukashenko reivindicou a vitória em eleições consideradas fraudulentas pela comunidade internacional
O julgamento do ativista pró-democracia bielorrusso Ales Bialiatski, um dos ganhadores do Prêmio Nobel da Paz de 2022, começou nesta quinta-feira (5), em Minsk, anunciou a organização de defesa dos direitos humanos Viasna, fundada pelo opositor.
O Centro Viasna ("Primavera") informou que Bialiatski e seus colaboradores Valentin Stefanovich e Vladimir Labkovich compareceram à audiência e ficaram em uma "cela" destinada aos réus. Eles estão detidos desde julho de 2021. Nesta quinta, os três se declararam inocentes.
Bialiatski, de 60 anos, e seus colegas foram presos após protestos contra o regime em 2020, quando o presidente Alexander Lukashenko reivindicou a vitória em eleições consideradas fraudulentas pela comunidade internacional.
As manifestações levaram dezenas de milhares de pessoas às ruas de Minsk e de outras cidades durante semanas, até que Lukashenko, que governa o país desde 1994, reprimiu a mobilização, com o apoio do presidente russo, Vladimir Putin.
Muitos opositores foram presos, e outros buscaram o exílio.
Os países ocidentais adotaram várias sanções contra Minsk.
Bialiatski recebeu o Nobel da Paz por sua defesa dos direitos humanos, junto com a organização russa Memorial e o ucraniano Centro para as Liberdades Civis.
Belarus serviu de base de retaguarda para as tropas russas em sua ofensiva contra a Ucrânia, lançada no final de fevereiro. Por enquanto, o Exército bielorrusso não participou dos combates em território ucraniano.
A ONG Anistia Internacional descreveu o julgamento como "um ato flagrante de injustiça". O governo de Lukashenko "é particularmente vingativo contra os ativistas de direitos humanos e o resultado do 'julgamento' parece destinado a ser cruel", acrescentou.
Inicialmente, Bialiatski, Stefanovich e Labkovich foram acusados de evasão fiscal. Em novembro, porém, o Viasna informou que podem ser condenados a penas entre 7 e 12 anos de prisão pelas acusações de terem transitado "uma grande quantia em dinheiro" através da fronteira bielorrussa e por terem "financiado ações coletivas que perturbaram seriamente a ordem pública".
Um quarto réu, Dmitry Solovyov, será julgado à revelia, depois de fugir para a Polônia. "Não confio neste julgamento ou no que poderia acontecer (...). É um julgamento falso", comentou à AFP, alegando que suas acusações eram "absurdas".
O julgamento contra Bialiatski será seguido por outros de jornalistas independentes e de Svetlana Tikhanovskaya, uma proeminente figura da oposição que vive no exílio.
Está previsto para a próxima segunda-feira (9) o início do julgamento de vários jornalistas do site Tut.by, o principal meio de comunicação independente de Belarus. Sobre eles recai uma série de acusações, como sonegação de impostos e incitação ao ódio.
Em 17 de janeiro, terá início o julgamento à revelia de Tikhanovskaya, que enfrenta várias acusações, incluindo alta traição, conspiração para tomar o poder de forma inconstitucional e criação de uma organização extremista.
Candidata às eleições presidenciais no lugar do marido preso — o blogueiro Serguei Tikhanovsky —, Tikhanovskaya reivindicou a vitória nas eleições de 2020. Ela vive exilada na Lituânia. Em dezembro de 2021, seu marido foi condenado a 18 anos de prisão por organizar motins em massa, incitar ódio, desordem pública e obstrução da Comissão Eleitoral.
Segundo o Centro Viasna, a organização de direitos humanos mais importante neste país autoritário, no final de 2022, havia 1.448 presos políticos em Belarus.