Adeus a Dinamite: como maior centroavante do Brasil de seu tempo quase não disputou Copas do Mundo
Números derrubam a tese de que craque do Vasco não rendia quando atuava pela seleção; chamado para os Mundiais de 1978 e 1982, tinha nível para ser lembrado também em 1986
Roberto Dinamite tinha uma mágoa no futebol. Seus anos mais gloriosos no futebol ficaram para trás sem que pudesse escrever uma história condizente com a seleção brasileira. Não que ele tenha passado em branco. Disputou duas Copas do Mundo. Foi o artilheiro do Brasil na Argentina, em 1978, quando a equipe terminou em terceiro lugar e poderia ter ido à final se não fossem as circunstâncias no mínimo suspeitas a favor dos donos da casa.
O problema é que esse retrospecto, enorme para a maioria esmagadora dos jogadores, foi menor do que o atacante, falecido domingo, aos 68 anos, vítima de um câncer no intestino, merecia.
O maior centroavante brasileiro de seu tempo, o mais prolífico, com larga vantagem sobre os demais, com 708 gols apenas pelo Vasco, esteve por vezes muito perto de nunca disputar uma Copa do Mundo. Sem que nunca tenha dado motivos concretos para isso.
Com o tempo, ganhou força uma versão de que, com a camisa da seleção brasileira, nunca foi tão brilhante quanto com a cruz-de-malta no peito. Não seria o primeiro e nem o último caso parecido no mundo da bola.
Mas os números que atingiu durante o período em que vestiu a amarelinha derrubam a tese. Entre 1975, quando estreou pela seleção, e 1984, quando foi convocado pela última vez, não houve um centroavante no Brasil que tenha feito mais gols do que ele pela seleção. Apenas Zico foi mais efetivo no período. Mesmo assim, esteve na lista de dois Mundiais quase que por sorte.
1978, a titularidade suada
A estreia de Roberto Dinamite na seleção aconteceu em 1975. No ano anterior, havia sido campeão brasileiro e artilheiro da competição. Aos 21, foi convocado para a Copa América daquele ano e jogou na derrota para o Peru por 3 a 1.
O primeiro gol saiu no ano seguinte. O Brasil venceu a Inglaterra em amistoso disputado nos EUA com um gol de Dinamite. Seria o primeiro dos muitos no ciclo que antecedeu a Copa do Mundo de 1978.
Foram 17 até o Mundial. Somente Zico, com 24 gols, fez mais. Mas Cláudio Coutinho, técnico da equipe, não tinha convicção nos seus dois jogadores mais goleadores. O meia do Flamengo pelo menos não esteve ameaçado de não ser chamado para a Copa.
Dinamite, porém, mesmo com tantos gols, viu o treinador priorizar Reinaldo, do Atlético-MG, e Nunes, do Santa Cruz, que havia feito apenas sete gols pela seleção antes da Copa. Se não fosse a lesão do jogador que posteriormente se transferiria para o Flamengo, o artilheiro do Vasco não teria ido à Copa.
Ainda assim, começou o torneio na reserva. Somente na terceira partida da primeira fase, contra a Áustria, que Dinamite recebeu uma oportunidade do treinador, na vaga de Reinaldo. O Brasil precisava desesperadamente vencer para passar de fase. E venceu, com um gol do centroavante que mais sabia fazer gols.
1982, quase turismo na Espanha
Depois da Copa do Mundo da Argentina, Dinamite esperava que seu patamar na seleção mudasse. Havia sido artilheiro e seguia com a alta média de gols pelo Vasco. Mas quando Telê Santana assumiu a equipe do Brasil, o cenário para o jogador, que já era difícil, ficou ainda pior.
Roberto Dinamite ficou atrás na fila para Reinaldo, Nunes, Serginho e um novato que despontava no Guarani, Careca. O vascaíno foi o maior artilheiro do futebol brasileiro em 1981, com incríveis 62 gols marcados. Mas sequer era convocado.
A pressão da imprensa carioca sobre Telê, para que Dinamite fosse chamado, foi grande. Quando saiu a lista, estava fora, preterido para a inclusão de Serginho Chulapa e Careca. O segundo se lesionou e somente assim o atacante vascaíno foi chamado. Com o limite de apenas cinco jogadores no banco de reservas por partida, passou a campanha inteira na Espanha fora dos relacionados. Isso o magoou.
Despedida como artilheiro
Gols nunca foram suficientes para Roberto Dinamite ter mais espaço na seleção brasileira. A prova disso é seu desempenho na última competição oficial que disputou pelo país. Na Copa América de 1983, voltou a ganhar oportunidades. Foi titular na equipe montada por Carlos Alberto Parreira. A seleção fracassou na missão de acabar com o jejum de títulos continentais, terminou em segundo, mas Dinamite não fugiu da responsabilidade de fazer os gols: terminou a competição como artilheiro.
Ainda assim, no ano seguinte, fez sua última partida pela seleção, num amistoso disputado no Morumbi e que terminou empatada em 0 a 0 com a Argentina. O ciclo do Brasil até a Copa do Mundo de 1986 foi turbulento, com muitas trocas de técnico. Quando Telê Santana assumiu a equipe, ficou evidente que a história de Roberto Dinamite com a seleção havia acabado.
Torcedores do Vasco ainda protestaram contra o treinador no aeroporto, antes do embarque da seleção por causa da não convocação de Roberto Dinamite e Romário para o Mundial no México. No caso do Baixinho, com apenas 20 anos e pouca rodagem como profissional, poderia parecer clubismo exagerado. Já em relação a Dinamite, havia fundamento: Telê Santana ignorou o centroavante de 32 anos, mas pontaria ainda afiada, responsável por 53 gols em 1985 e 1986, e convocou Casagrande, que fez 23 gols pelo Corinthians no mesmo período.