Novo presidente da Câmara dos EUA passa no 1º teste após aprovação de regulamento
O texto foi aprovado com 220 votos contra 213, com apenas um voto republicano contra
O novo presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Kevin McCarthy, passou na segunda-feira (9) pelo primeiro teste sobre sua capacidade de liderança, após a aprovação de um conjunto de regras de procedimento que determina como os republicanos vão governar.
McCarthy poderia se dar ao luxo de perder, no máximo, quatro representantes de suas fileiras, com todos os democratas votando contra o pacote. O texto foi aprovado com 220 votos contra 213, com apenas um voto republicano contra.
A votação vespertina sobre o plano, descrito pelo democrata Jim McGovern como uma "nota de resgate da extrema direita para os Estados Unidos", aconteceu imediatamente depois de uma das semanas mais turbulentas na Câmara baixa do Congresso americano.
Os legisladores quase chegaram às vias de fato na nova legislatura da Câmara, controlada pelos republicanos, depois que McCarthy se viu obrigado a passar por 15 rodadas de votação durante quatro dias para superar um bloqueio da extrema direita à sua candidatura.
"Washington está partida"
"No centro de toda essa discussão da semana passada, ficou muito claro, pelo menos do nosso lado, que Washington está partida", afirmou o novo líder da maioria e vice de McCarthy, Steve Scalise, assim que o debate começou.
"E não apenas Washington está partida, como também a maneira como esta Câmara tem funcionado nos últimos anos não foi desenhada para resolver os problemas do povo deste país", acrescentou.
Os democratas reclamam que os acordos conseguidos para destravar a votação reduziram severamente a autoridade do "speaker" — o presidente da Câmara —, o principal legislador de Washington, e que cederam uma quantidade de poder pouco saudável para os legisladores republicanos mais extremistas.
O pacote de regras escrito em 55 páginas estabelece as prioridades republicanas para o restante do mandato do presidente democrata Joe Biden, empossado em janeiro de 2021, assim como os procedimentos que serão adotados para dirigir a Câmara.
Uma das principais medidas é a criação de um painel para investigar "o uso do governo como arma", que deverá se concentrar nas investigações do Departamento de Justiça sobre o ex-presidente Donald Trump.
Boa parte do pacote trata da habitual política conservadora, como a disposição para que os legisladores cubram os aumentos de gastos com cortes, e não com novos impostos.
De acordo com os relatos, McCarthy também acordou uma reforma que permite que apenas um membro solicite uma votação para destitui-lo, de fato, uma espécie de "apólice de seguro Freedom Caucus" que permite à direita manter os pés do "speaker" no fogo sobre suas outras promessas.
Além disso, o pacote exige que a Câmara incorpore uma votação sobre o cancelamento de mais de US$ 70 bilhões em fundos adicionais acordados para a Receita Federal americana (ou Internal Revenue Service, IRS). Essa revogação não tem, contudo, chance de ser aprovada por um Senado liderado por democratas.
'Tudo' sobre a mesa
Um arquivo anexo de três páginas de acordos paralelos que, segundo relatos, McCarthy negociou em sigilo com a bancada ultraconservadora House Freedom Caucus, preocupa democratas e alguns republicanos moderados.
Segundo a imprensa americana, as concessões mais polêmicas de McCarthy incluem assumir um orçamento de dez anos que congela os gastos aos níveis de 2022, o que significaria um corte de recursos para as agências federais, e uma diminuição de 10% nos gastos destinados à defesa.
Jim Jordan, um aliado de McCarthy e parte da liderança do Freedom Caucus, disse à Fox News que "tudo tem que estar sobre a mesa", inclusive o financiamento para a luta da Ucrânia contra a invasão russa.
"Francamente, será melhor que também olhemos o dinheiro que enviamos para a Ucrânia e digamos: 'Como podemos gastar melhor o dinheiro para proteger os Estados Unidos?'", alegou Jordan.
Os cortes agradariam a muitos conservadores fiscais. São, no entanto, simbólicos, em sua grande maioria, pois morreriam ao chegar ao Senado, controlado pelos democratas.
O Senado pode escrever sua própria versão da maior parte do pacote de regras se tiver objeções, o que deflagra conversas de compromisso entre as duas casas do Congresso.
Ainda conforme a imprensa americana, McCarthy também concordou em dar ao Freedom Caucus uma grande influência sobre a condução diária da legislação, cedendo, efetivamente, poderes de liderança significativos a um grupo de extrema direita.