Obras danificadas por terroristas no Planalto e Congresso valem, ao menos, R$ 9,2 milhões
Muitas obras danificadas são de difícil precificação. É o caso de boa parte dos danos ocorridos do STF
As obras de arte danificadas pelos terroristas que invadiram o Palácio do Planalto e o Congresso valem, no mínimo, R$ 9,2 milhões, de acordo com estimativa de um marchand feita a pedido do GLOBO. O custo da destruição do Supremo Tribunal Federal (STF) é mais difícil de estimar, já que o prejuízo ali também envolve muito mobiliário.
A pintura "As Mulatas", de Di Cavalcanti, que ficava no Palácio do Planalto, é a mais valiosa: o próprio governo estimou seu valor em R$ 8 milhões. A avaliação de Evandro Carneiro, da galeria de mesmo nome, é de que essa é uma obra muito difícil de precificar, porque foi feita praticamente sob demanda e faz parte da iconografia do país:
Ontem me perguntaram e eu disse que valia R$ 5 milhões. Mas eu concordo com os R$ 8 milhões, assim como concordaria com R$ 10 milhões, R$ 12 milhões. Se uma obra dessa pega fogo, você não compra. O preço quem faz é o dono, não é o mercado.
A tela foi rasgada em sete pontos, mas é um tipo de restauração "simples". Técnicos do Iphan ouvidos reservadamente dizem que é preciso fazer uma avaliação minuciosa da obra, mas que as técnicas de restauro são avançadas e é possível reparar os danos. Mas isso terá um preço: não é possível submeter uma tela de Di Cavalcanti a uma restauração por uma licitação de menor preço.
Ainda no Planalto, outras obras danificadas pelos terroristas somam R$ 900 mil. É o caso da obra "Bandeira do Brasil", de Jorge Eduardo, avaliada em R$ 100 mil. As esculturas "O Flautista", de Bruno Giorgi, uma obra em bronze, completamente destruída, vale até R$ 500 mil. E a obra "Galhos e Sombras", uma escultura que usa galhos de madeiras de Frans Krajcberg, valeria cerca de R$ 300 mil.
Prejuízos no Congresso
Na Câmara dos Deputados, os prejuízos com obras de arte somam R$ 380 mil, ao menos. Uma avaliação preliminar das obras do acervo detectou que seis dos 46 presentes protocolares expostos no Salão Verde foram destruídos ou não podem ser recuperáveis. Há danos em um muro de Athos Bulcão, famoso pelos azulejos, e avarias em duas esculturas.
A obra "Bailarina", de Victor Brecheret, que tinha sido dada como desaparecida, foi encontrada mas quebrada de seu pedestal. Evandro Carneiro avalia a peça em R$ 300 mil e diz que, por ser de bronze, pode ter um tipo de restauração mais complexa, devido ao material. A escultura "Maria, Maria", de Sônia Ebling foi marcada com paulada e é avaliada em R$ 80 mil.
A Casa informou que não houve danos a outras obras importantes, como a escultura Anjo, de Alfredo Ceschiatti, e os paineis Candangos, de Di Cavalcanti, e Araguaia e Alumbramento, de Marianne Peretti.
No Senado, a diretora-geral da Casa, Ilana Trombka, estima que o custo para recuperar os espaços danificados pelos vândalos vai variar entre R$ 3 milhões e R$ 4 milhões, valor que inclui não apenas obras de arte, mas toda a substituição de todos os carpetes do Salão Azul, por exemplo.
Ela citou que uma tapeçaria de Burle Marx foi vandalizada: os terroristas urinaram na peça. Além disso, houve uma série de danos no museu do Senado, que ainda não foram precificados.
Dificuldade de precificar
Muitas obras danificadas são de difícil precificação. É o caso de boa parte dos danos ocorridos no STF, que incluem uma tapeçaria que pertenceu à princesa Isabel, muitas peças de mobiliário e até mesmo a escultura "A Justiça", de Alfredo Ceschiatti, que fica em frente ao prédio e foi pichada.
Evandro Carneiro pontua que as obras de Brasília se tornaram ícones da cultura nacional e avaliá-las é completamente diferente, porque incorporam valores agregados por estarem no imaginário do país.
Precificar é muito difícil. Pode-se precificar uma obra equivalente. São números atribuídos supondo que obras equivalentes a essa estivessem à venda. Se aquela estivesse à venda teria um valor agregado tão grande que teria outro valor, justifica.
No Planalto, ainda foram danificadas peças que têm difícil precificação, como o relógio de Balthazar Martinot, um presente da corte francesa para Dom João VI. Só há outro relógio como esse, que está exposto no Palácio de Versailles. Além disso, muitas peças de mobiliário, como a mesa-vitrine de Sérgio Rodrigues, sofreram avarias.
Fernando Mendes, presidente do Instituto Sergio Rodrigues, diz que as peças reeditadas do arquiteto pode valer entre R$ 10 ou R$ 35 mil:
Porém, o número de peças dos anos 1960 que está nos palácios é muito grande, na maioria são peças fabricadas em jacarandá, muito difícil estimar o valor ou repor essas peças.
O professor do Instituto Federal de Brasília Fred Hudson, que trabalha com a restauração do mobiliário dos palácios, diz que ainda não há uma avaliação da extensão dos danos a essas peças e que muitos desses mobiliários estão distribuídos pelas residências oficiais do Congresso:
É uma arte útil, que você pega, usa, senta, gasta, diferente de uma outra obra. O trabalho de manutenção dessas peças é constante.