EX-PRESIDENTE

Parlamentar italiana defende revogação de cidadania honorária dada a Bolsonaro: "Ele não merece"

Oposição já fez pedido para que homenagem, concedida em novembro de 2021, seja cancelada

Jair Bolsonaro recebeu cidadania honorária de prefeita de comuna italiana - Reprodução

As cenas de depredação em Brasília no último domingo trouxeram à tona pedidos para a revogação de uma honraria concedida ao ex-presidente Jair Bolsonaro, na Itália. Parlamentares de oposição da região Vêneto passaram a pressionar para que a cidade de Anguillera retire a cidadania honorária dada ao ex-capitão do Exército em novembro de 2021.

Em viagem à Itália naquele ano, Bolsonaro visitou Anguillera, onde almoçou com a prefeita Alessandra Buoso e conversou com moradores da cidade. Entre as justificativas apresentadas para a concessão da cidadania estavam o fato de que um bisavô do ex-presidente era originário da cidade e de que a honraria seria um gesto a todos os descendentes de italianos no Brasil.

— Só porque você tem bisavós você merece uma cidadania? Acho que o município deve passar uma mensagem clara de que ele não merece — disse ao GLOBO Elena Ostanel, conselheira regional de Vêneto, um cargo equivalente ao de deputada estadual. — Por conta de como ele governou nesses anos, com a Covid-19 e Amazônia, ele é a pessoa certa para ter uma cidadania honorária?

Além do partido de Ostanel, o "Il Veneto che vogliamo" (A Vêneto que queremos), outras agremiações também se manifestaram pela revogação da cidadania, como o Partido Democrático, o Movimento Cinco Estrelas, os Verdes e a Refundação Comunista. A honraria foi concedida através de um decreto da prefeita da comuna, filiada ao partido de extrema-direita Lega Nord. A prefeita Alessandra Buoso ainda não se manifestou sobre o tema.
 

A demora em reconhecer a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022, e os atos de vandalismo cometidos por apoiadores de Bolsonaro no Planalto, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal são outros motivos apontados por Elena Ostanel para que a honraria seja revogada. No entanto, a capacidade de rever a homenagem cabe apenas à Câmara Municipal de Anguillera:

— Como foi o município que deu a cidadania, é o município que pode retirá-la. É o conselho da cidade que pode votar isso. Estamos fazendo pressão. — diz Ostanel.

A cidadania honorária contou com nove votos a favor, três contra e uma abstenção quando foi votada pela assembleia local em 2021. Desde então, a oposição na Câmara Municipal de Anguillera já propôs a revogação da homenagem.

Ostanel também foi acompanhada por outros conselheiros regionais: "Após a tentativa de golpe no Brasil por partidários do ex-presidente, só podemos confirmar o absurdo desse reconhecimento que pedimos para ser revogado com urgência", declararam os parlamentares regionais Vanessa Camani e Andrea Zanoni, do Partido Democrático, ao jornal Podova Oggi.

Os atos terroristas de domingo também provocaram outras reações da oposição na região. Além de se colocar contrária a cidadania honorária, a conselheira regional Erika Baldin, do Movimento Cinco Estrelas, propôs a votação de uma resolução em apoio ao presidente Lula ao Conselho Regional de Vêneto.

— Estamos diante de fatos muito graves. O ataque às instituições democráticas por parte dos seguidores de Bolsonaro é um ataque à democracia e não pode ser tolerado de forma alguma. Peço à Região, em primeiro lugar ao governador Zaia, que se solidarize com o Presidente Lula e às instituições democráticas votando a favor da minha resolução o mais rápido possível — declarou.

Os eventos de domingo também levaram a críticas e pedidos da oposição para que os partidários do Lega Nord, próximos de Bolsonaro, se manifestassem. Em 2018, membros do partido em Vêneto chegaram a se referir a Bolsonaro como um "orgulho" local.

— Ainda não saiu uma palavra dos conselheiros regionais da Lega e de Matteo Salvini (ex-vice prêmie e liderança do partido) sobre o que aconteceu no Brasil — disse Alessandro Zan, do Partido Democrático, em um pedido por posicionamento da extrema-direita, repetido por outros políticos italianos, como a senadora Aurora Floridia, da Alleanza Verdi Sinistra:

— A violência dos dias de hoje é fruto da retórica de Bolsonaro. É preciso que as instituições, a começar pelos representantes da Lega, que há muito apoiam Bolsonaro, se posicionem — disse ela, segundo o jornal Mattino Padova.