FUTEBOL INTERNACIONAL

João Gomes e Danilo ampliam lista de brasileiros atraídos pelo "lado B" da Premier League; entenda

Ida dos jovens de Flamengo e Palmeiras pode ampliar para 17 o número de brasileiros atuando fora do "Big 6"

João Gomes enfrenta a marcação de Cuesta no clássico entre Botafogo e Flamengo - Paula Reis/Flamengo

Olhar para a Premier League hoje é ver, entre várias estrelas internacionais, atletas da seleção brasileira como Richarlison, Gabriel Jesus, Antony, Casemiro e Bruno Guimarães brilhando por equipes que disputam, em sua maioria, a parte de cima da tabela.

Um cenário que era de escassez e veio mudando ao longo das últimas duas décadas, até chegar em um reflexo peculiar no mercado de transferências brasileiro: a ida de jovens jogadores a equipes de menor expressão da liga. Os exemplos mais recentes são os dos volantes Danilo (Palmeiras) e João Gomes (Flamengo), que estão negociando suas transferências a Nottingham Forest e Wolverhampton, respectivamente.

Até meados de 2007, jogadores brasileiros eram presença rara na liga — não passavam de 10 por temporada. Vinte anos depois, as duas vendas elevarão esse número para um patamar recorde de 34.

Desses, 17 (já contando com a dupla e com Luizão, no sub-23 do West Ham) atuam em clubes de fora do chamado “Big 6”, as seis principais equipes inglesas (Arsenal, Chelsea, Liverpool, Manchester City, Manchester United e Tottenham).
 

Essa transformação rápida vem em partes pela explosão financeira e midiática da liga. O alto nível competitivo e o calendário recheado de jogos grandes seduzem estrelas em ascensão, como os brasileiros. Gustavo Scarpa, por exemplo, deixou uma das posições de referência num Palmeiras multi-campeão para o mesmo Nottingham de Danilo, que luta contra o rebaixamento. Na chegada, falou que era um “sonho “ jogar na liga.

Ecossistema rico
Para Marcos Motta, advogado especialista em direito desportivo envolvido em negociações recentes a clubes europeus, incluindo ingleses, o movimento mostra um interesse mútuo num desenvolvimento já dentro da Premier, ofuscando mercados que eram antes considerados “trampolins” na Europa, como o português. Um cenário que prevê se ampliar com o crescimento de grupos controladores de vários clubes no mundo.

— Não me surpreende jogadores não indo para esses clubes de “nível 1”, como Chelsea, United, City, e indo para Aston Villa, Southampton, Forest. Querendo ou não, eles estão incluídos num ecossistema de futebol que é o mais desenvolvido e rico do mundo, com uma visibilidade absurda. A tendência é, em vez de tirar o jogador de Portugal, do Mônaco ou do Sassuolo para a Premier League, você passar a ter esses jogadores nesses clubes “nível 2” e dali pode ser um trampolim para um clube de “nível 1” — analisa.

Foi o caso, por exemplo, de Richarlison. Em 2017, ele deixou o Fluminense rumo ao Watford por 12,4 milhões de euros (R$ 68,5 milhões, na cotação atual). Depois, movimentou mais 39,2 milhões de euros (R$ 216 milhões) no Everton em 2018 e finalmente chegou ao “Big 6” por 58 milhões (R$ 320,6 milhões) pagos pelo Tottenham em 2022. Mais de 100 milhões de euros que circularam só no futebol inglês. Um movimento estimulado, em partes, por um vultuoso contrato de direitos de transmissão que nivela times de maior e menor expressão. Em 2021/22, foram pagos 2,5 bilhões de libras (R$ 15,5 bilhões), no total, aos 20 clubes.

— A Premier League é o sonho de consumo dos jogadores hoje. Claro, você tem clubes diferentes, o Real Madrid, o Barcelona, eventualmente a Juventus, o PSG. Mas (a Premier se destaca) em matéria de jogo, de campeonato — diz Motta.