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ONG holandesa oferece tatuagem gratuita a mulheres com cicatrizes de câncer de mama

Fundação reúne tatuadores dispostos a ajudarem pacientes que passaram pela mastectomia a recuperarem a autoestima

Sobrevivente do câncer de mama ganha tatuagem em torno de cicatrizes geradas pela cirurgia de mastectomia - Simon Wohlfahrt/AFP

No peito achatado de Jacqueline van Schaik, flores e borboletas desviam o olhar das cicatrizes que mostram onde antes ficavam os seios. A tatuagem, guardada como "joia" por essa mulher curada do câncer de mama, faz parte de uma iniciativa de uma rede de artistas dispostos a ajudar mulheres no pós-mastectomia a amarem seus corpos novamente depois de uma mudança drástica.

— É maravilhoso — diz Jacqueline, de 56 anos, com lágrimas nos olhos, ao se ver no espelho de um estúdio de tatuagem na cidade Lelystad, na região central do país. — Não vejo mais as cicatrizes, vejo isso, essa joia — elogia ela, que é mãe de um menino de 17 anos.

Agora radiante, Jacqueline conta que vem de longe, depois de passar por várias quimioterapias e radioterapia. Ela foi diagnosticada, em outubro de 2020, quando descobriu a doença nas duas mamas.

Darryl Veer, que fez a tatuagem de van Schaik, já trabalhava com cobertura de cicatrizes antes do projeto. O profissional de 36 anos saiu satisfeito do estúdio, após três sessões de várias horas com Jacqueline.

— Eu estava sob muita pressão, porque a última coisa que um artista deseja nesse caso é fracassar — diz Veer. — É a coisa mais linda que se pode fazer com uma tatuagem, deixar uma pessoa feliz — acrescenta.
 

O peito de Jacqueline agora está coberto até as costas por duas flores vermelhas, com caules que parecem enraizados nas cicatrizes, acompanhadas de flores azuis.

— Se sentir bonita e amar o outro é um sentimento tão precioso, e eu o havia perdido — diz Jacqueline emocionada. — Algo essencial está sendo tirado de nós, o que significa quem você é, e isso me deixou muito triste — diz ela, que alega ter experimentado "todos os efeitos colaterais imagináveis" durante o tratamento.

Para se "livrar" do câncer, a holandesa finalmente optou por uma mastectomia, realizada em abril de 2021. Mas a perda dos seios "a fez sofrer muito, física e mentalmente".

— Todos os dias, quando eu estava na frente do espelho ao sair do banho, eu olhava para aquelas cicatrizes e via o que elas haviam tirado de mim. Pensei em retirar o espelho, mas agora ainda pode estar lá — relata em meio a sorrisos.

Estatística
Cerca de uma em cada sete mulheres na Holanda desenvolverá câncer de mama durante a vida, de acordo com dados das autoridades de saúde. Um terço dos diagnósticos exigirá uma cirurgia mastectomia.

O mesmo aconteceu com Myriam Scheffer, de 44 anos. Ela também quer fazer uma tatuagem no peito, "provavelmente um grande pássaro abrindo as asas". No entanto, antes precisa esperar que as marcas do procedimento cirúrgico terminem de cicatrizar.

Enquanto isso, Scheffer criou uma fundação no verão passado para oferecer uma tatuagem gratuita para mulheres após uma mastectomia. Jacqueline foi a primeira a ser beneficiada.

A ideia já existe, principalmente nos Estados Unidos e na França. A ambição de Myriam, mãe de uma menina de oito anos, é expandir a iniciativa na Europa. Mulheres interessadas podem se inscrever em Titto.org, para fazer uma tatuagem a partir de outubro, mês destinado a promover a necessidade de rastreamento do câncer de mama. As inscrições começam em julho.

Graças à fundação, mulheres italianas e suecas provavelmente poderão fazer o mesmo a partir deste ano em Florença e em Estocolmo, "onde há um grupo muito ativo de mulheres" operadas. Myriam Scheffer diz qu ainda quer desenvolver a iniciativa na Bélgica e na Alemanha, em 2024.