PIB da China cresce 3% com impacto da Covid-19
Os economistas veem uma recuperação nos próximos meses assim que a atual onda de Covid passar
A economia da China se mostrou mais resiliente do que os analistas previam depois que uma nova onda de Covid varreu o país, sugerindo que o pior da crise pode ter passado com o início de uma recuperação desafiadora.
Embora o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 3% em 2022 tenha sido o segundo ritmo mais lento desde a década de 1970, os dados do quarto trimestre e de dezembro foram melhores do que os analistas esperavam.
Os economistas veem uma recuperação nos próximos meses assim que a atual onda de Covid passar, prevendo um crescimento de cerca de 5% em 2023. Mas a recuperação não será direta: a confiança do consumidor permanece perto de mínimos recordes, a população começou a encolher pela primeira vez em seis décadas e o mercado imobiliário continua em crise.
A queda da população ocorreu mesmo com a suspensão da política de filho único, ocorrida em 2016.
- A perspectiva para o crescimento do PIB em 2023 melhorou em comparação com nossa perspectiva anterior - disse Iris Pang, economista-chefe para a Grande China do ING Groep NV, que agora prevê um crescimento de 5% da economia da China em 2023. - Não é para ignorar o fato que a China ainda enfrenta ventos contrários consideráveis, incluindo a demanda externa, com recessões prováveis nos EUA e na Europa este ano - acrescentou Pang.
O crescimento do PIB no ano passado foi muito menor do que os 8,4% registrados em 2021, quando rígidas medidas de controle mantiveram o país em grande parte livre da Covid. Mas a leitura foi maior do que a estimativa mediana de 2,7% de uma pesquisa da Bloomberg com economistas, já que o crescimento no quarto trimestre chegou a 2,9%, superando as previsões de 1,6%.
O governo havia inicialmente estabelecido uma meta de crescimento de cerca de 5,5% em 2022, antes que os bloqueios para conter a Covid em várias cidades chinesas e o súbito fim da política de Covid Zero em dezembro colocassem essa meta fora de alcance. A atividade foi fraca em dezembro, embora novamente tenha superado as previsões sombrias dos analistas.
De acordo com outros indicadores econômicos divulgados nesta terça-feira, a produção industrial aumentou 1,3% em relação ao ano anterior, acima da previsão de 0,1%, enquanto as vendas no varejo contraíram 1,8%, contra uma queda prevista de 9%. Já o investimento em ativos fixos aumentou 5,1% no ano passado, em linha com as projeções dos economistas. A taxa de desemprego urbano caiu para 5,5% no mês passado, frente os 5,7% em novembro.
As vendas no varejo melhores do que o esperado no mês passado foram em parte devido ao forte crescimento nas compras de carros, já que os consumidores aproveitaram os subsídios do governo antes que eles acabassem, e um salto de quase 40% nos gastos com remédios. As vendas de restaurantes caíram, contraindo 14,1% em dezembro em relação ao ano anterior, pois a onda de coronavírus manteve as pessoas em casa.
Os formuladores de políticas sinalizaram que, em 2023, estão priorizando o crescimento econômico, com foco principal no aumento do consumo e investimentos no país. No entanto, mais estímulos fiscais e monetários podem estar por vir. Vale lembrar que, recentemente, o governo tomou medidas para facilitar a revisão regulatória do setor de tecnologia e reverter algumas das restrições ao mercado imobiliário.
Para os analistas da Bloomberg, o PIB da China no quarto trimestre do ano passado deve ser visto com preocupação, mas algum alívio:
- Os dados ainda são muito fracos - não há como esconder o fato de que a economia sofreu um golpe muito forte com a interrupção confusa da política de Covid Zero e os surtos que varreram o país em dezembro. Mesmo assim, indicadores de alta frequência sugerem que a economia pode ter chegado ao fundo do poço. Vemos uma recuperação sólida ocorrendo no segundo trimestre de 2023 - avaliam Chang Shu e Eric Zhu, analistas da Bloomberg.
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Reflexos a longo prazo
A enxurrada de dados divulgados nesta terça-feira também destacou os desafios de longo prazo, com a população se contraindo em 2022 pela primeira vez desde 1961. Isso terá repercussões no mercado de trabalho, na demanda por moradia e no sistema previdenciário do país nos próximos anos.
- A China não pode confiar no dividendo demográfico como um impulsionador estrutural do crescimento econômico. No futuro, a demografia será um vento contrário. O crescimento econômico terá que depender mais do crescimento da produtividade - afirmou Zhiwei Zhang, presidente e economista-chefe da Pinpoint Asset Management.
Além dos desafios domésticos, a China também enfrenta os riscos de uma economia global em desaceleração. A demanda por produtos fabricados no país despencou nos últimos meses, corroendo um pilar fundamental do crescimento.
Quase todas as províncias da China visam a um crescimento econômico de 5% ou mais em 2023. As autoridades estão debatendo uma meta de crescimento econômico nacional de cerca de 5%, informou a Bloomberg News no mês passado.
Após a divulgação dos novos números econômicos, o índice CSI 300 das ações onshore encerrou o dia pouco alterado, apagando quedas de 0,5%. Já o índice Hang Seng, da Bolsa de Hong Kong, ampliou sua queda para até 1,5%.
Dúvidas de dados
Alguns analistas expressaram ceticismo sobre os dados, que continham algumas discrepâncias notáveis. A maioria dos principais setores industriais registrou queda em dezembro, mas o número geral da produção industrial aumentou no mês. A produção de carros caiu 16,7%, mas as vendas aumentaram 4,6%. Durante todo o ano de 2022, a produção de cimento caiu 10,8%, embora as vendas de imóveis tenham caído 28,3%.
- O mercado não vai se importar muito com os números do quarto trimestre. Mesmo que fossem muito fracos, eles olhariam além da fraqueza e se preocupariam mais com as perspectivas - ressaltou Ding Shuang, economista-chefe para a Grande China e Norte da Ásia do Standard Chartered Plc.