Repercussão

Após fala de Lula, ministro sinaliza que governo não mudará lei sobre independência do Banco Central

Alexandre Padilha tenta contornar falas do presidente contra a taxa de juros e gestão de autoridade monetária

Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil - Ricardo Stuckert/PR.

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, tentou nesta quinta-feira (19) contornar a repercussão negativa de falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra o Banco Central (BC). Pelo segundo dia consecutivo, Lula fez críticas à taxa de juros e questionou o propósito da independência do BC.

Segundo Padilha, Lula não deve mudar a legislação que tornou a autoridade monetária independente. Roberto Campos Neto, presidente do BC, estará à frente do cargo até o fim de 2024.

"Como disse o presidente Lula, na sua experiência de governo, deu plena autonomia ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. O presidente não vai mudar de postura agora, ainda mais com uma lei que estabelece regras nesse sentido" escreveu Padilha.

O ministro acrescentou que Lula é "respeitoso". "Logo, não há nenhuma pré-disposição por parte do governo de fazer qualquer mudança na relação com o Banco Central. O governo sabe que a política monetária e o papel de análise da macroeconomia do Banco Central são de extrema importância. E, também por isso, a convivência respeitosa entre as instituições vai continuar sendo a ordem dessa gestão".

Pela manhã, Lula voltou a criticar o BC. Em encontro no Palácio do Planalto com 106 reitores e representantes de institutos de educação, o presidente disse que os agentes econômicos deveriam "aprender" uma nova "lógica" de que investimento não é gasto. Citou as áreas de saúde, educação, e urbanização de favelas para reforçar que o governo dará prioridade a pautas relacionadas a essas áreas.

— A única coisa que não é tida como gasto por essa gente de mercado é o pagamento de juros da dívida, eles acham que isso é investimento. Qual é a explicação de a gente ter um juro de 13,5% hoje? O BC é independente, a gente poderia não ter nem juro. Não é verdade? A inflação está 6,5%, 7,5%. Por que os juros estão 13,5%? — questionou Lula.

O presidente, então, falou sobre a existência de uma "dívida histórica".

— Qual é a lógica? Qual é a lógica da desconfiança que mercado tem de tudo que a gente fará de investimento. Eu não veja essa gente falar uma vez de dívida social. Nós temos uma dívida social de 500 anos com esse povo.

Na quarta-feira, em entrevista à GloboNews, Lula já havia criticado o BC a autonomia do Banco Central. Ele classificou como “uma bobagem” o sistema em que o chefe da autoridade monetária cumpre mandato – esse é o primeiro governo em que o presidente da república não indicou ninguém para o cargo.

Lula questionou ainda a serventia de uma "independência" se a inflação e taxa de juros estavam elevadas.