Três anos depois, Wuhan vira página da Covid-19
Cerca de 80% da população da China contraiu a Covid-19 desde o fim das restrições sanitárias no início de dezembro passado
"Não temos mais medo!", disseram nesta segunda-feira (23) os habitantes de Wuhan, que recuperaram uma vida completamente normal, três anos após o início de um rígido e traumatizante confinamento para lutar contra a Covid-19.
Cidade industrial de 11 milhões de habitantes situada no centro-leste da China, Wuhan sofre com o surto de um vírus desconhecido desde o final de 2019, o qual causou pneumonia em um número crescente de seus habitantes.
Em 23 de janeiro de 2020, as autoridades de Wuhan decidiram confinar a cidade, um mês e meio antes de a Organização Mundial da Saúde (OMS) considerar o vírus uma pandemia global que deixou milhões de mortos em todo o mundo.
Três anos depois, a vida voltou ao normal na maioria dos países, incluindo a China, cujo governo anunciou, no início de dezembro, o fim da maioria de suas restrições sanitárias.
Nesta segunda-feira, praticamente não havia sinais da cidade fantasma em que Wuhan se transformou a partir de janeiro de 2020.
Apesar do vento gelado, seus habitantes aproveitavam o feriado do Ano Novo Chinês para fazer compras nos mercados, ou passear às margens do rio Yangtze. Alguns idosos se alongavam, enquanto outros cidadãos de Wuhan soltavam pipas.
Muitos deles também visitam o Templo Guiyuan, um dos prédios mais conhecidos da cidade e aberto, pela primeira vez nos últimos três anos, para o feriado prolongado.
"Vida normal"
"O novo ano que começa agora será, sem dúvida, o melhor. Não temos mais medo do vírus!", disse o agente de manutenção Yan Dongju à AFP.
Um pouco mais adiante, um jovem entregador de refeições concorda com ele.
"Todo o mundo voltou a ter uma vida normal. Ficam com a família, com os amigos, sai para se divertir, ou viajar. Voltam a sorrir", comentou Liang Feicheng.
“Não estamos mais preocupados e inquietos como antes”, diz o entregador, de óculos e máscara para se proteger do frio gelado.
Anunciado no meio da noite e aplicado poucas horas depois, o confinamento de janeiro de 2020 pegou de surpresa os habitantes desta metrópole chinesa.
Aeroportos e estações de trem, bem como conexões rodoviárias, foram fechados. Wuhan ficou isolada do mundo por 76 dias, com seus habitantes trancados em suas casas e hospitais sobrecarregados com a chegada dos doentes.
Agora, o caos de três anos atrás é coisa do passado.
"A Casa da Esperança"
Em frente a uma loja, onde a AFP fotografou um cadáver caído na calçada, foi aberta uma escola, cujo nome parece ser um aceno para a superação desse período crítico: "A Casa da Esperança".
Suspeito de ser o epicentro da epidemia, o mercado de frutos do mar de Huanan fechou em 2020. Grandes barreiras azuis continuam protegendo o local, diante do qual há uma viatura policial, segundo a AFP.
Apesar do retorno dos habitantes de Wuhan à normalidade, assim como do restante da China, isso não significa que o coronavírus tenha desaparecido do gigante asiático.
Cerca de 80% da população da China contraiu a Covid-19 desde o fim das restrições sanitárias no início de dezembro passado, segundo o epidemiologista Wu Zunyu, uma referência no país da luta contra o vírus.
Neste fim de semana, a China informou a ocorrência pelo menos 13 mil novos óbitos "relacionados com a Covid-19" entre 13 e 19 de janeiro. Este número, que se refere apenas às pessoas falecidas nos hospitais, soma-se aos 60 mil mortos registrados desde dezembro e já anunciados pelas autoridades.