Escritora Jaqueline Fraga segue "Movendo as Estruturas" em seu mais recente livro
Jaqueline é escritora, jornalista e repórter da Folha de Pernambuco
Em meio ao sorriso (sempre) farto e ao aconchego dos abraços, a gratidão. A escritora e jornalista pernambucana Jaqueline Fraga poderia ser abreviada por essas ações, porque é dessa forma, de vez em sempre, que ela se apresenta a quem chega junto e entoa um parabéns pelo trabalho (necessário) na literatura, acumulado aos 32 anos de vida, dedicada, pode-se dizer, às letras que vociferam temas essenciais à mulher negra, tal qual como ela, mulher, negra e da arte.
Foi assim com os livros "Negra Sou: A Ascensão da Mulher Negra no Mercado de Trabalho" (2019), "Big Gatilho" (2021) e com o mais recente "Movendo as Estruturas", tomado por uma coletânea de artigos de opinião e lançado no último mês de novembro, culminando numa trilogia que, embora comporte obras distintas, estão conectadas com questões raciais, mote da literatura assinada por Jaqueline.
"Eles trazem como conexão a análise de questões raciais, muito com foco no combate ao racismo e no empoderamento da mulher negra. O 'Negra Sou' é um livro-reportagem e o 'Movendo as Estruturas' é uma coletânea de artigos de opinião, muitos publicados no Portal Geledés, um dos principais voltados para a vivência de mulheres negras", explicou a escritora, que na Folha de Pernambuco atua como repórter da Editoria Cotidiano.
Engrandecido, em uma das orelhas, por dizeres de uma irrefutável Conceição Evaristo, que assevera: "Para a mulher negra, escrever é um ato político", Jaqueline adianta também ao leitor que no decorrer de "Movendo as Estruturas", uma frase de outra notória, como Angela Davis, vai ser vista algumas vezes nas pouco mais de 90 páginas do livro.
A frase a qual a pernambucana se refere é: "Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela". E, de fato, não é de hoje que Jaqueline Fraga se move por meio da escrita.
"Eu sempre gostei de escrever, sempre, desde criança. Costumo dizer que é a minha melhor forma de expressão e é onde eu me encontro. Até na biografia de apresentação dos meus livros, digo que escrevo porque respiro, respiro porque escrevo", conta ela, que guarda, com orgulho, alguns fatos de sua desenvoltura na escrita: foi idealizadora do 1º Festival Pernambucano de Literatura Negra, finalista com "Negra Sou" no Prêmio Jabuti (2020) e com a mesma obra ganhou menção honrosa do Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo, além de ter sido agraciada com o Prêmio Antonieta de Barros.
"Às vezes é difícil refletir sobre nós mesmas, né? Acho que a gente vive em constante mudança, mas com a nossa essência mais profunda sempre ali presente. Hoje, eu vejo uma jovem mulher negra, que já conquistou alguns sonhos mas que ainda tem muito a buscar. Uma pessoa que deseja usar sua voz para dar voz a outras pessoas e às causas que defende e acredita", expõe Jaqueline, ao ser indagada como se ver ao se deparar com si própria, no espelho.
"Alguém que sente, muito, sempre. Que chora e sorri, erra e acerta, cai e tenta levantar. Espero que o espelho seja generoso comigo, que eu mesma seja generosa comigo. Porque, às vezes, a gente acaba se auto cobrando demais, em diferentes aspectos. Mas venho buscando viver o caminho e ter esse entendimento já me faz bem", arremata ela que, com simplicidade e leveza - atributos que descrevem sua forma de escrita - traz à tona na sua obra mais recente, passagens como a sua descoberta do racismo impregnado em uma "inocente" novela como "Chiquititas".
"Os irmãos Pata e Mosca (personagens da novela), são os únicos que têm como apelidos nomes de animais. Nós nem sabemos os seus verdadeiros nomes. Não preciso dizer a vocês que eles são duas das poucas crianças negras da trama. Daí vem a questão: por que justamente esses personagens não foram tratados pelos nomes próprios como as demais crianças?".
Serviço
"Movendo Estruturas", livro de Jaqueline Fraga
Preço: R$ 54,90
À venda na Livaria Jaqueira (Bairro do Recife) e diretamente pelo e-mail: livronegrasou@gmail.com ou via Instagram (@jaquefraga_ e @livronegrasou)