Bloqueios rodoviários provocam escassez de combustível e alimentos no Peru
Protestos já deixaram 46 mortos
Os bloqueios em estradas do Peru começavam a causar escassez de alguns produtos básicos, bem como o aumento dos preços dos combustíveis e alimentos em províncias do sul andino, epicentro das manifestações que pedem a renúncia da presidente Dina Boluarte.
Os protestos já deixaram 46 mortos, incluindo um policial, após seis semanas de uma crise política e social marcada por bloqueios viários e manifestações em diferentes regiões do país.
Para esta quarta-feira (25) estava previsto um novo dia de protestos, depois que Lima foi cenário ontem de uma batalha campal entre policiais e manifestantes, a mais violenta desde o começo da crise, em dezembro.
O gás liquefeito de petróleo (GLP), principal combustível para veículos e também de uso doméstico no Peru, já estava em falta no comércio em Arequipa, Tacna e Puno, regiões do sul do Peru que afirmam nas manifestações serem as mais pobres, esquecidas e discriminadas por suas populações de maioria indígena.
“Já me informaram que acabou o GLP em Arequipa”, disse Alexander Cornejo, representante dos taxistas, em declarações à rádio RPP, referindo-se à situação nesta área onde cerca de 7.000 taxistas sofrem com a falta de combustível.
Na região amazônica de Madre de Dios, na fronteira com Brasil e Bolívia, registra-se um desabastecimento de alimentos e combustíveis devido aos bloqueios na rodovia que liga a costa sul do Peru a cidades brasileiras.
Segundo o governador Luis Otsuka, caso o bloqueio continue, começarão a buscar alimentos e combustível do Brasil e da Bolívia. "Eles têm que emitir um decreto de emergência que permita a importação desses produtos", observou.
O governo de Dina Boluarte, que tomou posse em 7 de dezembro, após a destituição de Pedro Castillo, teve uma nova baixa nesta quarta-feira, com a renúncia da ministra da Produção, Sandra Belaunde.
- Alimentos inflacionados -
Devido à escassez, comerciantes da cidade de Puno, localizada 1.350 quilômetros ao sul de Lima e palco dos protestos mais violentos que resultaram em 18 mortes no início de janeiro, triplicaram os preços de itens como batatas e tomates.
"Os fechamentos dos mercados nos afetam de alguma forma, mas acho bom que estejam se manifestando para que a senhora Boluarte saia", comentou a moradora de Puno Jacqueline Flores. A inflação anual no Peru foi de 8,46% em 2022, a mais alta em 26 anos.
Segundo autoridades dos transportes, havia hoje 85 bloqueios de rodovias em nove das 25 regiões peruanas. Os alimentos não chegam às regiões porque centenas de caminhões estão parados nas rodovias das regiões de Ica e Puno.
O Ministério da Economia informou que os protestos nas diferentes regiões geram um prejuízo de 535 milhões de dólares.
- Sem solução à vista -
Nesta terça-feira, sexto dia de protestos no centro de Lima, policiais e manifestantes encapuzados se enfrentaram violentamente e transformaram o centro histórico da capital peruana em um campo de batalha onde pedras e balas voaram em uma nuvem de gás lacrimogêneo.
Em Cusco, cidade mais turística do Peru, o aeroporto voltou a funcionar, depois de ter sido fechado ontem por segurança, informou o Ministério dos Transportes.
A presidente peruana informou que participará hoje de uma sessão virtual da Organização de Estados Americanos (OEA) sobre a situação no país.
Os protestos começaram após a destituição e prisão do presidente de esquerda Pedro Castillo em 7 de dezembro, quando o governante tentou dissolver o Parlamento, controlado pela direita e prestes a afastá-lo do poder por suposta corrupção.
No entanto, após sua retomada em 4 de janeiro, as principais demandas dos protestos se concentraram em direitos sociais, desigualdade e discriminação racial em áreas históricas esquecidas no Peru de maioria indígena.