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Nova morte de homem negro por policiais gera incompreensão nos EUA

Desde que Tyre Nichols, de 29 anos, morreu, no começo do mês, sua família não para de fazer apelos

Na tarde desse sábado (28), dezenas de manifestantes pediram a reforma da polícia em frente à Prefeitura de Memphis - Seth Herald / AFP

O vídeo em que cinco policiais negros aparecem espancando um jovem afro-americano, que acabou morrendo devido aos ferimentos causados na agressão, provocou horror e incompreensão nos Estados Unidos após sua exibição na noite de sexta-feira (27).

Desde que Tyre Nichols, de 29 anos, morreu, no começo do mês, sua família não para de fazer apelos. E antes da divulgação do vídeo, exibido ao vivo e sem cortes pelas principais emissoras de televisão, o presidente Joe Biden ligou a mãe e o padrasto do jovem, e pediu à população que se manifeste pacificamente.

Concentrações foram registradas na noite de sexta, algumas com dezenas, outras com centenas de pessoas, em Memphis, Nova York e Washington.

Na tarde desse sábado (28), dezenas de manifestantes pediram a reforma da polícia em frente à Prefeitura de Memphis gritando "Sem justiça não já paz!" e exibindo cartazes com lemas como "Justiça para Tyre Nichols".

JB Smiley Jr, funcionário da Prefeitura, se dirigiu aos manifestantes debaixo de chuva: "Memphis tem a oportunidade de marcar a pauta de como responder a ações como esta".

Pouco depois, a polícia de Memphis decidiu desativar permanentemente a unidade SCORPION, à qual pertenciam os cinco policiais que agrediram Nichols.
 

O vídeo das agressões exibido pela polícia mostra o espancamento após uma blitz de rotina em 7 de janeiro, em Memphis, estado do Tennessee.

Os policiais agridem o jovem com socos, chutes e golpes de cassetetes, gás de pimenta e uma pistola Taser. Em nenhum momento Nichols parece tentar agredir os policiais. Ele tenta fugir e é pego. "Mamãe! Mamãe! Mamãe!", grita Nichols em um dos vídeos.

Aparentemente, o espancamento ocorreu a cerca de 100 metros da casa da mãe da vítima. E a ambulância demorou uns 20 minutos para chegar.

O jovem morreu três dias depois em um hospital de Memphis. Robert Jones, de 26 anos, atendente de uma loja em Memphis, assistiu a trechos do vídeo. "Ouvi dizer que é um ano novo, mas as coisas não mudam", disse, referindo-se à violência policial.

"É horrível ver cinco caras grandes batendo neste homem", afirmou Nancy Schulte, de 69 anos, recepcionista de um hotel da cidade.

"Cultura" policial
Os cinco policiais foram demitidos, acusados de homicídio, e presos. Quatro deles foram postos em liberdade sob fiança.

Na sexta, embora tenha expressado seu horror, a família se disse "satisfeita" com as acusações apresentadas contra os policiais e elogiou a atuação "rápida" contra eles.

Apesar das palavras da família de Nichols, "se o veredicto for errado, os protestos serão maiores", prevê Demarcus Carter, um afro-americano de 36 anos, morador de Memphis, após assistir ao vídeo. "Poderia ter sido eu", acrescentou.

As imagens exibidas no vídeo despertam muitas interrogações. No clipe aparece o início da interação entre Nichols e os policiais.

Esta nova morte antes de uma detenção reacendeu as discussões sobre a violência policial nos Estados Unidos, onde está viva a lembrança da morte de George Floyd, assassinado em 2020 por um policial branco, um caso que deu origem a fortes protestos antirracistas.

Ben Crump, um dos advogados da família Nichols, culpou a "cultura policial institucionalizada".

"Não importa se o policial é negro, hispânico ou branco (...) Existem normas não escritas, segundo as quais, se uma pessoa pertence a um grupo étnico determinado, pode ser tratada com excesso de força", declarou neste sábado (28) à rede MSNBC. "Esta é a cultura que matou Tyre Nichols", acrescentou.