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Renault vai cortar sua fatia na Nissan de 43% para 15%

Com o acordo, ainda sujeito à aprovação dos Conselhos de Administração, a companhia japonesa investirá até US$ 750 milhões no novo negócio de carros elétricos da montadora francesa

Renault - Unsplash

A montadora francesa Renault concordou em reduzir sua participação na japonesa Nissan de cerca de 43% para 15% em uma reformulação abrangente da aliança automotiva de duas décadas. O acordo, ainda sujeito à aprovação de ambos Conselho de Administração, fará com que a montadora francesa coloque cerca de 28% da montadora japonesa em um fundo francês, fazendo com que as duas empresas fiquem em pé de igualdade.

Além disso, permitirá à Renault avançar com a divisão de seu negócio de carros elétricos, conhecido como Ampère, que a empresa deseja listar em uma oferta pública inicial (IPO) ainda neste ano.

O acordo ocorre após meses de negociações tensas, que correram o risco de fracassar no fim do ano passado devido a divergências sobre propriedade intelectual e desacordo sobre a avaliação do negócio de veículos elétricos da Renault, disseram pessoas familiarizadas com a situação.

Datada de 1999, a aliança foi estabelecida quando a Renault resgatou a Nissan com uma injeção de dinheiro para formar uma das maiores parcerias automotivas do setor. Ao longo dos anos, rivalidades e suspeitas mútuas aumentaram com as tensões se espalhando na política nipo-francesa quando a Renault pensou em fundir as duas empresas.

As mudanças na aliança, que também incluía a também japonesa Mitsubishi, faziam parte dos planos de Carlos Ghosn, que comandava a parceria até ser preso em 2018, por suspeita de fraude. Ele escapou na prisão no Japão e hoje vive no Líbano.

As ações da Renault caíram até 4,1% nas negociações de Paris, reduzindo alguns de seus ganhos recentes. A fabricante vem avançando em uma reviravolta sob o comando do CEO Luca de Meo, incluindo a difícil saída da Rússia, seu segundo maior mercado, após a invasão da Ucrânia. Desde março do ano passado, depois que de Meo lançou planos para uma reforma profunda, as ações da Renault subiram 75%.

"Uma estrutura de capital redimensionada deve ajudar a manter a aliança viável, mantendo as sinergias e abrindo oportunidades estratégicas para ambos os lados", disse o analista da Jefferies, Philippe Houchois, em nota. “A Renault resistiu à pressão para vender nos níveis atuais e agora está em posição de alocar melhor o excesso de capital para crescimento e acionistas”.

Renault, Nissan e a parceira júnior Mitsubishi Motors Corp. planejam avançar por meio de colaborações em projetos específicos, inclusive na Índia, América do Sul e Europa. A Nissan também investirá no negócio de veículos elétricos e software da Renault, a Ampère, com o objetivo de se tornar um acionista estratégico, de acordo com o comunicado.

A Nissan pode investir de US$ 500 milhões a US$ 750 milhões em uma participação de cerca de 15% na Ampere, disseram pessoas familiarizadas. O acordo com a Nissan é crucial para de Meo seguir em frente com sua própria estratégia, envolvendo uma divisão em cinco unidades diferentes, incluindo também uma entidade separada para o legado de negócios de motores de combustão da Renault com a nova parceira chinesa Zhejiang Geely.

Os diretores independentes da Nissan endossaram as propostas da Renault no início deste mês, com o anúncio oficial planejado para um evento provisoriamente marcado para 6 de fevereiro em Londres, dizem as fontes.

Aproximação
Os dois lados estão se aproximando de uma decisão desde o início do ano passado. Um acordo final abordará um desequilíbrio de poder que há muito incomoda os executivos no Japão. Embora a Renault detenha até agora a maior participação de 43% com direito a voto, a Nissan fabrica mais carros enquanto possui uma fatia de 15% na montadora francesa e sem direito a voto.

Aprovado o acordo, Nissan e Renault terão uma participação cruzada de 15%, que permitirá à montadora japonesa exercer seus direitos de voto, o que não era possível fazer anteriormente.

Os crescentes custos de eletrificação e a rápida inovação tecnológica significam que Renault e Nissan não podem desperdiçar alguns dos benefícios derivados da aliança, como compras comuns e plataformas de carros.

A colaboração contínua em vários projetos industriais foi uma condição crucial para a Renault obter a aprovação do reequilíbrio da aliança do governo francês, seu acionista mais poderoso. Segundo as fontes, a Renault propôs trabalhar em 10 projetos comuns.