Líder do governo admite acelerar indicações de aliados, mas nega relação com eleição no Congresso
Às vésperas da votação para presidência do Senado, Jaques Wagner afirma que não haverá "cambalhota" nas negociações de segundo e terceiro escalão do governo
O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), admitiu que o governo pode acelerar nomeações em cargos no segundo e no terceiro escalão para atender a demandas de parlamentares na véspera da votação para as Mesas da Câmara e do Senado. Segundo ele, que trabalha para reeleger o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), apesar da pressão, não haverá "cambalhota" nas indicações já previstas em troca de apoio.
Sempre terá pedido (de cargos). Às vezes, o cara quer que apresse (a nomeação), (para) já ficar uma coisa mais certa, mas ninguém vai dar cambalhota para fazer isso. Se tiver uma bobagem para superar, qual o problema? (Mas) Não existe uma negociação específica em função (da eleição do Senado). É o que estava negociado com os partidos.
Ter um aliado no comando do Senado é considerado estratégico para o governo, que depende do aval dos senadores para nomear ministros de tribunais superiores, diretores de agências, embaixadores, além de maioria para aprovar projetos de seu interesse. Sob Jair Bolsonaro, foi na Casa em que o Palácio do Planalto enfrentou suas maiores dificuldades, como a CPI da Covid.
Qual pedido do presidente? Ele quer paz para poder governar e maioria para poder ganhar, é a nossa tarefa aqui, afirmou Wagner.
Aliados de Lula trabalham para Pacheco ter uma vitória significativa frente ao principal adversário, o senador Rogério Marinho (PL-RN), aliado de Bolsonaro. Na visão deles, uma vitória folgada de Pacheco daria fôlego à base do governo e reforçaria o movimento de defesa da democracia, frente aos atos terroristas de 8 de janeiro, algo que já tem sido feito pelo entorno de Pacheco. Neste contexto, Wagner é considerado a voz do presidente Lula no Senado e tem autorização do Planalto para negociar em nome da Presidência.
É tudo muito difícil, estamos saindo de quatro anos em que as relações políticas foram muito diminuídas, rebaixadas, não tinha discussão de projeto de ideias, disse.
O senador admitiu que, com voto secreto para a eleição da Mesa, é possível haver "surpresas".
Aqui, como é um colegiado muito mais restrito, com 81 pessoas, é evidente que você tem uma visão muito mais próxima da realidade. Quem é Marinho enraizado, seguramente não vamos virar. A não ser como tem do lado de cá, o cara pode ser bolsonarista, mas o Marinho ter feito alguma grosseria com ele. Ele já foi ministro, né? Não sei se ele atendeu todo mundo bem.
Ao avaliar a campanha à presidência do Senado de Marinho, Wagner disse que o senador tem atuado para "perder voto" por ter posições radicais bolsonaristas e estar se colocado como líder da oposição, não como futuro presidente da Casa:
Na minha opinião, a campanha dele tende a perder voto, não a ganhar voto, ele não está se propondo a ser presidente do Senado, ele está se propondo a ser líder do bloco de oposição, pelas bandeiras que ele tem levantado, afirmou. Essa pauta dele, e a forma como está fazendo, quase que o gabinete do ódio de novo aqui dentro, para mim isso só desqualifica ele. Isso não é qualquer coisa, é ser presidente de um poder, e não pode ser presidente de uma turma. Eu defendo o Pacheco porque ele se propõe a ser presidente do Senado e o outro não é, disse Wagner.
O líder do governo no Senado disse que tem usado como argumento a favor de Pacheco o fato do atual presidente ter cabeça tranquila e ter dito êxito em negociações internas em dois anos turbulentos à frente da presidência do Senado, necessários especialmente agora, frente ao atual momento de polarização da sociedade e após os atos terroristas de 8 de janeiro:
Acho que com isso eu conquisto voto de gente que não necessariamente é Lula mas que sabe que não pode ter o líder da oposição sentado na cadeira. Ele vai fazer o que? Atrapalhar governo de Lula o tempo todo? Esse será o papel do presidente do Senado? Ele faz campanha para não ter voto, vai ter voto dos dele.