De Mourão a Nikolas Ferreira: tropa bolsonarista debuta ávida por protagonismo na Câmara e no Senado
Ex-ministros como Sérgio Moro, Marcos Pontes e Ricardo Salles iniciam caminhada como parlamentares
Eleitos com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), senadores e deputados iniciam seus mandatos nesta quarta-feira (1º) com o discurso de que farão uma oposição dura, mas responsável.
A retórica foi reforçada principalmente após os atos golpistas de 8 de Janeiro promovidos por bolsonaristas radicais. A ideia é se distanciar das cenas de vandalismo, sem largar as bandeiras da direita que os elegeram, como pautas de costumes e as críticas ao que classificam como excessos do Supremo Tribunal Federal (STF).
No Senado, a tropa bolsonarista é composta por 14 nomes, como o ex-vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos-RS) e os ex-ministros Damares Alves (Republicanos-DF), Marcos Pontes (PL-SP), Tereza Cristina (PP-MS) e Rogério Marinho (PL-RN), que disputa nesta quarta-feira a presidência da Casa. O ex-juiz da Lava Jato e também ministro de Bolsonaro, Sergio Moro, também engrossa as fileiras da oposição. O grupo ainda tem nomes como Cleitinho (PL-MG) e Magno Malta (PL-ES).
Na Câmara, onde o PL de Bolsonaro tem a maior bancada, com 99 deputados, protagonistas do antigo governo também estão presentes, como Ricardo Salles (PL-SP), ex-titular do Meio Ambiente, e Eduardo Pazuello (PL-RJ), que comandou o Ministério da Saúde. A dupla debuta no Congresso hoje, assim como o youtuber bolsonarista Nikolas Ferreira (PL-MG).
Estreante no Senado, Damares não nega a ambição por protagonismo: ela quer integrar comissões estratégicas para suas pautas conservadoras, como a de Direitos Humanos. Plenajea ainda compor o colegiado de Fiscalização e Controle e a cobiçada Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). A ex-ministra, porém, diz que não fará “oposição por oposição.”
— Os bolsonaristas eleitos (para o Senado) são sensatos. Não vamos fazer oposição por oposição, seremos uma direita propositiva. Não vamos querer CPI para engessar o governo — exemplifica Damares ao Globo.
Apesar de ter apoiado Bolsonaro no segundo turno das eleições, o ex-juiz da Lava Jato Sérgio Moro se declara independente e diz que terá como principais bandeiras o combate à corrupção e a segurança pública. Ele também promete aderir a uma “oposição racional”, embora acuse o atual governo de acreditar numa sociedade de "fachada".
— Eu não comungo das mesmas ideias e princípios do governo do PT. O PT acredita em uma economia fechada, numa sociedade fechada, e eu acredito em uma sociedade aberta, em uma economia aberta. Além disso, o PT normalmente é leniente com o combate à criminalidade e a questão da corrupção — disse.
O ex-vice-presidente Hamilton Mourão diz que terá como prioridades as reformas tributária, administrativa e política, bem como as questões ligadas à saúde, educação, segurança pública e defesa.
— Sou contra as pautas que nada significam em termos de geração de emprego e renda. A favor de um equilíbrio fiscal e de ordem nas contas públicas. Atento ao uso do nosso dinheiro em projetos duvidosos junto a vizinhos mais duvidosos ainda.
Ricardo Salles, por sua vez, reconhece não ter feito qualquer curso capacitante para a nova função. Ele diz ter vontade de "aprender na prática" e, apesar de se dizer militante do bolsonarismo, não vê problemas em integrar o mesmo bloco que os petistas pela eleição de Lira.
— Não é um problema ser oposição. Quero aprender na prática e me dedicar ao dia a dia da Câmara. Espero ocupar uma das vices dentre as três lideranças que o PL terá direito e ter tempo para ser deputado. Sobre a composição do bloco com os petistas, está claro que o acordo é pontual — conclui.