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Pacheco aposta na defesa da democracia e em Lula para se manter na presidência do Senado

Antes dada como fácil, vitória é ameaçada pelo bolsonarista Rogério Marinho, cuja campanha ganhou fôlego nos últimos dias

Rodrigo Pacheco - Waldemir Barreto/Agência Senado

Enquanto Arthur Lira (PP-AL) deve se reeleger para a presidência da Câmara com o maior número de votos desde a redemocratização, o cenário para Rodrigo Pacheco (PSD-MG) permanecer à frente do Senado se complicou nos últimos dias. Apesar de ainda favorito, a vitória retumbante que desejava se vê ameaçada pelo fôlego que o bolsonarista Rogério Marinho (PL-RN) ganhou na reta final da disputa.

Pacheco e seus aliados apostam na narrativa de defensor da democracia — o único com aparentes chances reais de vitória capaz de liderar o Congresso e salvaguardar as instituições após os ataques de 8 de janeiro aos Três Poderes. Ele também apresenta-se como bastião do diálogo e da quebra da polarização política na disputa que é cotada como o "terceiro turno" da eleição presidencial, opondo-se a Marinho e sua aposta no tensionamento.

O mineiro de 46 anos recebeu o apoio formal de PT, MDB, PDT e PSB, após Lula e seus aliados decidirem não tentar mexer no comando das Casas como uma aposta de que assim seria mais fácil avançar suas pautas prioritárias. O presidente não pediu explicitamente votos para Pacheco, mas posou sorridente ao seu lado ao recebê-lo para jantar na semana passada, depois que retornou da Argentina e do Uruguai.

Onze ministros também foram liberados para voltar ao Congresso e ajudar nas disputas da Câmara e do Senado, em uma aproximação que começou antes mesmo da posse. Por meses, Pacheco se afastou gradualmente de Bolsonaro: na noite da vitória do petista, por exemplo, reafirmou a lisura do sistema eleitoral e disse que o papel do novo governo seria de “reunificar” o Brasil.

O que ameaça o triunfo de Pacheco, contudo, são as dissidências: ele não deve, por exemplo, o apoio de ao menos três dos 16 integrantes do seu PSD, número que pode aumentar até o voto acontecer. Também há baixas públicas no União Brasil, partido de seu aliado e fiador Davi Alcolumbre — entre elas, a do ex-ministro da Justiça Sergio Moro.

Dos oito votos do União Brasil, Marinho deve contar com três ou quatro, e também há expectativa de baixas no MDB. As preocupações aumentaram após o racha no hoje minúsculo PSDB: dois dos três senadores do partido declaram apoio ao candidato do PL, o que gerou críticas públicas de deputados tucanos.

Outro fator é o apoio de Bolsonaro, que ganhou força nesta reta final. A ex-primeira-dama Michelle participou de um jantar para aliados de Marinho em Brasília na segunda e pôs no viva-voz o ex-presidente, que não tem data para voltar da Flórida, onde está desde que deixou o Brasil na antevéspera do fim de seu mandato para não passar a faixa presidencial.

Ele aposta na habilidade para a construção de consensos que vem sendo sua marca desde os tempos em que estudava Direito e que ficou clara quando chegou à presidência do Senado há dois anos. Na época, era não apenas o candidato preferido de Bolsonaro, mas também o escolhido pelo PT.

Pacheco não é um político de longa data: foi eleito deputado federal em 2014 e chegou ao Senado quatro anos depois, à época pelo Democratas. Mudou para o PSD em 2021, quando era cotado para concorrer à Presidência da República, algo que nunca se concretizou.

Foi também peça-chave das articulações entre novembro e dezembro que levaram o Congresso a aprovar o Orçamento deste ano e a "PEC da Transição", que ampliou em R$ 145 bilhões o teto de gastos. As medidas liberaram recursos para dar alguma margem a Lula em seu primeiro ano de governo, incluindo verba para o programa nacional de transferência de renda rebatizado de Bolsa Família.