Caso Americanas

Crise da Americanas: bancos se reúnem nesta quarta-feira para discutir empréstimo de até R$ 2 bi

Um dos temas do encontro é o empréstimo da modalidade DIP que a empresa tenta fechar para manter as operações

Lojas Americanas - Mauro Pimentel / AFP

Advogados que representam os bancos se reúnem nesta quarta-feira (1º) para discutir a situação da Americanas, como antecipou o colunista do Globo Lauro Jardim. A varejista entrou em recuperação judicial com uma dívida de R$ 41,2 bilhões, mas, deste total, R$ 26,4 bilhões correspondem a débitos com 12 instituições financeiras.

Um dos temas do encontro é o empréstimo da modalidade DIP (do inglês debtor-in-possession) que a empresa tenta fechar, voltado a manter as operações da empresa.

Esse tipo de empréstimo é voltado para empresas em recuperação judicial. Ele passa na frente na fila de pagamentos. Esta é uma forma de evitar que a companhia consiga levantar recursos para manter suas atividades no período em que está com o caixa blindado da ação dos credores. Entre os bancos, a informação é que o valor total do empréstimo pode chegar a R$ 2 bilhões.

Aprovação da Justiça
Na noite de terça-feira, a Americanas informou que discute com seu trio de acionistas de referência, os bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, para que eles aportem o valor mínimo do empréstimo DIP, que seria de R$ 1 bilhão. Como se trata de empréstimo para empresa em recuperação judicial, o financiamento precisa ser aprovado pela Justiça e pelos credores.

No lado dos bancos, ainda existem muitas dúvidas. O entendimento, segundo fontes, é que o valor do empréstimo é insuficiente para viabilizar a operação. De acordo com um participante das negociações, o interesse em aderir ao empréstimo é baixo e ele pode ficar restrito aos acionistas de referência por ter rendimento previsto de 128% do CDI.

Desde o início da crise, os bancos têm defendido um aporte entre R$ 10 bilhões e R$ 15 bilhões para sanear a companhia.

Fim do televendas e corte de terceirizados
Enquanto a empresa tenta viabilizar recursos, no dia a dia começa a rever suas operações. Na terça-feira ela interrompeu contratos com empresas que fornecem serviços terceirizados.

A empresa prepara um plano de fechamento de lojas como parte de seu processo de reestruturação, o que pode levar a demissões. Nesta quarta-feira, encerrou o serviço de televendas.

O caixa da companhia perdeu fôlego desde que a Americanas anunciou no dia 11 deste mês a descoberta de "inconsistências contábeis" de R$ 20 bilhões nos balanços de 2022 e de anos anteriores.

Após a descoberta, as ações da empresa desabaram, os bancos tentaram resgatar recursos que haviam sido emprestados à companhia e parte dos fornecedores suspendeu entregas. O agravamento da crise levou a companhia a pedir a proteção da Justiça contra credores.

"O financiamento DIP visa ajudar a companhia a manter o curso normal de seus negócios e reforçar sua liquidez", disse a empresa.

A empresa disse ainda que "o financiamento DIP poderá ser eventualmente substituído por novo financiamento, conversível em ações da companhia, e que assegurará o direito de preferência de todos os acionistas".

Caso aprovado, a empresa afirma que o empréstimo permitirá manter investimentos em capital de giro e financiar obrigações como pagamento de fornecedores e parceiros. A Americanas pretende ainda explorar outras fontes de recursos, como a liberação de valores retidos por parte dos credores.

Desde o início da crise, os bancos têm travado uma batalha jurídica em tribunais de Justiça do Rio e de São Paulo para reaver recursos emprestados à varejista. No caso do BTG, por exemplo, a disputa já está no âmbito do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Em São Paulo, Bradesco, Itaú e Santander entraram com recursos para gerar provas antecedentes, que incluem a apreensão de documentos.