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Lula critica autonomia do BC e sugere rever modelo ao fim do mandato de Campos Neto

O presidente também voltou a criticar a Selic, afirmando que não há "nenhuma razão" para a taxa de juros estarem em 13,75% ao ano

Sede do Banco Central - Marcello Casal / Agência Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou na noite de quinta-feira a autonomia do Banco Central. Em uma entrevista à RedeTV, o presidente afirmou que poderá rever o modelo da autoridade monetária ao fim do mandato de Roberto Campos Neto, que vai até dezembro de 2024.

O povo tá melhorando de vida? Não! Então eu quero saber de que serviu a independência (do BC). Eu vou esperar esse cidadão terminar o mandato dele, para fazermos uma avaliação. O que significou o banco central independente?, disse Lula na entrevista.

Questionado se eventualmente poderia apresentar alguma proposta de mudança da autonomia do BC, Lula disse que essa seria uma possibilidade, mas que seu foco é reduzir a taxa de juros.

Eu acho que pode! Mas isso é irrelevante para mim. Não está na minha pauta. O que está na pauta é a questão da taxa de juros. Outro dia eu me queixei que eles fizeram uma meta de inflação de 3,7%. Quando você faz uma meta de inflação de 3,7%, você está exagerando numa promessa que você tem que arrochar para cumprir. O Brasil não precisava disso, afirmou o presidente.

O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu nesta quarta-feira (03) manter a Selic em 13,75% ao ano, com a expectativa de inflação em 5,74% para 2023, acima do teto da meta para o ano, de 4,75%. Essa foi a quarta manutenção da taxa e a primeira decisão do colegiado sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Eu vou fazer uma reunião com alguns empresários, pretendo fazer uma reunião com alguns bancos, junto com os empresários, para a gente discutir com muita seriedade a taxa de juros nesse Brasil. Não existe nenhuma razão para a taxa de juros está em 13,75%, nenhuma razão nenhuma, afirma o presidente.

Na mesma entrevista, o presidente Lula definiu como “bobagem” a discussão sobre “acabar” com a autonomia do Banco Central e lembrou da sua relação com Henrique Meirelles, que foi presidente da autarquia entre janeiro de 2003 a janeiro de 2011. Este é o primeiro governo que não indicou ninguém para o cargo máximo no BC, no início do mandato.

A autonomia do Banco Central foi sancionada em 2021, ainda no governo Bolsonaro. O presidente e diretores, por regra, passaram a ter encargos fixos de quatro anos, não coincidentes com o mandato do presidente da República.

O Meirelles teve toda a autonomia para fazer a política monetária. Acontece que nós conversávamos, disse. Agora você tem uma meta que é ilusória, você não a cumpre e fica prejudicando o crescimento do país. Isso é normal? Vamos perguntar para o presidente da Câmara e para o presidente do Senado se eles estão felizes com a atuação do presidente do Banco Central. Porque eu acho que eles imaginavam que fazendo o Banco Central autônomo, a economia iria voltar a crescer, complementa.

A meta de inflação para este ano é de 3,25%, com intervalo de tolerância de 1,50 pontos. Ou seja, o teto é de 4,75%.