ENTREVISTA

Ministro da Pesca, André de Paula, ironiza o Governo do Estado: "Só me resta rezar por Raquel"

O ministro da Pesca, André de Paula, diz que a governadora Raquel Lyra insiste em governar sem compartilhar o governo com os partidos da sua base

O ministro da Pesca, André de Paula, fez críticas ao Governo Raquel e falou dos projetos da sua pasta - Divulgação

O ministro da Pesca, André de Paula, revela, em tom de ironia, nesta entrevista exclusiva à Folha, que reza todos os dias para a governadora Raquel Lyra (PSDB) acertar, pensando no melhor para o Estado. A reza, segundo ele, se dá pelo fato de a tucana insistir em governar sem o compartilhamento do seu Governo com os partidos da sua base. “Na hora de governar, quando a gente pode envolver, responsabilizar, fazer as pessoas sentirem que o desafio é delas também, se leva uma vantagem grande. Mas eu respeito a governadora. Ela pensa de forma diferente, tem um estilo próprio, vai governar dessa forma. Torço e rezo para que dê certo”, afirmou.

Como é tocar um Ministério sem o qual o senhor nunca teve um mínimo de conhecimento técnico?

Para mim, foi uma honra enorme, um privilégio, merecer a confiança do presidente Lula e fazer parte do seu governo no primeiro escalão. Esse desafio, que já era grande, passou a ser maior porque sou um político, não um técnico do ponto de vista da pasta que ocupo. Mas muito rapidamente me senti muito à vontade, porque entendi a importância da liderança política no comando do Ministério.

Então, o segredo é se assessorar de bons técnicos e usar sua experiência política...

Com certeza, é isso que fiz e estou ampliando. Na questão orçamentária, por exemplo, tenho a chancela de um partido com 42 deputados, 16 senadores, inclusive o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco. Isso se reflete na energia política para somar recursos fundamentais para tocar as políticas públicas. A maioria das reivindicações do Ministério passam pelo Congresso.

Como assim?

A modernização da atividade pesqueira, por exemplo, tem um arcabouço jurídico que tem que ser pactuado no Congresso. Tem duas prioridades muito importantes aqui. A primeira é a volta do fornecimento do pescado brasileiro para o mercado europeu, o maior mercado consumidor. E nós estamos sem fornecer nossos produtos desde 2018. Essa é uma questão que só se resolve na política.

Por que isso aconteceu?

Há um conjunto de razões, mas acho que o próprio Brasil se fechou para o mundo. As posições, por exemplo, em relação ao meio ambiente comprometeram muito a posição. O olhar que tinha uma grande simpatia do mundo por nós passou a ser diferente. Acho que o presidente Lula recoloca o Brasil com uma nova visão para o mundo e tenho otimismo que a gente consiga reverter esse quadro.

Entre os ministérios que o senhor tem parceria e trabalho conjunto está Meio Ambiente. Que parcerias estão sendo discutidas com a ministra Marina Silva?

Nesse primeiro mês, duas questões importantes que dizem respeito a prazos que não podíamos deixar de cumprir passam por uma decisão da ministra Marina. Uma delas, a questão do peixe Pintado. Existe o período de defeso que se estendia até 31 de janeiro, e havia uma recomendação do de preservação do Pintado. O Ibama concluiu que a pesca não colocava em risco a preservação dessa espécie de peixe, mas era necessário que a ministra Marina Silva colocasse esse parecer no Diário Oficial até o dia 31 de janeiro passado, para que, ao final do período de defeso, os pescadores pudessem voltar a viver da pesca e a gente conseguiu.

Deve ter sido bastante comemorado pelos pescadores...

Foi uma repercussão muito boa. Já a cota de atum que o Brasil pode pescar, do ponto de vista internacional, dependia também da chancela da ministra Marina. Eu tive uma alegria muito grande e ela nos deu o aval. Quando fui deputado federal e presidente da Comissão do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, área de célebres embates entre ambientalistas e ruralistas, Marina era ministra e nos entendemos. Então, é um privilégio voltar a trabalhar com Marina. Nós temos interface com agricultura, com a ciência e tecnologia, com o meio ambiente, com relações exteriores, então, há uma certa transversalidade nas políticas da pesca e da aquicultura.

O ministro José Múcio (Defesa) disse que seu cobertor orçamentário é curto e o seu deve ser pior, porque se trata de um Ministério recriado. Estou certo?

Estou tentando minimizar isso, porque essa pasta era uma secretaria nacional no âmbito do Ministério da Agricultura e Pecuária. O orçamento destinado era algo em torno de R$ 19 milhões e já conseguimos avançar para R$ 300 milhões. Vamos levar algum tempo na dependência daquilo que nós chamamos de ministério-mãe, que no nosso caso é o da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Mas desafios foram feitos para serem vencidos.

Diferente de Lula, que entregou ministérios a praticamente todos os partidos da base dele, em Pernambuco a governadora quer fazer um governo sem compartilhamento com partidos aliados. Pela sua experiência, isso pode dar certo? Se governa sem fazer política?

Eu acho que cada governador tem seu estilo, suas opções. O presidente Bolsonaro fez essa opção. Ele dizia, e eu era líder do partido no primeiro ano, que não governaria com partidos. Não convidou no primeiro momento nenhum partido para participar do governo. A governadora Raquel está fazendo essa opção. Eu digo muito que se a governadora Raquel depender de oração e de torcida, ela vai ser uma grande governadora, porque eu rezo por ela todos os dias e torço para que ela dê certo. Se ela der certo, Pernambuco vai dar certo. E a gente tem que torcer por isso.

Mas o senhor diz que reza por ela, por que acha que sem política a coisa não anda?

Não. Eu acho que a política ajuda. Acho que democracia pressupõe política. Acho que ouvir, envolver, responsabilizar. A gente às vezes ganha uma eleição com uma base relativamente pequena, foi até o que aconteceu com a governadora Raquel. Do ponto de vista formal, não me lembro quais eram os partidos, mas eram muito poucos. O presidente Bolsonaro também ganhou dessa forma. Mas na hora de governar, eu acho que quando a gente pode envolver, responsabilizar, fazer as pessoas sentirem que o nosso desafio é delas também, a gente leva uma vantagem grande. Mas eu respeito. A governadora eleita foi Raquel. Ela pensa de forma diferente, ela tem um estilo próprio, ela vai governar dessa forma e eu repito, torço e rezo para que dê certo.

Mas há governo bem-sucedido sem compartilhamento político?

Cada caso é um caso. Se eu fosse governador, nas minhas prioridades estariam envolver os parceiros de primeira hora e agregar atores políticos, que mesmo que não estivessem comigo no palanque, estariam ao meu lado para governar. Na hora da política, você vai para o embate político. Na hora do calor, da discussão, da promessa, de ter adversário, é aquele o quadro. Mas quando você governa, quem perdeu vai para a oposição. E quem fica com a bomba chiando no colo é quem ganhou a eleição. E se você tiver juízo, no meu ponto de vista, você sai distensionando o ambiente, sai somando apoios, envolvendo atores e quanto representativo, mais plural for o governo, repito, no meu ponto de vista, maior chance de sucesso ele tem.

Como conhecedor, tendo sido vereador e deputado estadual, a Assembleia Legislativa funciona sem o toma lá, dá cá?

Acho que ela não funciona sem uma relação estreita e respeitosa. Vou te dar um exemplo. O presidente Lula, na primeira reunião dos ministérios, foi pedagógico, disse a todos os ministros que esse era um governo que tinha orgulho de ser um governo da política. Ele disse que era um político, da política e um dos que acreditam que em uma democracia a gente só resolve as questões através da política. Ele recomendou explicitamente que os ministros abrissem suas agendas nas terças, quartas e quintas de manhã para o Congresso Nacional, recebendo deputados e senadores. Façam o Congresso entender que essa relação é a prioridade do seu governo. Eu acho que ele está certo.

Mas Lula é um animal político...

Muito e que já enfrentou quadro de grandes dificuldades, grandes desafios, e superou. Acho que nós nunca tivemos um presidente tão experiente, tão maduro. E não é uma experiência acadêmica não, mas de viver, de sentir.