ATOS ANTIDEMOCRÁTICOS

Torres diz à PF que não foi informado sobre 'ações radicais' de golpistas

Em depoimento, ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal afirmou ter recebido apenas a informação de que ocorreriam manifestações em 8 de janeiro

Anderson Torres durante cerimônia de posse - Isaac Amorim/MJSP

O ex-secretário de Segurança do Distrito Federal Anderson Torres, em depoimento à Polícia Federal, negou ter sido informado sobre ‘ações radicais’ de golpistas na Praça dos Três Poderes, ocorridas em 8 de janeiro. Dois dias antes dos ataques, porém, a pasta comandada por ele havia recebido um relatório de inteligência informando que um ataque estava sendo planejado.

"Que indago se recebeu informações ou informes de inteligência sobre as manifestações que ocorriam no dia 8/01, respondeu que recebeu essas informações no dia 06/01, pela manhã, que essas informações não indicavam ações radicais”, diz um trecho do depoimento de Torres.

Como O Globo mostrou, na tarde de 6 de janeiro, a Secretaria de Estado de Segurança do Distrito Federal recebeu o relatório de inteligência. O documento indicava que entre os golpistas havia "adultos em boa condição física" e "Colecionadores, Atiradores e Caçadores (CACs)" que faziam postagens ameaçando "sitiar Brasília".

Os alertas constam no relatório entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF) por Ricardo Cappelli, que atuou como interventor federal na secretária de segurança na capital. “As divulgações apresentam-se de forma alarmante, dada a afirmação de que a "tomada de poder" ocorreria, principalmente, com a invasão do Congresso Nacional”, aponta o documento elaborado pelo interventor.

Em seu depoimento à PF, Anderson Torres também tentou justificar por que viajou de férias para os Estados Unidos dias antes dos ataques aos Três Poderes. Ele alegou que, antes de embarcar, verificou que todos os protocolos de segurança para conter eventuais manifestações estariam prontos para serem cumpridos. "Se a realidade daquele momento indicasse a existência probabilidade de atos extremistas, como as que ocorreram, não teria viajado", disse, em depoimento. Torres foi preso no dia 14 desde mês após desembarcar dos Estados Unidos.

No depoimento, Anderson Torres disse que, numa reunião ocorrida no dia 6, foi tratada a retirada total do acampamento de frente do Quartel-General do Exército. Segundo ele, a partir de 12 de dezembro, quando bolsonaristas radicais tentaram invadir o prédio da Polícia Federal e incendiar carros e ônibus em Brasília, passou a considerar que os atos poderiam ser foco de criminosos.

Torres relatou ainda que, durante a mesma reunião, que reuniu órgãos como a Polícia Militar e a Secretaria de Desenvolvimento Social do Distrito Federal, foram elaborados os chamados Protocolo de Ações Integradas (PAI), que citavam, por exemplo, o planejamento e execução de ações de policiamento ostensivo visando manter a preservar a ordem pública durante a realização do evento.

Ao Globo , o advogado Rodrigo Roca, negou ter havido contradição no depoimento prestado por Anderson Torres em relação ao recebimento de informações sobre o risco de invasões aos prédios públicos:

— Até o momento da assinatura do Protocolo de Ações Integradas (PAI), não havia nenhum comunicado nesse sentido. Na ocasião, foram acionados os órgãos e forças policiais e definidas todas as medidas necessárias para conter as manifestações, como o isolamento da Praça dos Três Poderes. O relatório em questão só foi enviado após a sua saída para as férias, que foram devidamente comunicadas previamente, tendo sido disparado e difundido para as providências.