Saúde pública da Inglaterra vive maior greve de sua história
Apesar do caos causado no país pelas paralisações, 59% dos britânicos apoiam a greve do pessoal de Enfermagem
De enfermeiras a motoristas de ambulância, os profissionais da saúde pública inglesa fazem, nesta segunda-feira (6), a maior greve de sua história, em um novo capítulo dos protestos que abalam o Reino Unido, em um contexto de disparada do custo de vida.
Estamos disponíveis 24 horas por dia, 7 dias por semana. Estamos nos matando, fazendo o trabalho de três pessoas, disse a jovem enfermeira Victoria Busk, em um andar de Traumatologia do Hospital Queen Elizabeth, em Birmingham, centro da Inglaterra, entre os manifestantes que denunciam a sobrecarga de trabalho por falta de pessoal. Adoro meu trabalho, fazer a diferença com os pacientes. Mas não consigo me imaginar fazendo isso até os 60 anos, acrescenta ela.
Segundo uma pesquisa recente da YouGov, um terço das enfermeiras e parteiras do setor público inglês preferiria ter outra profissão.
O sindicato Royal College of Nursing (RCN) diz que vários aumentos abaixo da inflação desde 2010 fizeram os salários dos profissionais da categoria registrar perdas de 20% em termos reais. Hoje, alguns pulam refeições para poder alimentar seus filhos, e um em cada quatro hospitais na Inglaterra abriram bancos de alimentos para seus funcionários.
Essa "má remuneração" contribui para que haja 47 mil cargos vagos de enfermagem, denuncia.
Todos os setores
Em um Reino Unido onde a inflação supera os 10% há meses, a tensão social continua a crescer em todos os setores. Professores – do Ensino Fundamental ao Superior –, ferroviários e funcionários de vários ministérios fazem, em 1º de fevereiro, a maior greve do país em mais de 11 anos.
Embora cada setor tenha suas reivindicações específicas, todos se unem na demanda por aumentos salariais.
Como "último recurso" e lamentando o transtorno causado às dezenas de milhares de pacientes que tiveram cirurgias e consultas médicas canceladas, o RCN convocou em dezembro a primeira paralisação nacional de dois dias em seus 106 anos de história.
Com cartazes dizendo "chegou a hora de pagar os profissionais de enfermagem de forma justa", foram organizados protestos do lado de fora dos principais hospitais públicos.
As negociações com o governo conservador de Rishi Sunak foram, no entanto, malsucedidas. Seu único resultado foram mais dois dias de greve em janeiro, e outros dois, nesta segunda e terça-feiras (6 e 7), na Inglaterra e no País de Gales.
A paralisação de hoje coincide com uma ação na Inglaterra do pessoal de ambulâncias – incluindo motoristas, paramédicos e telefonistas –, resultando na maior greve da saúde pública na Inglaterra desde a criação do Serviço Nacional de Saúde (NHS, na sigla em inglês), em 1948.
Em um momento de pico de doenças sazonais, como a gripe, aumenta a pressão sobre hospitais ainda sobrecarregados pelos atrasos de tratamento acumulados durante a pandemia da Covid-19 e sufocados por anos pelo subfinanciamento.
Limitar o direito de greve
Segundo as autoridades de saúde, a greve desses profissionais de dezembro levou ao cancelamento de 30 mil operações e consultas, e a de janeiro, levou ao adiamento de 4.500 operações e de mais 25 mil consultas.
Apesar do caos causado no país pelas paralisações, 59% dos britânicos apoiam a greve do pessoal de Enfermagem; 43%, a dos professores; e 36%, a dos ferroviários, segundo uma pesquisa da Public First publicada pelo site Politico na última quarta-feira (1º).
O executivo conservador de Sunak afirma que as demandas salariais não podem ser financiadas com os parcos recursos públicos após a pandemia e que seriam "contraproducentes" em seu esforço para controlar a disparada inflacionária.
O governador do Banco da Inglaterra advertiu que, se tentarmos combater a inflação com aumentos salariais elevados, a situação só vai piorar, e a população não estará melhor, afirmou o secretário de Saúde, Steve Barclay, em um comunicado.
Em vez disso, o governo busca limitar o direito de greve com um projeto de lei que impõe serviços mínimos em setores-chave como saúde, transporte e educação.
À medida que a aprovação do texto avança no Parlamento, cresce também a tensão com alguns sindicatos que não parecem dispostos a recuar em suas reivindicações.