Saúde

Casos de reação a pomadas capilares crescem no Recife; saiba os riscos para a visão

Anvisa interditou uso de diferentes marcas do produto

Pacientes apresentam sintomas na visão após uso de pomada para o cabelo - Cortesia

O que deveria ser apenas diversão tem gerado transtornos para diversos foliões que buscam se produzir para as prévias carnavalescas. Nos últimos dias, aumentaram os relatos de pessoas que têm apresentado reações a pomadas modeladoras capilares, comumente usadas para fazer penteados como tranças e baby hair.

De domingo até esta segunda-feira (6) pela manhã,  por exemplo, a Fundação Altino Ventura (FAV), especializada em saúde ocular, registrou 69 casos de pacientes da Região Metropolitana do Recife que tiveram a visão afetada após usarem o produto.

“A preocupação da gente é real com esse aumento de casos. Não é normal apresentar um quantitativo de 69 casos em um dia de atendimento só na emergência da Fundação. E a gente realmente está tentando conscientizar a população para que se tenha um cuidado maior, até para evitar danos maiores para todo mundo, para que possa aproveitar o Carnaval tranquilo sem nenhum desconforto. (...) A primeira orientação que a gente tem é tentar afastar o uso dessas pomadas”, comentou o oftalmologista Kayo Espósito, vice-diretor médico-administrativo da FAV. 

Como explica o especialista, a reação se dá após o produto presente na pomada escorrer pelos fios e entrar em contato com os olhos, o que costuma ocorrer por meio da água (do banho, chuva, piscina, etc.) ou pelo suor, por exemplo. No entanto, ainda não se sabe qual substância específica está causando os sintomas, que vão desde dor, vermelhidão e lacrimejamento, até sensibilidade à luz e ao piscar dos olhos.

“Por se tratar de um trauma químico, é um trauma bastante severo. E a depender da magnitude da lesão e do tempo de exposição, a gente pode ter desde sequelas temporárias, de perda de visão e intensificação desses sintomas, até uma lesão permanente, se essa lesão for sustentada e muito grande, podendo chegar a uma pacificação da córnea com necessidade de transplante, caso essa lesão seja muito extensa”, destacou Espósito. 

“A depender da magnitude da lesão, pode levar a cegueira. Não é o padrão que a gente está observando, o que a gente observa é que o paciente tem uma lesão corneana tipo ceratite, até uma conjuntivite química também, que com o tratamento tende a recuperar. Mas se a lesão for muito severa, com muito tempo de exposição, você pode, sim, lesar a córnea e ter uma perda irreversível”, completou.

Desde janeiro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), apresentou novas medidas de fiscalização, que incluem, a depender do produto, o recolhimento, interdição cautelar, suspensão e proibição da comercialização, distribuição, fabricação e uso das pomadas modeladoras. As restrições atingem 16 produtos de nove empresas fabricantes - veja a lista completa no site da Anvisa.

Uso de pomadas modeladoras

O Procon-PE, inclusive, orienta os consumidores a denunciarem pontos de venda das pomadas por meio de ligação (0800.282.1512), e-mail (denuncia@procon.pe.gov.br) ou Whatsapp (81 3181-7000).

Cabeleireiro há 15 anos, Félix Oliveira defende que as pessoas evitem usar o produto neste momento, indicando a substituição por gel capilar, por exemplo. “A precaução é não usar, essa é a mais indicada”, disse, alertando que ao utilizar o produto se faz necessário atentar para a quantidade, evitando o uso excessivo no couro cabeludo.

Ele reforça, ainda, que apesar de os penteados com tranças ou baby hair não se desmancharem com a água, diferentemente de penteados com escovação e spray, é preciso ter cuidado para que o produto não escorra para os olhos. “Nenhum produto químico é compatível com o olho”, pontuou.

A psicóloga Karolina Guedes, 29, utilizou pomada modeladora em um salão de beleza ao fazer um penteado no último sábado para curtir um bloco de Carnaval. “O meu olho ficou bem vermelho. No primeiro momento, eu achei que tinha sido algum produto da maquiagem. Eu estava enxergando as coisas muito turvas. Pelas dores que eu senti, não usaria esse produto novamente”, disse. 

A estudante Mariana Lopes, 20, também passou pelo mesmo transtorno. “Na hora do bloco começou a chover e eu senti muita ardência. Em casa, no outro dia, eu estava com a visão totalmente turva, não estava enxergando nada, como se fosse uma fumaça branca na minha frente”, contou.