Ex-assessor de Bolsonaro demitido por usar avião da FAB a anti-MST: os novos indicados de Tarcísio
Governador de SP ampliou o espaço de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro em sua gestão
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, tem ampliado o espaço de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro em sua gestão. A mais recente nomeação, nesta terça-feira(7), foi do advogado José Vicente Santini, ex-assessor de Bolsonaro que foi demitido por usar um avião da Força Aérea Brasileira (FAB). Na semana passada, Tarcísio também escolheu o bolsonarista raiz e anti-MST Guilherme Piai para comandar a Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp), que cuida da política agrária do estado.
Santini é amigo dos filhos do ex-presidente, sobretudo o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), e ocupou cargos de prestígio no governo federal, como a Secretaria Nacional de Justiça. O advogado foi demitido do cargo de secretário-adjunto da Casa Civil em janeiro de 2020, após usar um jatinho da FAB para participar de uma reunião do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. O episódio irritou Bolsonaro, que disse que outros ministros fizeram o mesmo trajeto em voo comercial.
O advogado, porém, retornou ao governo em fevereiro de 2021, nomeado para a função de secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência. Cinco meses depois, se tornou secretário de Justiça.
Além de ser próximo do clã Bolsonaro, o advogado é irmão do tenente da Polícia Militar da reserva Nelson Santini, que atuou como chefe de segurança da campanha de Tarcísio.
Como mostrou o Globo, Santini foi convidado por Tarcísio para ser chefe do escritório de Representação do Estado em Brasília, cargo que tem a missão de articular as relações do governo de São Paulo com o Palácio do Planalto, ministérios, Congresso e órgãos federais, além do Judiciário. A nomeação no Diário Oficial desta terça-feira é para o cargo de "Assessor Especial do Governador II".
Outra nomeação que agradou à base bolsonarista foi de Guilherme Piai, escolhido no último dia 30 para ser diretor-executivo da Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp), órgão que está vinculado à Secretaria da Justiça e Cidadania e é responsável pelo planejamento e execução das políticas agrária e fundiária do estado de São Paulo.
Piai foi candidato a deputado federal pelo Republicanos no ano passado, mas não se elegeu e ficou como suplente. Aliado de Bolsonaro, ele é produtor rural, construtor e sócio da GF3 incorporações imobiliárias. Nas redes sociais, Piai publica fotos portando armas e faz críticas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Ele se diz "a favor da vida", da "legítima defesa da família e patrimônio" e "contra a destruição dos valores da família".
Uma das publicações contra o MST foi apagada do Facebook de Piai, mas divulgada pelo jornal O Foco. Nela, o produtor afirma que O "MST/FNL não são bem-vindos aqui". Escreve ainda:
"Sequer a esquerda assumiu o poder e invasores de propriedades privadas novamente começam a aparecer com o intuito de violar garantias constitucionais. É importante sempre lembrarmos o histórico de prejuízos causados por esses grupos financiados e apoiados pela esquerda, tudo visando o prejuízo econômico de proprietários, empresários e trabalhadores." O post data de novembro do ano passado.
Uma das funções da Fundação Itesp é mediar conflitos fundiários. O site do órgão disse que ele "prima pela manutenção do diálogo com os movimentos sociais e com proprietários ou detentores dos imóveis rurais em disputa" e ressalta que já foram entregues mais de "45.000 títulos de propriedade no programa de Regularização Fundiária Urbana e Rural".
A Fundação Itesp é responsável por 140 assentamentos numa área total de 153.539,52 hectares. Uma de suas atribuições é prestar assistência técnica a 1.445 famílias quilombolas, em 14 municípios nas regiões do Vale do Ribeira, Vale do Paraíba e de Sorocaba.
No domingo, o MST publicou uma nota de repúdio à nomeação do produtor. Disse que Piai tem interesses ligados ao setor do agronegócio na região do Pontal do Paranapanema, é uma figura política de extrema-direita e declaradamente contra a reforma agrária:
"Piai é um dos principais difamadores dos movimentos sociais de luta pela terra na região, como cotidianamente expressa em suas redes sociais por meio de discursos de ódio contra o MST e suas lutas sociais", diz a nota do MST.
Procurado, o governo ainda não respondeu. O GLOBO entrou em contato com Piai pelo telefone que consta em seu perfil no Facebook, mas não recebeu uma resposta até a publicação da reportagem.
A lista de bolsonaristas no governo não se restringe a Santini e Piai. O cunhado de Bolsonaro, Diego Torres Dourado, é assessor especial do governador. No secretariado a principal representante do bolsonarismo é a secretária da Mulher, Sonaira Fernandes, vereadora de São Paulo que trabalhou com Eduardo Bolsonaro, e Guilherme Derrite, que chefia a pasta de Segurança Pública.