FAZENDA

Banco Central indica que cortes na taxa de juros vão demorar mais que o previsto

Menção ao pacote fiscal de Haddad é vista como aceno ao governo

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Na avaliação de analistas e casas do mercado financeiro, a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) corroborou o tom mais duro contido no anúncio da decisão sobre juros, quando a Selic foi mantida no patamar de 13,75%.

A mensagem clara é de que os cortes na taxa serão postergados e que a trajetória anterior projetada pelo Banco Central (BC), de reduções a partir do terceiro trimestre deste ano, não é suficiente para fazer com que a inflação caminhe em direção à meta no horizonte desejado pelo banco.

A menção ao pacote fiscal apresentado pelo Ministério da Economia, no mês passado, pode até ser vista como um gesto de conciliação de parte dos dirigentes ao governo após as críticas recentes do presidente Lula (PT) e do próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao anúncio do Copom

Mas o Comitê primeiro vai querer ver o pacote sendo oficializado e posto em prática para avaliar se as medidas irão conseguir gerar alívio no déficit primário, contribuindo assim, para o combate à inflação e ancoragem das expectativas.

- Foi na mesma linha do anúncio, no sentido de que a preocupação é grande com o fato das expectativas de inflação estarem nesse processo de elevação, não somente no horizonte que o Banco Central olha para definir sua política monetária, que é o segundo semestre de 2024, mas também para prazos mais longos – disse o superintendente de pesquisa macroeconômica do Santander, Mauricio Oreng.

Na visão de Oreng, os cortes não devem começar antes do quarto trimestre. Ele não descarta um eventual aumento de juros, já que o BC em sua comunicação nunca deu o ciclo por encerrado, mas não enxerga esse cenário como o mais provável.

- Parece ser mais uma questão de esticar esse horizonte com o juro atual, que já é uma postura bem contracionista de política monetária.

Tom duro permaneceu
Ao longo do texto, os membros do Copom deram sinalizações hawkish (favorável à retirada de estímulos) sobre a condução da política monetária, como na parte em que os dirigentes avaliam cenários alternativos para a taxa de juro neutro, aquela que nem estimula nem contrai a economia.

Hoje, a autoridade monetária usa nos seus modelos uma taxa de juros neutra de juros de 4%.

- É um elemento hawkish, assim como é a comunicação desse plano de voo. É uma mensagem complementar ao comunicado, no qual ele reafirma que a trajetória anterior, quando o juro começava a cair em setembro, não leva até onde ele quer chegar, que é atingir a meta entre o segundo e terceiro trimestre de 2024 – destaca o especialista do Santander.

Ver para crer
Por outro lado, o Comitê reconheceu que a execução do pacote apresentado pelo Ministério da Fazenda no mês passado pode, caso executado, atenuar o risco fiscal.

Na ata, alguns membros do Copom afirmam que o mercado financeiro está projetando um déficit primário inferior do que aquele previsto no Orçamento de 2023. Mas o documento ressalta que ao calcular o impacto da política fiscal na inflação, foram considerados os números oficiais aprovados em lei, mantendo a sua metodologia padrão de análise.

O mercado financeiro projeta um déficit primário de 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2023, segundo o último boletim Focus. Até que o pacote de Haddad seja efetivamente posto em prática, o Copom deve manter o déficit maior nas suas contas.

Vale destacar também que as medidas propostas no pacote de Haddad vão mais na linha de aumentar a arrecadação do que reduzir gastos.

Oreng, do Santander, ressalta que a ata é o veículo de comunicação que dá chance para a autoridade monetária detalhar mais suas decisões.

- O Banco Central vai assumir o que está aprovado e em legislação. Você ainda tem um desenho, pela composição do Orçamento, com aumento de gastos. Se você mantém o mesmo resultado fiscal, mas você aumenta o gasto e a receita na mesma magnitude, isso é expansionista para a demanda.

O economista do ASA Investments, Leonardo Costa, destaca que a questão fiscal continua sendo um grande ponto de incerteza da política monetária e que os efeitos das medidas incluídas no pacote da Economia demoram um tempo para fazer efeitos. O Asa não contempla em seu cenário corte de juros para este ano.

- É uma tentativa de ter mais contato com o governo atual e tentar entender melhor como as coisas vão funcionar no médio prazo. Tivemos a aprovação da PEC no ano passado e a conclusão do mercado é de um déficit próximo a 1%. Ainda é um déficit considerado grande a quando olhamos para os anos seguintes, a dinâmica de dívida segue preocupante.

Em relatório sobre o comunicado, os economistas do Itaú destacaram que, apesar da citação ao pacote fiscal, o BC manteve a postura “firme” do comunicado sobre as expectativas de inflação e a respeito do papel institucional do BC de cumprir as metas estabelecidas. O banco segue vendo riscos alistas para sua projeção de Selic a 12,50% ao final do ano.

“Apesar do gesto de conciliação, acreditamos que as projeções e sinalizações apresentadas em ambos os documentos podem ser consistentes com cortes de juros ainda mais tardios”, escreveram.