Brasília

Exército vai apurar conduta de militar que cantou Hino Nacional durante invasão ao Planalto

Sindicância mira na atuação de um sargento durante os ataques do dia 8 de janeiro

Atos golpistas - Brazilian Presidency / AFP

O Exército abriu uma sindicância para apurar a conduta de um sargento do Batalhão da Guarda Presidencial (BGP) que teria se juntado aos invasores do Palácio do Planalto para cantar o Hino Nacional durante os atos golpistas no dia 8 de janeiro. O procedimento foi instaurado no início deste mês com base em imagens gravadas dentro da sede de Executivo.

Embora o vídeo que está sendo analisado exponha apenas um militar, há a suspeita de que outros integrantes da Força também tenha engrossado o coro dos radicais. A sindicância tem um prazo de trinta dias para ser concluída.

Chamado a prestar esclarecimentos, o sargento, cujo nome está mantido em sigilo, alegou que cantou o hino para tentar se aproximar e ganhar a confiança dos invasores. O Globo apurou que o militar alegou não ter sido o único a aderir à suposta estratégia.

A avaliação preliminar de oficiais envolvidos na investigação é que o comportamento não configura crime, mas uma “conduta inadequada”. Por isso, o comandante militar do Planalto, general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, determinou a abertura de uma sindicância à parte de um Inquérito Policial Militar (IPM) que já está em curso.

O IPM foi aberto no dia 12 de janeiro pelo Comando Militar do Planalto (CMP) para apurar a atuação do Batalhão da Guarda Presidencial (BGP) dentro do Planalto. O comandante do BGP, tenente-coronel Paulo Jorge Fernandes da Hora, foi flagrado por câmeras de segurança discutindo com policias militares, enquanto vândalos destruíam o Palácio do Planalto.

Aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva suspeitam de que ele tenha tido uma postura leniente durante os ataques golpistas. O ministro da Defesa, José Múcio, deixou explícitas as suspeitas em torno da atuação de Fernandes e disse que ele será punido, caso fique comprovada a suposta leniência.

— Esse próprio vídeo eu entreguei, e está sendo investigado. Uns dizem que ele estava reclamando de procedimento, outros dizem que ele era culpado. A minha preocupação, e a do presidente também, é que nós não partamos para punir quem não merece, mas punir quem merece. Se for provado, ele será condenado — afirmou Múcio no dia a 24 de janeiro em entrevista à GloboNews.

Saída antecipada
O IPM apura a conduta do tenente-coronel Fernandes, que já deixou o comando do BGP. A saída dele era prevista para fevereiro, mas foi antecipada para o dia 27 de janeiro diante da pressão do Planalto. A mudança ocorreu após a demissão do então comandante do Exército, general Júlio Cèsar Arruda no dia 21 de janeiro. Ele foi substituído pelo general Tomás Miguel Ribeiro Paiva.

O IPM analisa imagens das câmeras do Planalto e vídeos avulsos gravados dentro do prédio durante a invasão. Também foram anexadas ao procedimento troca de mensagens por WhatsApp e por e-mail sobre a dispensa e o acionamento às pressas das tropas no domingo. A investigação do Exército está reconstruindo uma linha do tempo em torno dos atos de 8 de janeiro.

No dia 6, o acampamento de bolsonaristas em frente ao quartel contava com 200 pessoas, segundo militares. No dia seguinte, véspera dos atos golpistas, porém, Brasília passou a receber ônibus fretados de diversas partes do país por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

De acordo com essa versão, os veículos foram proibidos de estacionar no Setor Militar Urbano (SMU) e, após o desembarque dos passageiros, foram orientados para seguirem para a Granja do Torto. Apesar do aumento de manifestantes na capital federal, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) dispensou reforço do BGP 20 horas antes dos ataques à sede do Executivo no domingo. Com a medida, o GSI prescindiu de um pelotão composto por 36 militares que estava à disposição, segundo revelou o jornal “O Estado de S.Paulo.”