Biden tentará levantar o ânimo dos americanos com discurso no Congresso
Presidente quer convencer o país a reelegê-lo em 2024, apesar da idade avançada
Joe Biden, um otimista por natureza, vai destacar suas conquistas econômicas nesta terça-feira (7), em seu discurso sobre o Estado da União no Congresso, para convencer o país a reelegê-lo em 2024, apesar da idade avançada - se ele finalmente decidir se lançar a uma nova corrida pela Casa Branca.
O presidente democrata, de 80 anos, não é um grande orador, nem tem o carisma de alguns de seus antecessores, mas demonstrou que sabe ganhar a simpatia de muitos americanos com seu otimismo e seu humor mais moderado.
Biden dirá que há "progressos" a fazer, mas, acima de tudo, a sociedade tem que "ser otimista", afirmou seu principal assessor econômico, Brian Deese.
Milhões de telespectadores costumam acompanhar ao vivo este discurso que começará às 21h locais (23h em Brasília), uma tradição política nos Estados Unidos que, como sempre, é marcada por ovações dos governistas - os democratas - e rostos consternados no campo oposto, neste caso, os republicanos.
As coisas mudaram bastante nos últimos 12 meses, algumas a favor do presidente e outras contra.
A inflação, motivo de insônia para muitas famílias, está diminuindo (em torno de 6%) e a taxa de desemprego é a mais baixa em mais de 50 anos, dois indicadores que Biden vai ressaltar.
"Quero falar com o povo americano e informá-lo sobre o estado das coisas", reconheceu o presidente democrata.
- Muito otimista -
Será, portanto, uma "conversa com o povo", para "se conectar" com ele, declarou Biden nesta terça à emissora MSNBC, no momento em que todos os seus conselheiros dão por certo que ele concorrerá à reeleição.
"Este é um presidente incrivelmente otimista", afirmou a secretária de Imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre.
A economia vai bem e Biden quer provar que isto se deve, em grande medida, a seus colossais programas de investimentos e às reformas iniciadas desde que chegou à Casa Branca, em janeiro de 2021.
Além disso, Biden poderá se vangloriar de liderar a ajuda à Ucrânia na guerra contra a Rússia. Ele o fará pela segunda vez, diante da embaixadora ucraniana, Oksana Markarova, que, no ano passado, recebeu aplausos de pé dos presentes.
A China, sua prioridade de política internacional como rival estratégico, está lhe dando mais dores de cabeça do que de costume. Pouco antes do discurso, estava previsto que o secretário de Estado viajasse a Pequim, mas a visita foi suspensa depois que Washington detectou um balão chinês sobrevoando o território americano.
A Casa Branca mandou derrubá-lo dias depois, alegando que o objeto estava destinado à espionagem, um episódio que tensionou as relações entre ambas as potências.
- Violência policial -
No âmbito interno, tampouco faltam problemas para o líder democrata. A violência policial é um dos temas que ele abordará na presença dos pais de Tyre Nichols, um afro-americano morto pela polícia.
A posse de armas será outro assunto sobre o qual ele provavelmente vai falar, na presença de Brandon Tsay, considerado um "herói" por desarmar o autor de um ataque a tiros mortal contra a comunidade asiática na Califórnia.
Entre os convidados da primeira-dama, Jill Biden, para o discurso, destaca-se o cantor Bono, como ativista da luta contra a aids, uma mulher que quase morreu de um aborto espontâneo porque os médicos se negaram a atendê-la por medo de infringir uma lei que restringe a interrupção da gravidez, o pai de uma vítima de overdose de fentanil, um casal de lésbicas e sobreviventes do câncer, um tema doloroso para o próprio presidente, que perdeu um filho para a doença.
Há um ano, quando fez seu primeiro discurso ao Congresso, seu partido controlava a Câmara dos Representantes, mas agora está em minoria. Os republicanos retomaram o controle da Casa nas eleições de meio de mandato, em novembro.
E declararam uma guerra política contra os democratas. Por ora, se negam a elevar o teto da dívida para evitar que a maior economia mundial caia em um "default" catastrófico, e empreenderam um embate parlamentar sobre temas como a crise migratória na fronteira com o México.
Contudo, o novo "speaker" conservador da Câmara, Kevin McCarthy, que se sentará logo atrás de Biden, garantiu que "respeita o lado contrário" e descartou rasgar o discurso em pedaços como fez sua antecessora, a democrata Nancy Pelosi, em 2020, com o ex-presidente republicano Donald Trump.
"O Estado da União é mais frágil e as famílias americanas estão sofrendo por culpa de Joe Biden", afirmou a presidente do Comitê Nacional Republicano, Ronna McDaniel. "Tudo o que vamos ouvir de Biden são desculpas", opinou.
De qualquer forma, o presidente falará sabendo que as pesquisas lhe são desfavoráveis.
Segundo um levantamento do Washington Post/ABC, 62% acreditam que Biden "não fez muito" ou fez "quase nada". Além disso, entre os eleitores democratas, 38% querem outro candidato para 2024.
Mas é pouco provável que Biden se deixe abalar. Ele está acostumado. As previsões apontavam que o Partido Democrata sofreria uma derrota descomunal nas eleições de novembro, o que não aconteceu.